Governo analisa e monitora crimes virtuais

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Quase um mês depois das eleições, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência de República lançou um grupo de trabalho que terá como principal objetivo mapear e analisar posts e páginas com o conteúdo preconceituoso e que promovem o ódio e a violência. O grupo também terá  membros da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria de Políticas para Mulheres, do Departamento de Polícia Federal, do Ministério Público Federal, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do Colégio Nacional dos Defensores Públicos Gerais.

A iniciativa aparece como uma tentativa de mapear esse tipo cada vez mais comum de delito.  Segundo informações da ONG Safer Net, já foram 3.417.208 denuncias anônimas em oito anos. Porém, em 2014, um evento acendeu o sinal de alerta sobre os crimes na rede: as eleições.

Durante o período, a internet foi invadida por atos discriminatórios e preconceituosos. Se comparado ao período eleitoral anterior, o número de denúncias recebidas em 2014 representou um aumento de mais de 342%.

Ainda segundo dados da Safer NET , na data de divulgação do resultado do primeiro turno das eleições, foram denunciadas 69 novas páginas criadas nas redes sociais supostamente para promover o ódio e a discriminação, especialmente contra os nordestinos. Esse número representou um aumento de 68,29% em relação ao mesmo dia em 2013, quando foram denunciadas 41 novas páginas.

Já no dia em que o resultado final das eleições presidenciais foi divulgado, foram denunciadas 305 novas páginas criadas nas redes sociais sob o mesmo motivo. Novamente, os nordestinos foram os principais atacados. Desta vez, os dados representam um aumento de 342,03% em relação ao primeiro turno das eleições.

A ONG, também disponibiliza a análise de dados do segundo turno segmentado por hora. Neles, é possível constatar que até às 20h (horário da divulgação do resultado), haviam sido registradas apenas 35 denúncias envolvendo 28 páginas distintas. Após a divulgação, o número de denúncias saltou para 386 denúncias envolvendo 277 novas páginas com manifestações de ódio e discriminação nas redes sociais.

Veja os números de denúncias de 2014 aqui (arquivo PDF)

“É difícil não se sentir ofendida”

Foi nesse cenário que a jornalista Rafaela Céo viu várias postagens ofensivas e preconceituosas. Nascida em Recife, ela explica que já esperava esta reação caso a candidata do PT, Dilma Rousseff, fosse reeleita.

“Apesar disso, tentei evitar as polêmicas porque estava realmente cansada nesse processo eleitoral, tanto pelo trabalho, quanto pelas discussões virtuais a que assisto. Ainda assim, com

o resultado, vi a replicação de muitas agressões contra os nordestinos. E, sim, aí é difícil não se sentir ofendida.”, explica Rafaela.

A jornalista ainda ressalta que não foi a primeira vez que presenciou atos preconceituosos contra nordestinos em um período eleitoral. Em 2010, conta que pode ver inúmeras ofensas no Twitter. “Dessa vez, respondi a todas. Foi um desgaste. Nesta eleição, respondi a apenas um post”, acrescenta. Sobre ele, ela explica que, além de divulgar em sua página do Facebook, a repórter enviou uma mensagem para o perfil com o intuito de saber se a postagem realmente existiu. Porém, nunca houve resposta.

Post que originou a mobilização da jornalista Rafaela Céo.

Rafaela afirmou que não buscou as medidas legais as quais tem direito porque não foi sua opção,mas  não acredita que teria dificuldade para se informar sobre uma medida judicial. Além disso, completa dizendo que não vai parar de dar sua opinião nas redes sociais

“Tento ter o cuidado de não reproduzir o discurso de ódio (embora as agressões causem raiva), porque aí o ciclo de agressões não se encerra. É preciso colocar luz sobre o preconceito, não para valorizá-lo, mas para deixar claro que ele existe e precisamos nos educar”, completa.

 

Caiu na rede

Facebook, Twitter, Instragram. Os nomes são diferentes, porém a fórmula é a mesma: comunicação e interação rápida. Segundo Carlos Augusto, gerente de TI com 14 anos de experiência na área, as postagens nos sites de relacionamento têm uma altíssima propagação. “É uma terra de ninguém e de todos ao mesmo tempo. Geralmente, assuntos irrelevantes se tornam pauta e todos podem opinar livremente sobre tudo e de qualquer forma”, explica.

Além disso, ele chama atenção para a interferência que as redes sociais têm nas relações interpessoais das pessoas. “Hoje, é muito comum encontrar jovens com stress, insônia, distúrbios e comportamentos negativos em função das redes sociais, jogos, brincadeiras e interações sempre pela internet e por longas horas”, atesta.

Por Rafaela Lima

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