Crítica à elite brasileira feita por Machado de Assis continua atual, diz pesquisador

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As marcas da crítica à elite brasileira trazidas nas obras de Machado de Assis para aquela sociedade do século 19 continuam atuais, segundo afirma o pesquisador Natalino Oliveira. “Tenho certeza que o Machado cria seus personagens para distribuir críticas e golpes a elite brasileira que infelizmente perpetua até hoje”, afirma. O estudioso analisa crítica “a conta gotas” de Machado de Assis. Com base em suas leituras, o pesquisador considera Machado um escritor contemporâneo.

Natalino Oliveira, que fez dois cursos de doutorado na área de literatura, participou da Semana da Comunicação do Centro Universitário de Brasília (CEUB), no dia 26 de maio, e falou sobre o modo de entender o Brasil a partir da literatura machadiana. (Confira programação completa do evento)

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Machado de Assis está entre os grandes escritores clássicos da literatura brasileira. Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Relíquias da casa velha e outras obras tornaram-se objetos de estudo do professor Natalino Oliveira, doutor em Literatura Comparada.

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O especialista considera necessário o entendimento do sujeito que escreve para então compreender suas obras. Aponta que o autor utilizava da “crítica a conta gotas” para tratar de temas importantes, apesar de ter um tom dissimulado acobertado por seus personagens, o que muitas vezes pode ser imperceptível aos leitores.

Capoeira

Ele ainda compara a escrita com a capoeira, que permanece no anseio entre ir e não ir, um aspecto da versatilidade do escritor. “Um homem negro, representante da elite brasileira, coloca as suas críticas de uma maneira dissimulada”. Além disso, exemplifica por meio do conto Helena, a permanência da estrutura patriarcal na sociedade, na qual a personagem principal atende vontades de um homem já morto que simboliza a predominância desses ideais mesmo na atualidade.

 

 

“Ainda que a sociedade patriarcal venha a morrer, ainda viveremos sob essas amarras”, afirmou o pesquisador.

Na opinião do doutor, as obras de Machado de Assis podem ser estudadas desde o ensino fundamental, contanto que sejam contextualizadas, adaptando o vocabulário, para que a leitura seja agradável. Ele aconselha que as crônicas sejam mais abordadas em sala de aula, pois os romances, que normalmente são trabalhados, acabam sendo muito complexos.

“Acredito na função de educador de Machado. Ele ensina a ler seu próprio texto”. Segundo o estudioso, obras como “Suje-se gordo”, “A carteira”, “O espelho” e “Teoria do medalhão” demonstram realidades que até os dias de hoje precisam ser debatidas.

Uma enciclopédia

O pesquisador considera Machado de Assis um escritor contemporâneo, pois trabalha com questões relacionadas às condições humanas. “A literatura machadiana é posta como uma grande enciclopédia, Machado não está subordinado a elementos clássicos, e sim os utilizando para seu próprio prazer”. Ademais, o estudioso diferencia a função de historiador e contador de histórias para analisar o posicionamento peculiar do autor. Ele defende que o escritor possuía um instinto de nacionalidade por ser um homem de seu tempo e país.

Natalino enfatiza que a estética machadiana não é um mero artifício literário, possui uma grande funcionalidade, ele a utiliza como arma. “Para entender Machado de Assis, é necessário ler de uma forma além da superfície do texto, com calma, se aprofundando e talvez precise utilizar um dicionário”.

Por Maria Eduarda Bacellar, Maria Eduarda Cardoso, Maria Tereza Castro e Maria Paula Meira

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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