Especialistas em saúde mental em Brasília avaliaram que o Brasil vive um processo de retrocessos em relação às práticas de atendimento nos últimos cinco anos. “Desde 2015, estamos vivenciando retrocessos gigantescos, como o fortalecimento de comunidades terapêuticas, da inserção de hospitais psiquiátricos na rede e não inserindo as residências terapêuticas”, afirma a psicóloga Marina Thuane, pesquisadora e ativista na luta antimanicomial.
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Para ela, as políticas implantadas desde a gestão do presidente Michel Temer e também de Jair Bolsonaro evidenciam ameaças frequentes ao serviço prestado pelo sistema público. Pesquisadoras explicam que há ainda mais de 100 hospitais psiquiátricos em funcionamento.
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Para a psicóloga Sara Figueiredo, atualmente existem modelos que poderiam servir de réplicas de exclusão como na primeira metade do século 20, com a expansão de manicômios.
“Quando a gente pensa em voltar o atendimento para a sociedade, é necessário pensar em nunca tirar essas pessoas do meio social.”
Marina Thuane defende que a luta deve ser pelo fim de todo tipo de isolamento e violência por instituições totais. “Os manicômios reproduzem as violências que estão na sociedade. Quem está no manicômio, quem está encarcerado são pessoas pretas, pobres, mulheres, travestis, que estão sendo isoladas e mortas”
Para a enfermeira Andressa Ferrari, há um replicamento dos modelos antigos nas estruturas atuais de atendimento.
“Os não aceitos na sociedade iam para esses espaços de hospital psiquiátrico e eles viraram colônias, e com a quantidade de pessoas que colocaram lá não havia condição de cuidado para elas. Assim, começam as negligências”.
Sara Figueiredo considera que o manicômio é o “cotidiano” dessas pessoas, que são depositadas nesses estabelecimentos. “Todos os dias elas vivem o manicômio. As pessoas têm seus nomes retirados e são chamadas por números. Os hospitais vendem a imagem de que as pessoas estão indo para o spa”.
Além disso, as especialistas afirmam que a luta antimanicomial não é isolada, já que envolve outras questões da sociedade. Segundo Marina Thuane, o manicômio atualiza as opressões que estão presentes na comunidade. Para Sara Figueiredo, o dia 18 de maio da uma visibilidade maior para a causa, mas a luta por uma sociedade mais justa acontece todos os dias.
Arte ligada à saúde mental
Como forma de dar voz aos indivíduos e expressar os sentimentos, a arte é bastante utilizada nas questões de saúde mental. Segundo Sara Figueiredo, a arte é usada em todos os momentos e que tudo que vem a partir dela é uma revolução.
“Tudo que a gente usa da arte é revolucionário, é pra denunciar”, diz.
Além disso, ela completa dizendo que a arte é um cuidado e traz o sujeito como protagonista da própria vida.
Marina Thuane confirma que a arte é uma instrumento de cuidado e forma de expressão.
“É uma amplificação da voz da luta”
Ela comenta, ainda, sobre projetos no Distrito Federal, o “Atravessa a porta“, realizado no Caps do Paranoá, voltado para a produção de filmes e oficinas de teatro com frequentadores e usuários dos centros.
Outro projeto é o bloco “Rivotrio”, que acontece em todo carnaval e amplifica o discurso da Luta Antimanicomial.
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Fotos: Mídia NINJA
Por Rayssa Loreen
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira