Elida Ramirez é jornalista há 20 anos e sempre quis trabalhar com a comunicação comunitária. Durante a pandemia, começou a perceber que a mídia tradicional não representa ou trata de temas de genuino interesse da periferia. “As orientações que são passadas pelo poder público e pela própria imprensa não consideram algumas questões cotidianas. Como você vai pedir para alguém lavar a mão se ele não tem água? Como falar para a pessoa ficar em casa em isolamento social se ela não tem casa? Falar sobre álcool em gel se a pessoa não tem o que comer?”. Essas eram perguntas que a profissional se fazia quando terminava de assistir ao jornal. Ela entendia que não estavam respondidas para essas pessoas.
Foi desse incômodo que nasceu o jornal ambulante “Cê viu isso?”. Ainda na primeira etapa que é de captação de recursos, Elida explicou que a ideia é que a comunidade da Pedreira Prado Lopes, mais antiga favela de Belo Horizonte, forneça informação voltada para a própria comunidade. “ Nós vamos fornecer assessoria técnica para ensinar as pessoas a produzirem notícias, e essas notícias vão ter, em primeiro, momento, o foco na pandemia. Vamos remunerar as pessoas através de bolsas para os moradores da comunidade, para que eles mesmos consigam apurar e produzir as notícias. Esse jornal vai ser pequeno, vai ter entre cinco e dez minutos, vai ser veiculado em carro som ou qualquer outro som, porque a ideia é que ele esteja nos becos mesmo das favelas”, disse Elida.
Junto a lideranças comunitárias, a jornalista teve reuniões com a comunidade e descobriu que as pessoas queriam ter mais acesso a informações, e que eles queriam estar envolvidos nas discussões sobre o ambiente que os cerca. “O nosso projeto atende uma demanda popular de mobilizar a informação a serviço comunitário. Vamos começar com pouca gente porque temos pouco dinheiro. Nós queremos remunerar todo mundo. Eu acredito que, com esse conceito do boca a boca, de um contando para o outro, com o auxílio das redes sociais, nós vamos conseguir envolver as pessoas”, explicou Elida.
Para o projeto poder começar de vez, a jornalista criou uma vaquinha on-line a fim de que as pessoas tenham canais para ajuda com doações. “A gente não tinha dinheiro nenhum, mas não abrimos mão do projeto. Então, fizemos um orçamento mínimo. Nesse orçamento a nossa prioridade é ter pelo menos três colaboradores pagando as bolsas mensais para eles e pagar o carro de som, isso dá pra gente fazer”, disse.
“O conceito global do projeto é instrumentalizar moradores da periferia para produzir conteúdo em que eles estejam representados, a medida que eles vão apurando e produzindo as notícias, eles vão estar também trabalhando em relação a própria identidade, estão colocando sua própria ideia do mundo. É um grande convite para toda sociedade para que participe da ampliação das vozes.” resumiu Elida.
Confira a entrevista completa com a jornalista
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Por Vitoria Von Bentzeen
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira