Considerada a estação mais colorida do ano, a primavera começa em 22 de setembro no Brasil. Moradores de Brasília se encantam com o amarelo, branco, roxo e rosa dos Ipês da capital.
No Cerrado brasileiro, a mudança das estações e a relação com as mudanças climáticas ocorrem de modo distintos dos demais biomas. Especialista detalha as mudanças na flora, os impactos do clima e a importância da estação para o ecossistema.

Uma das características mais marcantes da Primavera é a mudança no clima em relação ao Inverno.
“No Cerrado, a Primavera traz consigo o início das chuvas, temperaturas mais amenas e vegetação mais úmida. Isso reduz significativamente o risco de incêndios florestais de grande porte”, explica o professor de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Stefano Aires.
A umidade relativa do ar também aumenta, criando um ambiente propício para polinizadores e permitindo que as plantas iniciem seu ciclo reprodutivo.
Outra característica da Primavera no Cerrado são as diversas floradas marcantes. O biólogo explica que o ipê branco floresce até outubro, enquanto o jacaré-mirim e o flamboyant começam a mostrar suas flores. O professor destaca também a Caliandra, flor vermelha típica da região, além das flores que geram os frutos do pequi e a cagaita, frutas importantes para a cultura local.
“Essas são apenas algumas das espécies emblemáticas da estação”, conta Aires.
Para o servidor público Giscard Stephanou a paixão pela fotografia começou quando chegou em Brasília, em 2006.
Ipês
“Quando você chega em Brasília, a primeira coisa que falam é para fotografar os monumentos de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, mas com o tempo eu comecei a ver prazer também nos ipês”, comenta.
Ao juntar o gosto pela fotografia e a beleza da cidade, as redes sociais de Giscard ficaram mais coloridas, e ele decidiu criar uma conta apenas para as fotos dos ipês.
Através de vários ângulos e distâncias, Giscard tira as fotos dos ipês e explica que essa é a técnica que mais recomenda para todo mundo que deseja fotografá-los.
Ele explica algumas técnicas para fotografar os ipês na capital. “Fazer composição com o céu, e aproveitar essa maravilha que é o céu de Brasília, com esse contraste das cores dos ipês de Brasília, dá uma foto bem legal”, explica.
Além disso, o fotógrafo recomenda que os monumentos da capital estejam presentes para ajudar na composição das fotos.
“Eu gosto de fazer muita composição com pontos turísticos, então dos ipês ao lado da catedral, ou de outro ponto turístico da arquitetura de Brasília”, ressalta.
Giscard revela uma experiência única que ele teve com a fotografia dos ipês. Ao fotografar um dos ipês mais famoso de Brasília, localizado na Candangolândia, ele resolveu enviar essa foto para o concurso Olhar Brasília, e assim, sua foto foi selecionada e projetada na parte externa do Museu da República de Brasília. “Foi muito legal, porque todo mundo passava ali pelo pelo museu ali perto da catedral, e da biblioteca, olhava as projeções, e via minha foto do Ipê Amarelo da Candangolândia”, conta.
Giscard conta que o que mais chama a atenção nos ipês em relação às outras árvores são as cores.
“Às vezes, um ipê está em um parque e as pessoas querem deitar no chão ali, e ficar curtindo realmente o momento, algo que não acontece com as outras árvores, porque normalmente elas são árvores mais escuras e não tem tanta cor”, diz.
Foto: João Pedro Carvalho
O docente de Ciências Biológicas do CEUB revela que as plantas do Cerrado têm duas estratégias reprodutivas distintas. Algumas florescem no Inverno, aproveitando o vento para dispersar suas sementes, enquanto outras florescem na Primavera, polinizando com a ajuda de animais, como insetos, mamíferos e aves.
De acordo com levantamento do Instituto Chico Mendes (ICMBio), o bioma, que abriga mais de 12 mil espécies de plantas, é considerado a savana mais rica do mundo.
O apreciador dos ipês também ressalta algumas das dificuldades que ele enfrenta para tirar as fotos, como o acesso às ruas para chegar mais perto dos ipês e em achar um ângulo em que o Sol não atrapalhe as fotografias. “A incidência do Sol pode atrapalhar a foto, então tem que cuidar bem aonde o sol tá batendo pra não atrapalhar a tua fotografia aí é só tu dar uma volta no ipê, e ver onde fica melhor”, explica.
Influência climática
Sobre o clima, Stefano Aires ressalta que os fenômenos climáticos influenciam diretamente na floração das plantas.
“Este ano, observamos atrasos significativos na florada do Ipê devido ao atraso nas chuvas”,conta.
Ele menciona a série de recordes de calor recentes, enfatizando a importância de monitorar as previsões climáticas. “Isso sugere que a Primavera pode ser afetada, com potencial impacto no verão”, alerta o especialista.
O aumento da temperatura e a falta de chuvas podem afetar a reprodução de plantas e animais do Cerrado.
Segundo o docente do CEUB, o calor e a baixa umidade do ar aumentam o risco de incêndios florestais prolongados.
Ele acrescenta que a chegada da Primavera no Cerrado é um lembrete da interconexão entre a natureza e o clima, e ressalta a importância de proteger esse ecossistema único:
“Conforme o Cerrado se transforma, nossa responsabilidade de conservá-lo e adaptar-se às mudanças climáticas também cresce”, diz Aires.
Giscard como apreciador dos ipês da capital, relata que as flores, além de embelezarem, sustenta várias espécies, então, ele acredita que quando as pessoas admiram muitos ipês, elas também preservam mais.
Por Maria Luiza Castro e João Pedro Carvalho
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira