A aula começa com alongamentos. Trinta alunos jogam o braço por cima da cabeça e puxam, mexem os punhos, esticam os dedos das mãos e flexionam os dois braços ao redor do corpo. Mas engana-se quem acha que a série de exercícios está relacionada com atividades físicas. Pelo contrário, os movimentos estão ligados com a comunicação. No grupo os alunos são preparados para aprenderem o princípio de uma nova língua. É assim que começa a aula de Libras, a Língua Brasileira de Sinais, durante Congresso na faculdade UniCEUB.
Os professores Dyone Silva e Roger Opazo, ambos tradutores e intérpretes de Libras na faculdade onde trabalham, explicam a importância do movimento correto das mãos e como as palavras expressas podem ganhar significados diferentes com um posicionamento de um dedo ou a velocidade da ação. Roger faz brincadeiras com as variações acidentais que os alunos fazem. Uma tenta acertar a palavra ‘oi’ e move o mindinho ao invés do pulso. Dyone finge estar assustado antes de explicar a reação. O gesto que recebeu é de paquera, não de cumprimento. A turma ri com a brincadeira.
O tom é de diversão. Todos demonstram fascínio, tanto pelo conhecimento de uma linguagem diferente, quanto pelo estranhamento de fazer uma série de movimentos com o perigo de errar. Lanna Vogel, aluna de publicidade e propaganda, não consegue esconder sorrisos sinceros quando comete um erro ou se confunde com as poses das mãos. “Eu fiz o curso porque sempre achei interessante e agora posso me comunicar com as pessoas que achava, antes, ser impossível” explica.
Os professores ressaltam o valor do conhecimento. “É um mercado em expansão porque existe uma preocupação com acessibilidade aos deficientes. Tem uma procura maior por tradutores hoje em dia” esclarece Roger. Os dois ministram um curso de 20 horas para os funcionários da instituição. O objetivo é melhorar a capacitação em comunicação interna da faculdade. Tentam estabelecer um curso onde apresentam o básico de Libras.
Por enquanto, os educadores se atém ao mínimo para a comunicação com uma pessoa surda. “A gente parte do princípio da datilologia, numerais, sinais básicos de localização, família, cumprimentos. O básico para entender o que se passa na mão de um surdo”, resssalta Dyone.
Ao fim da aula, uma surpresa: os aprendizes formam duplas e desenvolvem uma conversa de pelo menos cinco frases em Libras para interpretarem diante da turma. A prática é feita com o conhecimento adquirido em apenas seis horas de estudos. A emoção é forte quando não apenas se percebe que é capaz de pronunciar frases inteiras com as mãos, mas também de compreender uma conversa completa.
Por Vinícius Brandão
Foto: USP