Consciência Negra: escritora aposentada escreve livro que trata de racismo na infância

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“Preta de Greve e as Sete Reivindicações” é um livro escrito pela pedagoga aposentada Zenilda Vilarins Cardozo. O livro provoca reflexão e discussão acerca de temas como autoestima negra, racismo na infância e falta de representatividade da mulher negra. Direcionado para crianças acima de 6 anos, o livro foi inspirado na literatura de cordel e traz um enredo com rimas. 

A protagonista da história é Pérola Preta, uma garota negra que descobre o racismo quando entra na escola  e se depara com discriminações a respeito de suas características físicas. Após viver essas situações ofensivas, Pérola recorre a um espelho que ganhou de presente da sua tia, o espelho, então,  a consola e ressalta as suas qualidades

Confira abaixo trechos da entrevista com a escritora do livro Zenilda Vilarins

Imagem: Redes Sociais

Como surgiu a ideia do livro e com qual intuito a senhora escreveu?

Zenilda Vilarins- O texto foi criado em 2019. Mas o tema já vinha sendo gestado há muito tempo, a princípio pelos episódios vivenciados ao longo da vida e depois pela história de vida de outras mulheres negras que conheci.

Com o olhar mais apurado, muitas pesquisas e observações, resolvi falar sobre uma literatura real, um texto que não encontrei na infância e tão pouco nos anos de exercício do magistério. O livro é o retrato real do cotidiano de muitas meninas negras que conhecem na prática o conceito de racismo e falta de representatividade da mulher negra em espaços de poder. 

É o primeiro livro que você idealizou?

É o meu primeiro livro publicado. Tenho um segundo livro que é a sequência da primeira história: Preta Ainda de Greve (Lei Maria da Penha), nessa aventura Preta agora adolescente levanta-se mais uma vez em protesto pelo fim da violência contra a mulher.

Tenho outros livros na fila para publicação, optei por uma literatura que contempla pautas sociais urgentes como: racismo, violência contra a mulher, LGBTfobia, terceira idade, abuso e exploração sexual infantil, a importância da leitura para ver melhor.

Na sua visão, qual a importância de livros direcionados para pessoas pretas? 

Acredito que a literatura voltada para essa pauta traz o assunto à tona, o coloca em destaque para reflexão, provoca debate. Crianças negras precisam saber sua história real, seus direitos, mecanismos de resistência e reivindicação.

Passamos muitos anos reféns de textos escolares que apagavam a história dos nossos ancestrais, de suas origem, cultura, crenças e força. A leitura é o melhor caminho para a construção de subjetividades, impressões sobre pautas diversas, sobre como você se lê e de como é lido pela sociedade e traz encorajamento para iniciar mudanças significativas, internas e externas, é o tripé do livro; Preta de Greve e as Sete Reivindicações.

Qual a importância da representatividade em livros e em outros locais?  Você sente falta de livros que tratem da representatividade negra? 

Os livros que trazem representatividade são importantes porque começamos a nos enxergar de maneira positiva nesses espaços e consequentemente descobrimos possibilidades. Esses livros precisam ser conhecidos, discutidos.

Ainda vivemos episódios lamentáveis de violência por questões raciais, ou discursos equivocados de democracia racial, se não nos informamos sobre, sequer conseguiremos compreender que estamos sendo vítimas de um crime ou mesmo conseguiremos entender que temos direitos. Por isso precisamos ler e conversar.

No livro a personagem começa a enfrentar desafios e racismo quando entra na escola, na sua opinião escolas podem ser locais hostis para crianças pretas?

Infelizmente a escola pode ser um lugar hostil, passei 34 anos em ambiente escolar, vivenciei e vi situações de racismo, desde aluna até o exercício do magistério, falas e atitudes racistas são reproduzidas cotidianamente nesses ambientes mas é importante ressaltar que a escola é o melhor lugar para se fazer essa reflexão..

A pauta precisa estar presente no projeto Político Pedagógico, nos 200 dias letivos, é urgente a conscientização da educação antirracista no chão da escola.

Por Luana Nogueira
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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