Henrique Jesus entrou no Jovem de Expressão em 2017 como aluno de fotografia e audiovisual. Hoje é instrutor da oficina de introdução audiovisual. Morador de Samambaia, Henrique conheceu o projeto através de um amigo com quem tinha um coletivo chamado “Referência de favela” que tinha o objetivo de produzir eventos culturais periféricos.

“A gente buscou se capacitar dentro do coletivo pra tá fazendo esse projeto acontecer. Eu fiz o curso de fotografia e audiovisual, cada um se especializou em uma coisa “, diz o instrutor da oficina de audiovisual.
Após entrar no JEX, o professor percebeu que não é apenas um ambiente de ensino educacional, e sim de convivência, onde se aprende a viver e respeitar o próximo, principalmente por ser um lugar de muita diversidade. Se tornar professor foi um diferencial para Henrique Jesus.
“Pra mim, fazer parte e hoje me tornar professor é muito daora porque eu tive dentro da sala de aula, eu sei como é que era tá ali como aluno e hoje em dia eu consigo aplicar uma metodologia que eu consigo dialogar com o aluno em uma linguagem que conecta mais com o aluno, ensinar da forma que eu aprendi”, afirma ele.
Um projeto social na Ceilândia Norte tem transformado a rotina de jovens de 18 a 29 anos pelo caminho da arte. O Jovem de Expressão é uma iniciativa do Instituto CNP Brasil, em parceria com a Rede Urbana de Ações Socioculturais (Ruas). Fundada há mais de 15 anos para promover a saúde de jovens entre 18 a 29 anos. Localizado em Ceilândia Norte- DF, o programa atrai jovens periféricos de forma gratuita para a realização de atividades como ações de terapia comunitária, prevenção à violência, ao crime e ao uso de drogas como objetivo de práticas saudáveis e empreendedoras.
Os profissionais buscam mostrar para os jovens que há como aproveitar a arte ali produzida de forma profissionalizante. No caso do JEX, como é chamado o programa, são abordadas atividades voltadas à cultura, como dança, fotografia, teatro e música.
“A partir de uma pesquisa que foi feita em relação à juventude no DF, e a partir do resultado dessa pesquisa demonstrava que o índice de vulnerabilidade na juventude era muito alto na Ceilândia”, afirma Rayane Soares de 31 anos, pedagoga, mestranda em políticas públicas na juventude e coordenadora do projeto.

Um dos maiores incentivos do JEX é a democratização do acesso e incentivo à cultura. Todos os cidadão de uma sociedade tem o direito de acesso à cultura, mas infelizmente o Brasil possui baixos investimentos culturais na educação, principalmente com as desigualdades sociais. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, destaca que 10% dos mais ricos do país são os responsáveis por cerca de 40% do consumo cultural no Brasil.
Gisele Vitória, de 20 anos e moradora da Ceilândia há três anos, diz que conheceu o projeto pelas redes sociais e se interessou pela oficina de fotografia que estavam oferecendo. Ela destaca que para aqueles que não têm acesso a universidade e cursos particulares é uma grande oportunidade.
Apesar desse fator, existem políticas que buscam diminuir essa distância da democratização do acesso e facilitam a acessibilidade. Um exemplo é o ID – Jovem, um vale-cultura que beneficia os jovens para aquisição de produtos e serviços culturais.
Atividades culturais do JEX
Yoga
De acordo com uma pesquisa realizada pela revista Exame, Yoga é um exercício que conecta a mente e o corpo humano, auxiliando na ansiedade, dores no corpo e stress. A maior característica é a concentração do indivíduo durante o exercício, o que faz com que a pessoa esteja no presente, esvaziando a mente de problemas externos.
Aulas são oferecidas de forma gratuita na praça do cidadão, onde acontece o projeto. Realizado pela professora Samanta Serrano, às 10h toda sexta-feira, sendo necessário apenas levar seus pertences. Apesar de ser gratuito, os alunos podem contribuir com qualquer valor de forma voluntária.
Na história, a dança do ventre tem origem no Antigo Egito, em rituais, cultos religiosos, em que as mulheres dançavam para reverenciar deusas. Com uma característica bem conhecida, que é a forma de mexer os quadris, essa dança também reverencia a fertilidade e a celebração da vida.
O JEX oferece às terças 19h30, aulas de dança do ventre com a professora Stefane, também de forma gratuita.

Na área da dança também se destaca a dança urbana, com surgimento em 1929 nos Estados Unidos quando houve a queda da bolsa de valores e a grande crise econômica. Com isso, muitos trabalhadores começaram a realizar performances nas ruas. Tendo como características movimentos fortes, sincronizados harmoniosos, rápidos, simétricos ou assimétricos, fazendo uso das pernas, cabeça e ombros seguindo as batidas mais fortes da música.
Para quem gosta de danças sincronizadas com músicas dos anos 90, o charme dance é o ideal, conhecido principalmente por seus arranjos e melodia. Oferecido pelo programa, as aulas são promovidas pelo Cia in the hood, todas as sextas no período da noite com um valor de trinta reais.
Psicodrama
Psicodrama é uma forma de terapia que aborda temas do cotidiano, mas retratado no teatro. Seu principal objetivo é resgatar a essência de cada ser humano, ou seja, ajudar cada um a lidar com questões pessoais de forma mais expressiva e não prejudicial.
Essa é uma das técnicas do programa para ajudar os jovens da periferia do DF. As temáticas são trabalhadas por meio do método socionômico chamado de Sociodrama. Esse método estabelece o trabalho de temas protagônicos grupais, que podem ser pré estabelecidos ou que emergem do próprio grupo.
Rolezãozinho no Jovem de Expressão e Sexta da Juventude
Esses eventos foram realizados para que jovens se reunissem para apreciar a música e a dança de forma divertida com direito a com dj’s. Assim como uma comemoração especial que aconteceu no dia internacional da juventude, com intuito de promover a importância da criptografia e o movimento Hip-Hop.
Um dos pontos mais famosos do projeto Jovem de Expressão é a galeria Risoflora. A primeira galeria de artes da Ceilândia, lá, as pessoas podem se expressar e ser criativa o quanto quiserem. É um lugar com ação, experimentação da sua arte e para a formação de artistas na Praça do cidadão.

Saúde mental
Áreas periféricas enfrentam frequentemente desafios como os altos índices de violência, discriminação por conta da situação socioeconômica, falta de acesso aos recursos de saúde e educação. Esses fatores contribuem para um ambiente hostil, afetando a saúde mental daqueles que moram nessas comunidades. Entretanto, apesar das dificuldades, as regiões periféricas possuem redes de apoio que desempenham um papel fundamental a respeito do bem estar emocional dos moradores.
Uma dessas redes de apoio é o JEX. As rodas de terapia comunitária nesse projeto reúnem jovens de diferentes contextos de violência e para que possam expressar suas vozes e compartilhar experiências. Esses encontros funcionam como espaços seguros para que os jovens discutam suas questões sociais, desenvolvam projetos criativos e criem uma capacidade de enfrentar os desafios que passam diariamente.
Yasmin Moreira trabalha no projeto há quase dois anos como psicóloga e coordenadora das rodas de terapia, chamadas de “Fala Jovem”. Com o trabalho realizado nessas oficinas, entende-se que os jovens devem estar preparados não só para o mercado de trabalho, mas também para a vida, garantindo que estejam bem e que tenham o mínimo de saúde mental para que lidem com o contexto em que estão inseridos.

“A gente trabalha entendendo as demandas que o território tem, que os jovens trazem pra gente, e uma demanda que a gente percebeu ser muito importante era o atendimento clínico, mas o atendimento clínico de urgência.”
As reuniões acontecem às quartas-feiras, das 14h às 17h, e os outros tipos de atendimentos também estão dentro da grade com as rodas de terapia comunitárias.
Confira o documentário sobre o projeto Jovem de Expressão:
Por Julia Neves e Valentina Lisboa
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira, Gilberto Costa e Katrine Boaventura