Mulheres trans lutam por mais visibilidade e inclusão não só no dia da mulher

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A luta constante das mulheres contra a discriminação de gênero em uma sociedade machista, marcada pela desigualdade e preconceito, é ainda mais intensa para mulheres trans que enfrentam, no cotidiano, a dificuldade de combater o preconceito e os desafios impostos pela exclusão social.

Para a jovem artista trans, Zaia Ângelo, de 22 anos, o 8 de março é mais um momento de reflexão sobre o feminicídio e a transfobia, que destroem vidas de mulheres e famílias.

“Independente de sermos mulheres trans ou cis, todas nós enfrentamos o machismo diariamente. Para mim o dia das mulheres representa luta, temos muito ainda a conquistar nessa sociedade machista e cisnormativa”, enfatiza a jovem.

“Sempre fui uma mulher”

A jovem conta que se reconheceu como mulher trans durante um período doloroso de sua vida, marcado por inseguranças.

 “Quando tive meu primeiro contato com pessoas trans, tive certeza de que eu era e sempre fui uma mulher. Acredito que a autoaceitação é o processo mais complicado, mas passei por ele com o apoio da minha mãe e dos meus amigos. Me senti muito feliz, realizada e completa. Já fazem quatro anos que transicionei, e é muito gratificante olhar no espelho e me enxergar”, diz.

Foto: Zaia

Luta por direitos e igualdade

Zaia diz que a sociedade precisa ter noção da importância de se discutir pautas trans e a falta de direitos dessas pessoas.

“Acho que a população ainda não tem noção da importância de se discutir pautas trans. Ainda não temos os mínimos direitos como usar o banheiro na qual nós sentimos mais confortáveis e andar sem medo pelas ruas. É uma realidade muito triste que precisa ser mais discutida.”

Cenário de violência

Um dossiê realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), realizado em janeiro deste ano, revela que 122 pessoas trans e travestis foram assassinadas no Brasil em 2024. O Brasil, pelo 16° ano consecutivo, é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo.

Para a artista, independente de serem mulheres trans ou cisgêneras a luta é a mesma e esse é o significado do dia 8 de março para ela, “Luta”. 

“Para mim o dia das mulheres representa luta. Todos os dias deveriam  ser mais inclusivos não só no dia das mulheres.Sou muito realizada e certa de quem eu sou, agradeço a todas as mulheres trans e travestis que lutaram para eu ter os direitos que eu tenho hoje e espero um futuro ainda melhor e mais próspero para todas nós,” finaliza Zaia.

Representatividade e inclusão

Outra mulher trans, que destaca a necessidade do aumento da representatividade trans no Dia Internacional da Mulher é Clara Gal. Aos 20 anos a estudante de design gráfico, relembra suas primeiras experiências com a data. “No começo da minha transição, me sentia meio perdida. Não era completamente vista como mulher, mas também não era mais vista como homem. Eu sabia que, de alguma forma, fazia parte dessa luta, mas o Dia das Mulheres parecia não ser para mim”.

foto: Clara Gal

Com o tempo, Clara entendeu que esse sentimento era resultado de um estereótipo social que excluía as mulheres trans do dia 8 de março, mas que hoje em dia sua visão havia mudado e passou a enxergar a sua participação na data a partir do início de sua transição

“Antes da transição, quando eu pensava em Dia das Mulheres, eu pensava na minha vó, na minha tia, na minha mãe, nas pessoas fortes que eu vi ao meu redor e que me inspiram a ser mulher até hoje. Hoje, vejo essa data como um símbolo de força, e me sinto feliz por poder me incluir nesse grupo de mulheres poderosas,”comenta Clara.

Outra visão apontada pela estudante é a representatividade das mulheres trans na sociedade e no feminismo. “No início da minha transição, a visibilidade das mulheres trans era muito limitada. Hoje, já vejo uma melhora, mas ainda há muito a ser feito”.

Para ela, a luta feminista deve ser ainda mais inclusiva. “O feminismo precisa representar todas as mulheres, independentemente de sua identidade de gênero. A luta deve abranger mulheres trans, negras, periféricas e de todas as origens, pois a luta por igualdade e direitos é uma só”, defende Clara.

Por Júlia Lopes e Paulo Renato Costa

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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