O estudante venezuelano Salomón David, de 29 anos, reescreve na Vila Aricanduva, zona leste de São Paulo, uma história de recomeço. Ele aprende a falar em português e ao mesmo se sustentar. Não é possível voltar para casa, em Caracas, a cerca de 6,1 mil quilômetros de distância. Em São Paulo, sonha cursar mestrado na área de idiomas e tradução, mas teve os planos de vida frustrados pela crise. “Escolhi o Brasil por ter boas universidades, pelo meu objetivo de fazer um mestrado no futuro e pela proximidade geográfica. Também tenho interesse na cultura brasileira, especialmente pela sua literatura.”
Hoje, vive de dar aulas particulares de espanhol e inglês no valor de R$ 35 a hora (ele acha o valor baixo em relação à média de preço em São Paulo). Mas ele quer emprego fixo.
O maior desafio foi a adaptação à cultura brasileira, “desde o idioma até em aprender a distinguir pratos”. O que teve menos afinidade foi com a burocracia, principalmente para conseguir a emissão dos documentos necessários para solicitar o status como refugiado.
O percurso
Da saída de Caracas para chegar ao Brasil, um dos principais medos foi a de ter sido parado por autoridades, principalmente as venezuelanas no tratamento com emigrantes, “como com cobranças de propina e extorsões”. Apesar do medo constante, não teve dificuldades em entrar no país.
“Voltaria somente se todo o regime socialista mudasse. (…) Mesmo assim, seria apenas uma visita familiar ou de férias. Não tenho planos de voltar a ter residência permanente no meu país”. O estudante ainda teme a possibilidade não conseguir sair de seu país caso retorne, além do medo da perseguição política e de sofrer recrutamento forçado.
Pedidos de refúgio
Desde o início da crise política e econômica da Venezuela que o fluxo de imigrantes deste país no Brasil aumentou drasticamente, chegando a resultar em um aumento de 3.000% no número de pedidos de refúgio em território brasileiro entre os anos de 2015 e 2016, segundo a Polícia Federal. A maioria desses imigrantes vêm fugindo do desemprego, da fome e da perseguição política aos opositores do governo.
Atualmente, segundo a prefeitura de Boa Vista (RR), a capital de 330 mil habitantes já conta com mais de 40 mil refugiados, vindos principalmente do município de Pacaraima, no mesmo estado. Em fevereiro de 2018, o ex-ministro da Defesa e atual Ministro da Segurança Pública Raul Jungmann reconheceu a crise de refugiados na fronteira.
A maioria desses imigrantes foge da crise econômica que se estabeleceu na Venezuela desde 2013, e gerando altos índices de inflação (que em janeiro de 2018 chegaram aos 6000% anuais segundo o portal Trading Economics) e de desemprego (que hoje chegam aos 7,7% ao mês).
Por Lucas Mayon Neiva Flores e Victor Varetto Flores
Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira