Primeira banca de jornal do DF, de 1960, mistura tradição e reinvenções para manter força empreendedora

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Por entre os três corredores desse lugar, há mais do que jornais, revistas, livros, doces e até brinquedos. Existe algo que não se imprime ou se explica em poucas palavras.

Na primeira banca de jornal do Distrito Federal (a Banca da 108 Sul) , que está com as portas abertas há 64 anos, tradição, sentimentos, estratégia e história são os ingredientes de uma força empreendedora que foi capaz de se reinventar desde que o mundo mudou.

Criada por Lourivaldo Marques, de 86 anos, jornaleiro nascido em Irecê (BA), a banca passou por diversas etapas para seu surgimento. O começo do negócio, em 1960, inicialmente em caixotes. Ele recorda que buscava com sua lambreta os jornais “quentinhos” vindos do Brasil inteiro.

Fachada lateral da Banca 108 Sul. (Foto por Mateus Péres)

A internet e as novas tecnologias geraram sentimento de receio e incerteza. Nesse trabalho de reescritura tornou-se uma referência. O caminho foi diversificar o negócio. E compreender que o espaço deveria ser reconhecido como um espaço de convivências e revivências.

O jornaleiro não poderia imaginar que a venda, que se dava inicialmente sentado em caixotes entre as quadras residenciais iria se transformar em um espaço celebrado como patrimônio cultural do DF.

“Sonhei com essa cidade e vim conferir. Montei em cima de um caixote as minhas pequenas publicações, os primeiros jornais. No primeiro dia, eu vendi o que seriam uns R$ 47. Aí eu fiz uma banquinha de madeira e morei nela”, recorda o jornaleiro.

No começo, eram 25 metros quadrados. Em 1987, resolvei reformar pela primeira vez o lugar. Depois aumentou o espaço para 49 metros quadrados.

Confira abaixo trecho da entrevista com o jornaleiro

“Eu falo que transformei a minha vida porque nasci com o dom de vencedor. Quando veio a reforma da banca, eu recebi autorização para transformar, colocar minha banca do tamanho que eu quisesse. Hoje, eu sou uma referência na cidade”.

Ditadura e criatividade

O jornaleiro Lourivaldo Marques diz que passou por um grande desafio desde o começo. Ele tinha medo da repressão militar. Foram necessárias criatividade e inquietude.

“Veio a revolução e, na revolução, a gente começou a tomar um sentido de política. Eu tinha receio de perder o ponto. Eu desenhei aqui a minha gaiola de cultura. O que me projetou foi minha criatividade e minha inquietude”, afirma.

Confira abaixo outro trecho da entrevista

Lourivaldo explica que diversificou negócio também com comida. Foto: Mateus Péres

Tecnologias

Em meio ao avanço das tecnologias, particularmente a internet, principalmente na primeira década dos anos 2000, manter a clientela tornou-se difícil. Por isso, juntou cadeiras e mesas, ofereceu alimentação e leituras de degustação. Aos poucos, os clientes foram retornando.

Outro desafio para o jornaleiro idoso da Banca da 108 Sul, foi o período da pandemia. Ele resolveu não fechar as portas, mas afastou as mesas e pedia rigor com o uso de máscaras. “As normas de segurança foram seguidas, mas eu não fechei a loja”.

A ideia de se reinventar e se renovar não é novidade para o jornaleiro. Ele recorda que, no começo do negócio, nos dias que os jornais não vendiam tão bem, andava pelas quadras, ainda pouco habitadas vendendo flâmulas: “fui em Brasília e lembrei de você”.

No começo dessa jornada, em 1963, plantou uma árvore que hoje marca o negócio e a história da quadra. Hoje garante sombra e lembranças a quem passa por lá. Os jornais têm cheiro de natureza também. Pelos corredores da banca, todos os sentidos estão unidos, e não ficam só na lembrança. A fila no caixa e as conversas no caminho simbolizam a experiência de um negócio pode ser tocado com páginas e corações abertos.

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Por Mateus Péres, João Pedro Carvalho e Pedro Vianna

Sob supervisão do professor Luiz Claudio Ferreira

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