Em novembro, o Brasil vai sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). O maior evento do mundo sobre o clima será realizado em Belém (PA), com a presença de representantes de 196 países.
Para a diplomata brasileira Dandara Lima, que foi convidada a atuar na Secretaria de Clima, durante a presidência da COP, o evento no País precisará tratar de temas não resolvidos em edições anteriores.
“A COP é imensa e tem temas mandatados — ou seja, herdamos pautas de COP anteriores que precisam ser resolvidas agora. Não temos controle total sobre o que será discutido. O que o Brasil tem feito é tentar garantir que as NDCs (contribuições nacionalmente determinadas) dos países estejam alinhadas com o Acordo de Paris — ou seja, com o limite de aquecimento de 1,5°C”.
Ela diz que não é possível forçar pautas com países. “O Acordo de Paris permite que cada um defina sua meta. Com a saída anunciada dos EUA do Acordo, que será efetivada no próximo ano, estamos criando estratégias políticas para evitar que eles bloqueiem decisões ainda neste ano.”
Soluções práticas
A COP30 não será apenas um encontro para falas simbólicas. O evento trata da criação de regras internacionais e acordos que precisam ser aprovados por todos os 196 países participantes. A diplomata afirma que o processo exige articulação e resistência.
O Brasil quer avançar na implementação de soluções, além das negociações. A proposta é adotar estratégias mais ágeis e flexíveis, com base em testes práticos. Segundo a diplomata do Ministério das Relações Exteriores, o Brasil prioriza quatro áreas: Energia, Florestas, Natureza e Oceanos.
Resultados
A prioridade do Brasil em 2025 é fazer a COP dar certo e entregar resultados. Mas, em termos de áreas, os focos são principalmente: Energia, Florestas, Natureza e Oceanos. Mas ainda há outros temas como: Litigância climática, Adaptação e Financiamento climático.
Indígenas também estão sendo preparados para participar das negociações. Um curso no Instituto Rio Branco oferece formação específica para quem vai integrar a delegação brasileira. A intenção é incluir quem vive os efeitos das mudanças climáticas no centro das decisões.

Conflitos
A conferência acontece em um cenário internacional conturbado. Conflitos como a escalada entre Israel e Irã, tensões na Ucrânia e disputas comerciais entre potências dificultam acordos multilaterais. Ainda assim, o Brasil tenta se afirmar como referência na agenda ambiental.

COP 30 nos debates do G7
Na última semana, o presidente Lula participou da Cúpula do G7, no Canadá. O evento reuniu líderes das sete maiores economias do mundo, além de convidados de países como Índia, México, Emirados Árabes Unidos e África do Sul. A COP30 foi um dos temas abordados.
O secretário de Clima do Itamaraty, Maurício Lyrio, afirmou que o encontro do G7 funciona como uma antecipação diplomática e técnica dos debates previstos para a COP 30.
Logo na abertura da sessão de trabalho, o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, citou Lula como “chefe da COP30”. O presidente brasileiro aproveitou para reforçar o convite aos líderes para participarem da conferência em Belém. Também falou sobre a necessidade de parcerias na área de segurança energética e uso de tecnologias sustentáveis.
Belém como símbolo político
A escolha de Belém tem grande peso político. A cidade está no coração da Amazônia. A região é alvo de atenção internacional por causa do desmatamento e da preservação ambiental. Para a diplomata brasileira Dandara Lima, que foi convidada a atuar na Secretaria de Clima, durante a presidência da COP, levar a conferência para lá tem um significado importante.
“Belém foi escolhida por uma razão política forte. No discurso dos outros países, a gente escuta muito sobre a Amazônia. Então vem pra cá ver o povo que existe na Amazônia. Ver quem precisa de infraestrutura, de transporte, de saneamento.”

Apesar da importância simbólica, a infraestrutura da cidade preocupa. Faltam grandes hotéis para receber chefes de Estado e as obras seguem em ritmo lento. No entanto, Dandara afirmou que, antes do Brasil, outros países também tiveram problemas de infraestrutura.
“Baku teve problemas de infraestrutura. O Chile teve problemas de infraestrutura. Então, assim, a gente está vendo muito só no ângulo do Brasil. Mas a COP virou um evento tão grande, tão enorme, que eu não sei se um país pequeno teria condição de hospedar um evento dessa magnitude.”
Dandara também afirmou que a Casa Civil, responsável pela logística do evento, possui planos para caso a infraestrutura da capital paraense não atenda a todas as delegações.
“A COP é tão imensa que quem está cuidando da parte logística é a Casa Civil, que criou uma secretaria extraordinária só para cuidar da logística. Se não der certo em Belém, a gente vai ter que, talvez, pegar a cúpula de líderes, levar para o Rio de Janeiro, deixar o restante em Belém. Vamos achar soluções.”
Povos indígenas terão voz
A presidência brasileira quer ampliar a participação de comunidades tradicionais. Está sendo criado o Círculo dos Povos, com coordenação da ministra Sônia Guajajara. O grupo reunirá representantes indígenas, quilombolas e de outras populações locais. A proposta é criar um canal direto com a presidência da COP.
“A função desse círculo é criar um canal direto entre indígenas, quilombolas e a presidência da COP. Estamos muito preocupados em criar todos esses canais para que as demandas cheguem efetivamente à presidência da COP e possam ter uma resolução”.
Além disso, existem outras instâncias dentro da estrutura do regime climático, como a plataforma para povos indígenas, que sempre ocorre antes da COP, e terá uma reunião muito importante em junho para adoção da agenda que será aprovada durante a COP”, afirmou Dandara Lima.
Por Mateus Péres e Ana Clara Mendonça
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira