Ausência paterna por causa de trabalho gera impacto nos filhos; entenda

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Em razão de jornadas extensas, múltiplos vínculos trabalhistas e dificuldades de mobilidade urbana, o trabalho é apontado como uma das causas materiais da ausência paterna no Brasil.

Para a advogada Thaís Caldeira, especialista em direito civil, as ausências estão relacionadas a um contexto estrutural que envolve questões socioculturais.

“Há questões relativas à divisão desigual das responsabilidades parentais, reforçadas por papéis de gênero historicamente atribuídos”, explica a especialista.

A advogada ressalta que há previsões na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e em legislações que buscam amenizar os impactos da parentalidade na vida trabalhista.

“Embora limitadas, essas providências são instrumentos de incentivo à presença parental e poderiam ser mais amplamente explorados pelas empresas, sobretudo como parte de uma responsabilidade social corporativa com reflexos indiretos na esfera familiar”, alega.

Foto: Instituto Junguiano da Bahia

O sentimento da filha

A estudante Ana Vitória Mathias, de 19 anos, é filha de caminhoneiro e conta que, apesar dos períodos de ausência serem complicados, o trabalho do pai foi fundamental para a família.

“Mesmo com as ausências, ele sempre priorizou nossa família. Sei que foi um sacrifício grande dele e da gente também, mas isso fortaleceu nossos laços e nos ensinou sobre dedicação e esforço, dentre outros milhares de valores”, desabafa.

A jovem ainda comenta que, quando criança, tinha dificuldade de entender o porquê do pai ficar longe por tanto tempo.

“Já o culpei, fiquei sem falar com ele por algumas semanas. Ele não conseguia participar do meu crescimento, às vezes faltava apresentações da escola… já passei até dia dos pais sem ele”, lamenta

. “Com o tempo eu entendi que isso era o nosso sustento e que ele fazia aquilo por amor à família”, complementa Ana.

A ausência paterna

O número de domicílios com mães solos aumentou 1,7 milhão em dez anos no Brasil.

O levantamento, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, é referente ao período de 2012 a 2022, onde foi constatado o crescimento de 17,8% de famílias que vivem nessa condição. Ainda de acordo com a advogada, a atividade empregatícia do genitor pode ser considerada um dos principais motivos da ausência paterna no Brasil.

Dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN) apontam que mais de 91 mil crianças foram registradas sem o nome do pai no Brasil em 2024.

A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 7º, incisos XIX e XX, direitos relacionados à proteção da família e os à licença-paternidade e maternidade, os quais já sinalizam a relevância da co-responsabilidade institucional.

A neuropsicóloga Keli Rodrigues explica que a ausência paterna influencia diretamente no crescimento da criança e pode gerar impactos duradouros e profundos.

“A criança pode acabar procurando aprovação e afeto em outras relações, o que pode aumentar a vulnerabilidade emocional”, diz.

A especialista ressalta a importância de ficar atento aos sinais que podem gerar traumas futuros: a queda de rendimento na escola, busca excessiva por aprovação e dificuldade em lidar com frustrações, por exemplo.

“A observação e o diálogo aberto são fundamentais para perceber os sinais e intervir cedo, preferencialmente com apoio psicológico”, completou Keli.

Por Beatriz Vasconcelos e Bruna Teixeira

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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