Cores, fantasias, purpurina, música e liberdade de expressão… Para imigrantes da comunidade LGBTQIAPN+, essa celebração também representa uma experiência cultural única e, ao mesmo tempo, um espaço de acolhimento.
O venezuelano Gabriel*, de 27 anos de idade, profissional de tecnologia de informação, afirma que encontrou em Brasília um novo lar. “Em relação à sexualidade, me sinto totalmente seguro para ser quem sou”, afirma.
Ele entende que se trata de um momento de pertencimento e celebração da sua identidade como um homem gay. Natural do estado de Maracaibo, Gabriel deixou o país em 2018 devido à grave crise econômica e social, acentuada no ano passado, com as eleições presidenciais contestadas internacionalmente.
Inicialmente, o jovem pensou em migrar para o Chile ou o Peru devido à facilidade do idioma. Mas, como já tinha alguns parentes morando em Brasília, decidiu se estabelecer na cidade. “Muita gente evita vir para o Brasil por conta do idioma, mas acabei vindo porque minha família estava aqui”.
Apesar de não ter sido o fator decisivo para migrar, no Brasil, Gabriel pôde viver sua sexualidade livremente. O preconceito e a discriminação contra pessoas LGBTQIAPN+ são problemas graves em seu país natal e ele lembra que, durante sua adolescência, evitava demonstrar afeto publicamente. “Na Venezuela, os olhares discriminatórios eram frequentes. Eu nunca saía de mãos dadas ou beijava na rua”, relata.
Mas há violência…
Desde que chegou ao Brasil, há sete anos, Gabriel participou de algumas edições do Carnaval e da Parada Gay em Brasília. Ele destaca a diversidade e a inclusão de alguns blocos LGBTQIAPN+. “Enquanto homossexual, nos blocos eu me sinto seguro para beijar ou abraçar outra pessoa, para ser livre”.
No entanto, a violência urbana ainda é uma grande preocupação. Gabriel recorda que, logo em seu primeiro carnaval em Brasília, já foi assaltado em um bloco próximo ao Museu da República. Desde então, ele se preocupa com golpes que ocorrem durante as festividades. “Tem gente que tenta flertar para te roubar, para tirar suas coisas. Por isso, a gente precisa ter muito cuidado com as coisas”, alerta.
Pertencimento
Mesmo diante dos desafios, Gabriel sente que o Brasil é um país acolhedor. “Nunca sofri preconceito por ser imigrante. É um povo muito receptivo. Quando descobrem que sou estrangeiro, me recebem com alegria”, compartilha.
A experiência de Gabriel reflete a dualidade do Carnaval – e do país – para muitos imigrantes LGBTQIAPN+: ao mesmo tempo em que a festa representa um espaço de inclusão e liberdade, também exige precauções diante dos riscos de ser furtado.
Ainda assim, ele reconhece o valor da festa para a cultura brasileira e celebra a possibilidade de viver sua identidade de forma plena no Brasil.
“Na Venezuela, não temos nada parecido com o Carnaval do Brasil. A liberdade e a expressão que encontro aqui fazem toda a diferença”, conclui Gabriel.
* O nome do entrevistado foi alterado a pedido dele
Por Danilo Lucena
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira