A pressão sobre veículos de imprensa, em diferentes períodos de exceção, foi um dos motivos que fez com que jornalistas desistissem do mundo das notícias e migrassem para a literatura.
O professor e pesquisador Paulo Paniago destaca que a censura dentro dos meios editoriais era menor do que nos jornalísticos, o que aumentou interação direta entre a profissão e a escrita de livros. “Os canais eram quase que fechados para as informações. Essas pessoas (jornalistas) acharam dentro do canal literário uma forma de se contrapor ao governo”, conclui.
Outra pesquisadora que se deteve a esmiuçar esses momentos foi Cristiane Costa. Ela explica que a literatura, como era menos visada do que a imprensa pela censura, a literatura, e seu público mais restrito, teve um poder maior de negociação para tratar de temas considerados “proibidos”.
Ela aponta na pesquisa “Pena de Aluguel” que romances, nos anos ditatoriais, tentaram denunciar, com alegorias e de forma até indireta, a repressão.
“Cabia à literatura exercer uma função parajornalística”, apontou.
Na ditadura de Getúlio Vargas, Graciliano Ramos, por exemplo, foi preso. O período na cadeia originou o “Memórias do Cárcere”.
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Aliás, foi no período de governo de Vargas que, em 1931, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) criou o Dia do Jornalista (7 de abril) a fim de defender a liberdade de expressão, os direitos dos jornalistas e o aprimoramento da profissão.
Durante a ditadura militar, exemplos são romances-reportagens de José Louzeiro e Valério Meinel, os contos de João Antonio, a ficção realista de Luis Vilela, Carlinhos Oliveira, Antonio Torres, Carlos Heitor Cony, Antonio Callado e Paulo Francis, assim como as memórias de Fernando Gabeira. Alegorias explícitas foram produzidas Roberto Drummond e Ignácio de Loyola Brandão
A arte da escrita
Paulo Paniago acrescenta que sempre houve uma relação entre o jornalismo e a literatura: “No século 18, o novo gênero ‘romance realista’ se iniciou junto com a produção jornalística, que por isso vinha misturada com um pouco de fantasia. Ao longo do tempo, esses campos foram se separando e, hoje, estão bem claras as características de cada um.”
Apesar de não usarem mais ficção nos jornais atualmente, ele informa que há uma tendência de alguns jornalistas se apropriarem das técnicas de escrita da Literatura.
O professor afirma que a paixão pelos livros vem desde muito cedo: “Eu sempre gostei muito de ler. Fiz minha graduação em Jornalismo e tenho mestrado em Literatura Brasileira. No meu doutorado, juntei esses dois interesses com uma tese a respeito de jornalismo literário”.
Ele ainda cita algumas das suas inspirações na Literatura, como Saul Bellow, Lydia Davis, Machado de Assis e Sérgio Sant’Anna. Já no Jornalismo, Paulo se interessa por Gay Talese e pelos textos da revista “Realidade”, além de se orientar pela coleção “Jornalismo Literário” da Companhia das Letras.
Para pessoas interessadas em Jornalismo Literário, o professor reforça a necessidade de manter uma rotina de leitura e de escrita. “Para trabalhar nessas áreas, é preciso ter um ritmo intenso com foco e treino. Ver de tudo um pouco com curiosidade”.
Por Catharina Braga, Maria Eduarda Fava e Sophia Costa
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira