Mostrar a realidade nas cadeias: esse é o objetivo da jovem Luana, de 22, que documenta nas redes sociais sua rotina como esposa de detento.
Lu Yamashita, como é conhecida entre as “cunhadas”, diz que sofre constantemente com a opressão e enfrenta diversos obstáculos para visitar o marido, Gleidson Fernandes, de 26 anos.
“Tem muitas meninas que me dão força para continuar porque elas precisam de mim, sou como uma voz de apoio para as visitantes”, afirma.
Lu conta que faz visitas na unidade prisional desde 2019, mas antes não postava nada sobre isso. Inspirada por outras mulheres no TikTok, ela resolveu que também produziria conteúdo digital.
Logo no primeiro vídeo postado na rede, Lu obteve 250 mil visualizações. A partir disso, ela não parou mais de postar, começou a bombar também no Instagram (@l_yamashitaofc) e hoje conta com 24 mil seguidores.
“Eu sabia que existiam as cunhadas, mas não que existiam milhares de cunhadas. Todo dia chegava uma com uma dúvida diferente me mandando mensagem, e me incentivando, foi ali que eu perdi o medo de colocar as caras”, afirma.
Por meio de postagens como “caixinhas de perguntas”, vídeos de humor e explicativos, Lu interage com suas seguidoras e orienta quem não tem familiaridade com a dinâmica do sistema carcerário.
“Eu mesma não entendia nada de cadeia. Fiquei muito nervosa na minha primeira visita. Foi tudo muito novo”, diz a influenciadora. Ela garante que o apoio e a explicação das “cunhadas” a ajudaram nesse processo.
“Tudo vale a pena quando a gente ama”
Além das grades, 12 horas de viagem separam Lu de Gleidson. Ela mora em Diadema, enquanto ele está recluso em Dracena (a 680 km), também em São Paulo. Quinzenalmente, ela monta um “jumbo” para visitas ao marido, preparando as refeições que ele mais gosta, além de levar roupas e produtos de higiene.
Lu e o marido estavam separados quando Gleidson foi preso, em 2019. Ele estava em um estado de saúde muito delicado, pois tinha sido baleado quatro vezes, duas no pulmão e duas no rim após um assalto.
Antes de poder vê-lo, a influenciadora passou por diversas burocracias, conta que foram vários dias para pegar o papel de autorização. Além disso, ela relata que só pôde ficar com ele por 10 minutos, com dois policiais na sala. Depois da alta no hospital, foram mais 3 meses sem visitar o marido, por problemas de documentação para tirar a carteirinha de visitante.
“Não é porque eu posto que eu apoio o crime do meu marido. Eu sofro com isso. O que mais me dói são os comentários de outras pessoas desejando o mal, porque a gente não tem culpa, não é uma opção estar passando por isso, é uma consequência de um erro dele passado e ele ‘tá’ pagando por isso. Quase perdi o amor da minha vida por causa de um crime. Então, eu não apoio [o crime], eu só dou uma voz e espaço para as mulheres visitantes no sistema carcerário”, diz Lu Yamashita no TikTok.
Haters
Os comentários negativos se tornaram comuns nas redes de Lu Yamashita. Para persistir, ela conta com o apoio do marido. Apesar de ter medo, Gleidson fala para Lu que enxerga que ela está crescendo e obtendo sucesso nas redes.
A influenciadora diz que pretende mostrar o lado real do sistema, o que ninguém vê. Segundo ela, são recebidos muitos julgamentos, considerando-a como “bandida”, sem reconhecer que ela trabalha honestamente. Além do trabalho com a internet, Lu também é operadora de loja.
“Crítica sempre vai ter de todo lado, independente do seu conteúdo, as pessoas sempre vão tentar te fazer mal, tentar fazer você desistir. Eu não me abalo por isso, pelo contrário, eu me sinto mais forte por estar vendo comentários desse tipo, porque se estão falando mal é porque você está na direção certa”, afirma Lu.
Em meio aos comentários negativos de haters, o que mais chama a atenção da influenciadora são as interações positivas das seguidoras com suas postagens.
Lu Yamashita diz que continuará a divulgar seus conteúdos e tornar sua conta um lugar de apoio, identificação e união entre mulheres que passam pelo mesmo que ela todos os dias.
“Não é nada fácil, todo mundo critica sem saber a dor que a gente passa, opressão, humilhação, mas, tudo vale a pena quando a gente ama”.
Leia mais
Por Maria Tereza Castro
Supervisão: Luiz Claudio Ferreira
