Abandono amoroso: como superar fim de relacionamento

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Natália, Letícia e Ruth são jovens de Brasília que possuem não só a cidade natal em comum; as três passaram por histórias de abandono por parte de seus parceiros.

De uma hora para outra, viram seus contos de fadas se tornarem grandes pesadelos. Como se caíssem de penhascos, foram surpreendidas pelo vazio sem explicação do abandono e da falta de responsabilidade afetiva.

Em busca do final feliz

Natália Folgierine é uma bacharela em direito de 25 anos, que conheceu seu primeiro e único amor na virada do ano de 2018 para 2019.

Ela afirma que, naquele dia, após o primeiro contato e uma longa noite de conversa, teve a certeza: “ainda vou me casar com esse homem”.

Ao fazer essa afirmação, mal sabia ela que um dia isso realmente se concretizaria, mas o caminho até o tão sonhado “felizes para sempre” seria árduo, doloroso, imperfeito e cheio de reviravoltas.

Natália com seu esposo Samuel.

Depois de se conhecerem, o futuro casal apenas se seguiu nas redes sociais, mas nada além disso. Meses depois, foram para um acampamento de jovens da igreja na qual congregam e acabaram se aproximando nos momentos de interação e comunhão, o que rendeu a eles longas conversas.

Desde o acampamento, nunca mais pararam de conversar, e após 4 meses, Natália foi surpreendida por um piquenique, uma linda carta de amor e o tão esperado pedido de namoro.

Ela  descreve aquela fase de seu relacionamento como leve, segura e saudável, sempre com perspectiva de futuro, de constituir uma família juntos.

Foi então que, após 1 ano e 1 mês de namoro, Natália foi surpreendida novamente, desta vez pelo pedido de casamento, e afirma: “a sensação foi indescritível, eu estava nas nuvens”.

A alegria durou pouco, pois no dia seguinte ao seu pedido de noivado, a mãe da bacharela faleceu depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Perdida, Natália Folgierine diz ter encontrado em Deus e em seu noivo um porto seguro para suportar aquele momento de dor.

Meses se passaram, e agora os noivos já estavam nos preparativos para o tão sonhado dia do casamento. Tudo com muita cautela, cuidado e atenção, pois o mundo estava enfrentando um cenário de pandemia por conta do vírus da covid-19.

O que eles não esperavam é que, a 1 mês da data prevista para o grande dia, o noivo Samuel, de 23 anos, pegaria COVID e ficaria entre a vida e a morte por longos 50 dias que pareceram uma eternidade.

Angústia, medo, muito choro e súplicas cheias de fé marcaram os dias da até então noiva. Depois de várias semanas assombrosas, Samuel finalmente obteve melhora e saiu do hospital.

O pior ainda estava por vir

Poucos dias após receber alta, o noivo mais uma vez surpreendeu Natália, mas desta vez da pior maneira possível. Ele terminou o noivado, sem muitas explicações prévias. Natália afirma que seu mundo desabou e que se sentiu abandonada, enganada e traída, pois jamais esperava um comportamento tão repentino e fatal.

Segundo a psicóloga Larissa Storino, o abandono amoroso pode gerar duas vertentes de reações.

“A pessoa pode nunca mais querer se relacionar e mostrar que está bem resolvida com a situação, usando isso apenas como um mecanismo de defesa e de esconder o medo de se machucar novamente, adotando um comportamento de ‘abandonar antes de ser abandonada’, resistindo a sinais de afeto, carinho e assim sabotando suas relações”, conta.

A segunda hipótese levantada por Larissa sobre o que pode acontecer, de acordo com casos já tratados por ela em consultório, é o desenvolvimento de dependência emocional da vítima em seus próximos relacionamentos.

“As vítimas de dependência emocional acham que a felicidade, o carinho que elas encontraram nos outros depois do abandono, é a resolução de uma ferida do passado, quando na verdade essas feridas não são tratadas com outras pessoas, mas sim com ajuda profissional”, comenta.

“Era maravilhoso”

A publicitária Letícia Gonçalves, de 24 anos, conheceu seu ex-namorado em 2014, quando ambos ainda estavam no 3° ano do ensino médio. Moravam perto e se viam todos os dias.

Partilharam juntos a transição da adolescência para a vida adulta. Vitor foi o primeiro relacionamento de Letícia, e ela descreve o começo do namoro como “maravilhoso”.

Num dia feliz, de repente, eles foram surpreendidos com a notícia de que Vitor se mudaria para Goiânia com sua família e precisaram aprender a lidar com um relacionamento à distância.

Na primeira vez em que se encontraram após a mudança, Letícia achou no celular de Vítor fotos de mulheres nuas e ficou bastante chateada com a situação, mas decidiu perdoar depois de um pedido de desculpas. 

O relacionamento durou 8 anos, sendo que 7 desses a publicitária passou sendo a única a ir ver o namorado.

“Eu me sacrificava pois todas as vezes passei bastante mal nas viagens de ônibus, além da questão financeira pois, tudo saia do meu próprio bolso”, acrescenta.

Durante a pandemia passaram longos sete meses sem se ver, trocando apenas mensagens durante o dia e se falando por chamadas de vídeo todos os dias à noite. A distância se tornou desgastante nesse período.

Em abril de 2022, durante uma de suas visitas ao namorado, Letícia escreveu uma carta se declarando, dizendo que o amava, que ele estava na parte mais importante de seu coração e que ela desejava avançar com o relacionamento.

Tudo caminhava em normalidade, quando em junho daquele ano, Vitor termina o namoro, assim como a história de Natália, sem explicações prévias ou um motivo concreto.

Letícia afirma ter se sentido um objeto. “De repente vi toda a minha vida e perspectiva de futuro se destruírem. Foi uma pancada de grande impacto, uma sensação de abandono terrível, realmente vivi um inferno dentro de mim”, relembra.

Foram diversos questionamentos, dúvidas e bastante dor. “Eu me sentia rejeitada, insuficiente, feia, mal conseguia levantar da cama, perdi vários clientes no trabalho por não estar conseguindo produzir.” Bastante desestabilizada, a publicitária conta que encontrou refúgio em Deus, na terapia e em seus amigos e familiares.

Ruthe Ester também passou por algo parecido, assessora de eventos que aos 18 anos, em seu primeiro relacionamento, já pensava e se organizava para casar, chegando até a comprar o seu vestido de noiva.

Criada num ambiente cristão, cresceu sonhando em ter uma família, pretendia ter um só namorado, mas não foi o que aconteceu, o relacionamento acabou por seu noivo não se sentir preparado para o novo passo, apesar de ter gerado expectativas de que o enlace realmente aconteceria.

Em seu segundo relacionamento, Ruthe contou o que já tinha acontecido e pediu ao, até então namorado, que a história não se repetisse. Com nove meses de namoro, o assunto “casamento” veio à tona.

Com intuito de se preparar financeiramente para o casamento, a assessora de eventos arranjou um emprego extra, a mulher chegou a trabalhar por permuta em troca de coisas para o grande dia. Tudo isso em ciência de seu parceiro.

Ruthe descreve o parceiro como bastante atencioso e cuidadoso. Mas os dois viviam um namoro em castidade, o que acabou os afastando quando eles mesmos ultrapassaram os  limites pré-estabelecidos na relação.

Na intenção de deixá-lo feliz, Ruthe organizou uma festa surpresa de aniversário para seu namorado. O que ela não esperava era que sua reação não fosse nada favorável e que ele a tratasse friamente, de forma totalmente estranha, atitude que a deixou em prantos.

Ali, sua mente já lhe fazia imaginar o que estava por vir: mais um término sem explicação.

O sentimento de abandono já estava pairando e logo se estabeleceu. Ainda naquele dia, por telefone e sem muitos rodeios ou motivações claras, o término se concretizou.

“Ele terminou por telefone e simplesmente sumiu. Ele se apresentava como homem dos sonhos e de repente virou meu maior pesadelo”, afirma.

Ester chegou a ir atrás do ex algumas vezes, mas não obteve respostas e foi bloqueada de todas as redes sociais. “Para mim foi muito pesado, como se eu tivesse morrido, tava acostumada a tê-lo comigo e do nada ele desapareceu. Foi como se ele tivesse morrido, arrancado da minha vida de uma vez”.

Depressão

Após o trauma, Ruthe foi diagnosticada com depressão, chorava constantemente e chegou até a tomar uma cartela de remédios. “Eu só queria que aquela dor passasse”, relembra.

Em menos de um mês do término, descobriu que o ex já estava se relacionando com outra e descreve todo o relacionamento como traumático.

Os três casos aqui relatados são o reflexo da falta de responsabilidade afetiva, o fato de não pensar apenas em si e não se importar apenas com os próprios sentimentos, mas agir com consciência de que os seus atos afetam totalmente a forma como o seu parceiro se sente são passos primordiais para um relacionamento bem sucedido.

A falta de responsabilidade afetiva em situações de abandono amoroso pode ter um impacto significativo na pessoa que é deixada.

O abandono amoroso ocorre quando uma pessoa decide terminar um relacionamento de forma repentina ou sem dar explicações adequadas, deixando a outra parte confusa e emocionalmente ferida.

A falta de responsabilidade afetiva refere-se à incapacidade ou falta de vontade de levar em consideração os sentimentos e necessidades emocionais do parceiro durante o processo de término.

Consequências do abandono

A psicóloga Larissa Storino explica que, quando alguém é abandonado de forma irresponsável, podem surgir uma série de consequências negativas.

“Em primeiro lugar, a pessoa abandonada pode experimentar uma sensação de rejeição profunda e questionar sua própria autoestima e valor. O abandono repentino pode fazer com que a pessoa sinta-se inadequada ou indesejável, levando a uma queda na autoconfiança e autoestima”.

Apesar de toda dor e situações adversas enfrentadas, as três entrevistadas ressignificam suas histórias e se permitiram através de muita persistência e ajuda profissional a continuarem acreditando no amor.

O trauma do abandono não impediu que seguissem em frente e, hoje, ambas estão realizando seus sonhos de constituir família em um relacionamento saudável.

Letícia com seu atual namorado, Fernando.
Ruthe com seu marido, à espera da filha

Esta reportagem foi inspirada na música Penhasco, de Luisa Sonza.

Por Lucas Oliveira

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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