Nem sempre Daniel Vieira pensou em ser cabeleireiro, o jovem de 23 anos deixou a faculdade de administração há quatro anos pela metade após desenvolver ansiedade.
Sem saber o que fazer, encontrou nos cortes de cabelo um refúgio. “Vi que era algo terapêutico para mim”.
A partir disso, o cabeleireiro soube qual seria o rumo de sua vida: aumentar a autoestima das pessoas e expressar sua veia artística por meio dos cortes. Assim nasceu o Espaço 88.
Remédio
“Não fazia ideia que eu seria cabeleireiro, eu sempre tive um sonho de ser um artista famoso com a música, mas isso era muito difícil. Quando sai do meu antigo trabalho, onde recebia ligações e cobrava as pessoas, todo dia um novo xingamento era direcionado a mim. Tive que fazer terapia, tomar remédio, porque desenvolvi muita ansiedade. Já não aguentava mais, coloquei na minha cabeça que eu tinha que fazer algo que eu gostasse, e além de tudo, trabalhar para mim mesmo”, conta Daniel.
Hoje a barbearia é composta por cinco colaboradores, Daniel, Dave, Gustavo, Rafa e Ruan, que trabalham de maneira independente.
Cada um é uma empresa que aluga a cadeira de corte e juntos se associam ao Espaço 88. A única regra a ser cumprida é o Procedimento Operacional Padronizado (POP), cujo consiste em seguir o mesmo padrão de qualidade do corte. Fora isso, o intuito da empresa é não gerar vínculo empregatício, a cobrança por horário e uniforme é inexistente no ambiente.
“A barbearia mudou minha vida. Hoje, se eu quiser, posso ser presente ao meu filho em qualquer momento importante, preciso apenas deixar meus clientes avisados e fazer o que eu bem entender, sem cobrança nenhuma”, explica Daniel
Como tudo começou?
A intimidade com a tesoura vem de família, o jovem empreendedor cresceu no salão de belezas do pai, mas nunca havia pensado em trabalhar com isto.
O destino fez com que um cliente de seu pai que estava atrasado para uma reunião o convencesse de cortar o cabelo dele pois não tinham funcionários livres. Como Daniel não era profissional, combinou de fazer o trabalho de graça, mas o resultado foi tão bom que recebeu uma gratificação.
“No momento em que ele me pagou eu tive um pensamento, fiz 30 reais em 30 minutos, antes eu ganhava isso em um dia todo. Foi assim que eu comecei a cortar cabelo, a partir disso tive a ideia de seguir nesta carreira”, diz o jovem.
Como nem tudo são flores, o início foi difícil para o cabeleireiro, a meta de fazer sua própria barbearia parecia impossível sozinho. Depois de vários contatos providenciados por seu pai, todas tentativas de integração falharam.
Até que um dia, Daniel soube de um conhecido que também estava iniciando no ramo e o chamou para a barbearia. A identificação de Dave com ele foi instantânea, os jovens, agora juntos, percorreram altos e baixos na jornada do reconhecimento até chegarem onde estão.
Altos e baixos
As quintas, sextas e sábados estavam reservadas para o foco na evolução dos dois rapazes, ambos não tinham clientes por serem iniciantes, então almejavam aprender juntos e fazer bons cortes que os outros olhassem e perguntassem de onde vinham.
“O mais importante para nossa prosperidade foi o trabalho bem feito, o boca a boca do cliente com o mundo exterior influenciou tudo o que somos hoje, desde sempre chega alguém e fala que nos conheceu por indicação”, explica Daniel.
As primeiras semanas foram muito difíceis, a ideia de desistir que pairava na cabeça dos dois amigos era cada vez maior, mas nunca se tornou realidade. Com muita determinação, movimentaram as mídias sociais da empresa e passavam a tarde distribuindo cartões de merchandise, os primeiros clientes começaram a aparecer e a partir daí, não desandou mais.
“Antigamente eu tinha em mente que se eu abrisse uma empresa, com dois meses de perseverança o lucro já chegaria, mas não é assim, tudo que foi comprado parcelado só se pagou depois de muito tempo e suor”, complementa o jovem.
Lutas raciais e LGBTQIA+
As minorias são recorrentemente vítimas de preconceito em todos lugares que frequentam, isto não é diferente nas barbearias. A filosofia mais importante do grupo de jovens cabeleireiros é abrir as portas para estas minorias, a comunidade LGBTQIA+ e os negros que sofrem por situações de preconceito racial.
“Muitos cabeleireiros nem têm os cortes afros no portfólio, não sabem às classificações e características dos fios”, lamenta Daniel
Espaço 88
O nome da empresa engloba o termo “espaço” por ideia dos criadores de não se privarem à apenas mais uma barbearia, a ideia é que seja um ambiente de relações, onde as pessoas se sintam em casa. O número “88”, que tem síntese na numerologia, significa prosperidade, em resumo planos que deram certo, aquele sentimento de que está tudo bem. Assim é como eles se sentiram depois dos cortes de cabelo entrarem em sua vida.
Por Diller Abreu
Fotos: Divulgação
Supervisão do professor Luiz Claudio Ferreira