O coletivo Poéticas da Meia Noite lança o projeto “Vozes e Imagens”, que promove o ensino gratuito de artes cênicas para indígenas e quilombolas, entre os dias 13 a 17 de outubro. O coletivo vai realizar as aulas no Centro Educacional Gisno, na Asa Norte, e na UnB, no campus de Planaltina.
A iniciativa vai dividir o ensino em cinco oficinas, (dramaturgia, corpo, cenografia, direção e produção cultural) onde os alunos poderão escolher até três delas. O projeto foi financiado pela Lei Aldir Blanc.

Dramaturgo, professor e um dos idealizadores do projeto, Tiago Carvalho diz que a iniciativa vai além da formação técnica.
“Não se trata apenas de levar formação técnica, mas de construir campos de diálogo intercultural, nos quais os conhecimentos tradicionais e os saberes contemporâneos possam se encontrar e se potencializar.”
Ele reafirma que um dos objetivos da formação cultural é criar um espaço de escuta, onde os alunos possam usar a arte como forma de resistência e identidade.
“A gente acredita que promover uma formação cultural específica para esses grupos significa criar espaços de escuta, valorização e troca de saberes, onde a arte e a cultura se afirmam como instrumentos de resistência, fortalecimento identitário e autonomia.”
Já uma das orientadoras do curso de cenografia, Fernanda Duarte, conta que um dos desafios do projeto, é mostrar como as artes estão presentes no dia-a-dia dos participantes e de acordo com cada realidade criar uma cena ou apresentação única. “ Um dos nossos objetivos é juntar as nossas práticas das artes cênicas com o dia-a-dia dessas pessoas, e assim criarmos juntos uma apresentação.”

Contar a própria história
Tiago fala que a criação do projeto vem com o objetivo de reconhecer o Brasil como um país pluriétnico e multicultural, e assim dar a oportunidade para as populações indígenas e quilombolas, que constituem a base da identidade cultural brasileira, possam contar a própria história.
“Pensamos que a criação de um projeto de formação cultural voltado para indígenas e quilombolas parte do reconhecimento de que o Brasil é um país pluriétnico e multicultural, mas historicamente marcado por processos de apagamento, exclusão e desigualdade.”
“As populações indígenas e quilombolas carregam saberes ancestrais, modos de vida e expressões artísticas que constituem a base da identidade cultural brasileira, mas que foram silenciados por séculos de colonização e racismo estrutural”, acrescenta o professor.
O dramaturgo afirma que o teatro tem a responsabilidade social de repensar as histórias de vida e o poder de dar voz às pessoas, para que possam contá-las a partir das próprias perspectivas.
“O teatro tem uma responsabilidade social de repensar as histórias de vida. Eu acho isso muito importante, porque, a partir disso, podemos dar voz para que essas pessoas também tomem os seus lugares, tenham os seus espaços e possam contar suas próprias histórias”.
Por Paulo Renato MacCulloch
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira