No vai e vem de motos e bicicletas, os entregadores de comida não param. Sob risco e sem direitos trabalhistas, eles não fazem pausas e são submetidos a rotinas longas e estressantes, que agora tem um componente a mais: expostos ao coronavírus. Transportam pedidos de compras de mercado, padaria, farmácia, enquanto torcem por gorjetas a cada viagem ou pelo menos que nenhum cliente reclame. Mas, apesar das novas dificuldades, continuam trabalhando para manter o sustento próprio e de suas famílias.
A exposição ao contágio por estar indo aos lugares fez com que a dinâmica da relação entre os entregadores e os clientes mudasse. Marcos William de Oliveira Lima trabalha com entregas há 7 anos. Pelo mecanismo de aplicativo de entrega de comida, está há pouco mais de um ano. A interação também mudou. “Clientes nos tratam como se nós carregamos o vírus”, lamentou o entregador de 36 anos. Ainda segundo Marcos, é notável o aumento de pessoas trabalhando na área, e que isso vem afetando a remuneração. “As taxas continuam as mesmas, mas aumentou o número de entregadores. Todo mundo que tem moto e está sem trabalhar foi para o aplicativo”.
Apesar de morar sozinho, Marcos trabalha para poder pagar a pensão dos dois filhos e o aluguel. Fazendo entregas a partir das 10h até o final do dia, às vezes, se sente explorado pela empresa. “Temos que aceitar corrida por valor baixo, porque eles não pagam o deslocamento. Exemplo: você está na Asa Norte e te chamam no Sudoeste para fazer uma coleta em um restaurante e entregar no Cruzeiro por R$6. E, se não fazermos a entrega, eles nos mandam menos serviço”.
Cuidados
Por outro lado, Fernando Pereira Santos, de 31 anos, está tendo uma percepção diferente sobre o momento. Para ele, os ganhos aumentaram e a relação com os clientes até melhorou. “Ficaram bem mais atenciosos e com maior precaução sobre a situação que estamos vivendo”. Além disso, Fernando citou a ajuda das empresas quanto a conscientização e aos cuidados através do aplicativo, com mensagens de prevenção à Covid-19. Assim como Anderson Alves Silva, de 42 anos, que elogiou a empresa para que trabalha porque lhe forneceram uma máscara para usar todos os dias. Além da demanda e relação com clientes, houve também a mudança no comportamento dos próprios entregadores quanto aos cuidados. Yan Américo, de 21 anos, trabalha com entrega de comida por aplicativo há 8 meses e percebeu a mudança. “Toda hora é álcool em gel e usando máscara”. A empresa para a qual Yan trabalha também vem ajudando nesses cuidados, fornecendo ajuda com plano de saúde que dá descontos em consultas, além de distribuição de EPIs (equipamentos de proteção individual) básicos, como máscara e álcool em gel.
Com 12 horas diárias de trabalho, e todos os dias da semana, o jovem não chega a se sentir explorado no trabalho. Ganhando cerca R$800 mensais como retorno, Yan não tem o dinheiro apenas para si. “Sustento outras pessoas também, mas não sobra um real para gastar comigo”. Mesmo morando em Ceilândia Sul, vai até Águas Claras em busca de maior movimento. Com tanto trabalho e exposição aos perigos do vírus na rua, ainda assim não tem nenhum direito trabalhista em relação à empresa que trabalha.
Além disso, Yan entrou com o pedido do auxílio emergencial do governo e, mesmo sendo muito essencial para ele, ainda não tinha sido contemplado. Enquanto isso, segue com sua bicicleta fazendo entregas e buscando manter o sustento de si mesmo e da família. Com os equipamentos de proteção básicos entregues gratuitamente, garante não tirar a máscara e manter os cuidados, e apesar do aumento no trabalho, acha importante o crescimento da demanda, o que ajuda com sua renda.
Por Arthur Ribeiro, Bernardo Guerra, Gabriela Bernardes e Rayssa Loreen
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira