Religiões de matriz africana celebram divindades dos mares; saiba mais da tradição na BA

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

O dia 2 de fevereiro é reconhecido pelo Dia de Iemanjá, data comemorativa em que são feitas homenagens à Rainha dos Mares.

Em Arraial D’Ajuda, distrito de Porto Seguro (BA), o Babalorixá José Luis Candeias, com apoio da Prefeitura de Porto Seguro, realiza o festejo na praça São Brás reunindo devotos, simpatizantes, moradores locais e turistas. 

Foto: Prefeitura de Porto Seguro

O líder religioso da casa de candomblé Ilê Axé de Xapanã, localizada em Trancoso, conta que a festa começou a ser realizada em 1998 por ele e outro pai de santo da região.

No ano seguinte, começaram a fazer na praça para que todos participassem. Quando o pai de santo faleceu, José deu continuidade à celebração. 

“Em 2005 comecei a vender peixes para um grupo de donos de barracas de praia. Com os lucros consegui dar continuidade à festa. Hoje, vários comerciantes locais contribuem em troca de publicidade”. 

Foto: Prefeitura de Porto Seguro

“Nosso objetivo é identificar os diversos grupos culturais da região e fortalecer a cultura de matriz africana, onde todos aproveitam a festa tornando-a um grande espetáculo cultural ao ar livre”, afirma o Babalorixá. 

Diversidade

Apesar da data ser conhecida por Iemanjá, Tata Ngunzetala, teólogo e liderança do terreiro Inzo A’na Nzambi Junsara, em Águas Lindas de Goiás (GO), explica que nesse dia diferentes seguimentos do candomblé comemoram suas divindades ligadas à água. 

“Como os orixás são mais conhecidos, se popularizou o culto à Iemanjá. Porém, o culto às divindades das águas não é exclusivo dos yorubás; em Luanda (capital de Angola) temos a Festa da Kyanda, que é muito parecida com a festa de Iemanjá no Brasil. O culto às águas é um culto coletivo de todo o Candomblé”, conta Tata.

Tata Ngunzetala, teólogo e liderança do terreiro Inzo A’na Nzambi Junsara. Fonte: Arquivo Pessoal.

O candomblé possui 3 principais matrizes formadas por povos, línguas e divindades diferentes. 

O povo Bantu deu origem ao Candomblé Angola/Congo, que cultua Nkisis.

O povo Iorubá deu origem ao Candomblé Ketu, que cultua Orixás.

O povo Fongbê/Ewe-Fon deu origem ao Candomblé Gêje, que cultua Voduns.

“Os ritos e conceitos civilizatórios afros no Brasil se baseiam em cosmogonias e identidades de vários povos. As semelhanças e conceitos muito próximos e a mistura destes povos diversos durante o processo de escravização, facilitaram o sincretismo entre vários conceitos de mundos, cultos, culturas e até algumas interações linguísticas”

Devido a essas proximidades, é comum que ocorram similaridades entre características de personalidades míticas das águas de diferentes culturas. Um exemplo são as vestimentas das figuras, que foram inspiradas nas senhoras e grandes personalidades do século XVII. Uma maneira de dizer que são realezas ancestrais africanas, de acordo com Tata Ngunzetala.

“Num país onde a figura feminina mais próxima da divindade é virgem e coberta de véus, e com as africanas e africanos escravizados tendo que se converter pela força da dominação, não seria possível, por exemplo, uma divindade ou figura ancestral se apresentar de seios de fora, embora nas culturas africanas os seios não fossem sexualizados”.

Assim, é possível notar semelhanças com as santas da Igreja Católica, especialmente a Nossa Senhora dos Navegantes, que também é celebrada no dia 2 de fevereiro. No processo de escravidão do Brasil, praticantes de religiões de matriz africana precisaram se apoderar e ressignificar a data para exercerem sua fé.

“Já que é um dia santo, cada um aproveitou para louvar o seu”, explica Tata Ngunzetala.

“Já que é um dia santo, cada um aproveitou para louvar o seu”, explica Tata Ngunzetala.

Fotos: Prefeitura de Porto Seguro

Além da Bahia

Em Brasília, na Praça dos Orixás, reconhecida como Patrimônio Imaterial Cultural do Distrito Federal, pessoas de diferentes religiões de matriz africana se reúnem no dia 2 de fevereiro para celebrar as Mães das Águas.

A Festa das Águas, iniciativa do Instituto Rosa dos Ventos com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, busca mostrar a importância de se preservar culturas e identidades diferentes. Nela, cada um tem seu momento de celebrar e cantar. 

“Estamos tentando, aos poucos, construir pautas que incluam todas as diversidades. As culturas e as identidades são importantes de se preservar”, afirma Tata Ngunzetala.

Foto: Agência Brasil

Foto: Prefeitura de Porto Seguro 

Por Fernanda Ghazali, de Porto Seguro (BA)

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress