43 anos após morte de Herzog, 137 jornalistas foram agredidos no período eleitoral

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Tortura. Repressão. Silêncio. Reticências…. Há 43 anos sob um estado autoritário em que opiniões divergentes não tinham espaço, um jornalista foi morto. Tornando-se mais um entre tantas outras vítimas. Vladimir Herzog, jornalista da TV Cultura, foi morto por agentes do Estado, durante uma sessão de tortura. Essa tentativa de silenciamento do movimento contra ditadura serviu de gatilho para fortalecer ainda mais o movimento que viria derrubar a repressão. Herzog se tornou um símbolo de luta. Sua voz ecoou. Mas a violência, não. Segundo a Abraji, ao longo da corrida eleitoral somaram-se 137 casos de agressões físicas, verbais e virtuais contra jornalistas.

 O medo ganha ainda espaço e voz. A liberdade de expressão vem constantemente atacada, assim como a liberdade de imprensa e outros direitos básicos do ser humano. Onde não há a voz da imprensa, há uma sociedade silenciada e um realidade inventada. 43 anos após sua morte vivemos tempos em que discursos extremistas e pró ditadura ganham força. Há uma negação inclusive das memórias da ditadura. Ainda hoje exemplos de ataques a liberdade de imprensa são vistos mundo afora. Jornalistas são mortos. Ameaçados por dizer o que precisa ser dito. A cambaleante liberdade de imprensa tenta resistir em tempos de fake news propagados pelo whatsapp e no facebook.

Quem foi Herzog

Neste mês, em que a morte brutal do jornalista completa 43 anos, ele lutava por um estado democrático num país onde cresceu. O judeu Vladimir Herzog veio ainda criança da Croácia para o Brasil com sua família. Eram tempos de perseguição, tempos de 2ª guerra mundial. Vlado cresceu aqui. Naturalizou-se. Lutou.

No dia 24 de outubro 1975, o jornalista foi prestar esclarecimentos sobre a sua ligação com o Partido Comunista do Brasil. Seguiu até o Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), comandado por Ustra.

No dia seguinte Vladimir Herzog estava morto. Numa tentativa de dissimular um suicídio oficiais divulgaram uma foto do jornalista enforcado com um cinto. Como pés a altura do chão e testemunhos de jornalistas presos no mesmo período tudo foi desmascarado. Apenas em 1978 a União foi condenada pela morte de Herzog. Somente em 1996, já em tempos de democracia, a família foi indenizada. O certidão de óbito levou mais 15 anos para ser retificada. Caso encerrado. Arquivado. Ninguém foi responsabilizado. Anistia.

A história se repete com constantes golpes e ameaças a diversidade de existências, de ideias e de expressão. Discursos de ódio ao diferente ganham gritos no país em que a democracia mal passou dos 30. As feridas de um sistema autoritário ainda estão abertas. Famílias continuam sem respostas sobre o que de fato aconteceu com seus familiares. 

Jornalistas pelo mundo

Pelo mundo, os dados são alarmantes. em 15 anos foram ao todo 1035 profissionais mortos por simplesmente exercer a sua função. O Brasil é segundo país que mais mata jornalistas na América Latina, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras. Chegou a estar na sétima colocação no mundo, em 2017. Nesse mesmo ano, ao redor do mundo 65 jornalistas foram mortos, 30 destes estavam em zonas de paz e 626 foram presos.

Só na ditadura militar brasileira foram 25 jornalistas mortos ou desaparecidos, segundo o relatório da Comissão da Verdade. Esse número representa quase 40% do número de jornalistas mortos no mundo inteiro durante o ano de 2017. A liberdade de imprensa continua sendo um direito fundamental para a manutenção de um estado democrático.

Enquanto as memórias da morte de Herzog continuam vivas, novos jornalistas são mortos e ameaçados para levar o direito pela verdade, aos mesmos que gritam contra direitos fundamentais democráticos. Numa sociedade silenciada, sem liberdade de imprensa, perde-se a noção do que é real e do que é inventado.

Por Larissa Calixto

  

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