Gritos de resistência ecoaram em busca de direitos negados. A 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL) 2025, teve como tema “APIB Somos Todos Nós: Em Defesa da Constituição e da Vida”, e destacou mais uma vez a força e o empenho dos povos indígenas na defesa dos direitos garantidos pela Constituição Federal.
A marcha “A Resposta Somos Nós” marcou a segunda grande manifestação do ATL 2025, reunindo milhares de pessoas.

O evento também comemorou os 20 anos de lutas e conquistas da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), celebrando a união, a resistência e o poder transformador do movimento indígena.
Violência
Durante a chegada dos indígenas até o Congresso Nacional, os manifestantes foram surpreendidos por bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
O protesto, que inicialmente era pacífico, foi interrompido pela reação da Polícia Militar do Distrito Federal e da Polícia Legislativa.
Relatos e vídeos divulgados nas redes sociais mostram o uso de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL/MG), que estava à frente da marcha, também foi atingida pelos efeitos do gás e precisou de atendimento médico.
Mesmo se apresentando como parlamentar, os agentes da Polícia seguiram com os atos desproporcionais de violência.
Em resposta a essa repressão, uma indígena do povo macuxi, Maria Betânia, que participava da marcha afirmou se revoltou contra a ação da PM.
“O Congresso Nacional é nossa casa. Chegar aqui e ser recebido dessa forma é injusto. Ninguém queria invadir o Congresso, apenas realizar um ato em defesa de todos aqueles que estão sofrendo nos seus territórios, sem demarcação, com invasões e violações.”
Maria Betânia veio com seu povo Macuxi e é originária do estado de Roraima. Ela disse que estar mais uma vez em Brasília tem um propósito claro.

“Estamos aqui em mais um ATL para ecoar nossas vozes, em defesa dos nossos direitos, em defesa do que é mais sagrado para nós, os nossos territórios”.
Ela disse que o povo indígena não está bem nos seus territórios, com as invasões, com o garimpo, com a mineração, com o agronegócio.
“E assim estamos aqui, nessa única voz em defesa dos nossos direitos e também dos nossos territórios”
Echina Pataxó, do extremo sul da Bahia, compartilhou sua visão sobre os conflitos enfrentados na região Nordeste, especialmente em relação aos direitos negados, e ressaltou a importância de sua presença em Brasília, representando seu povo e suas terras.

“As matas não podem falar por si mesmas, mas estamos aqui para falar por elas. Temos voz, e estaremos sempre presentes quando for necessário para reivindicar nossos direitos, não apenas em relação à saúde e à educação, mas também no que diz respeito aos nossos territórios”, disse.
Echina explicou que chegou a Brasília com sua comunidade: “Viemos com uma caravana do extremo sul da Bahia, representando as mais de 30 comunidades do povo Pataxó.
Povo Pataxó
No extremo sul da Bahia, o povo Pataxó enfrenta uma luta constante para proteger suas Terras Indígenas — Barra Velha, Barra Velha do Monte Pascoal, Comexatiba e Águas Belas — contra a violência de fazendeiros, grileiros e a repressão das forças policiais.
Em meio a essa resistência, suas lideranças clamam por justiça e pela proteção de suas terras e culturas. Echina, do povo Pataxó, destacou que a natureza é essencial para a vida e alerta que, ao destruírem as matas, os impactos não afetam apenas os povos indígenas, mas a todos.
“Neste momento, estamos vivendo um grande conflito. Para nós, do povo Pataxó e para todos os povos indígenas, é fundamental estarmos aqui em busca dos nossos direitos.
A demarcação de terras é essencial para manter nossas matas preservadas. Sabemos que o agronegócio, os fazendeiros, trazem grandes prejuízos, não só para nós indígenas, mas para todos, pois ao atingirem a mata, estão atingindo a todos, já que a natureza é vida.”
Sul da Bahia
Num trecho do relatório Violência contra os povos indígenas no Brasil, de 2023, organizado pelo Cimi. Segundo o documento, no extremo sul baiano, o povo Pataxó luta, há anos, pela conclusão da demarcação das Terras Indígenas (TIs) Comexatibá e Barra Velha do Monte Pascoal.
“Cansados de esperar por providências do Estado e sem espaço para praticar seu modo de vida tradicional, deram início a um movimento de retomada e autodemarcação de seus territórios, entre 2022 e 2021”.
Por Mayara Mendes
Fotos de Mateus Peres
Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira