Neste 7 de junho, Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, entidades brasileiras que lutam contra violências, censuras e pressões de todos os tipos, recordam que, esta mesma semana é marcada também pelos 21 anos do assassinato de Tim Lopes (2 de junho de 2002) e pelo primeiro ano da morte do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira (5 de junho de 2022).
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A presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a professora Katia Brembatti, lamenta que, mesmo em governos progressistas, o tratamento violento continua. “A violência contra os jornalistas foi um processo construído e incentivado durante muitos anos. Não é de uma hora para outra que irá mudar”.
No dia 31 de maio, por exemplo, a jornalista Delis Ortiz (TV Globo), foi agredida no Palácio do Itamaraty por um segurança durante uma cobertura da Cúpula dos Presidentes de Países Sul-Americanos.
A professora ainda acrescenta que o comportamento hostil contra jornalistas e cinegrafistas não é direcionado apenas aos indivíduos separados, mas ao corpo de imprensa completo. “A violência não é pessoal contra uma determinada pessoa ou uma reportagem, mas contra o exercício do jornalismo. Contra a imprensa inteira”, diz a jornalista.
Um novo tipo de violência
Em 2019, a Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ), responsável por realizar a coletânea anual de ocorrências de violência contra a imprensa no Brasil, identificou no mapeamento um novo tipo de interdição. A presidente da FENAJ, Samira de Castro, explica que a adição da nova categoria aconteceu durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. “O que a gente tem observado nesses últimos tempos é que o Bolsonaro criou essa nova categoria de descredibilização da imprensa”.
Para a presidente da Abraji, a maioria das agressões são de cunho político, visando diminuir a confiança do público na imprensa tradicional e direcioná-la para fontes estratégicas com interesses pessoais. “Podem ser estratégias de marketing de políticos para desmoralizar a imprensa”, explica a jornalista sobre uma das maneiras como os veículos de notícias são descredibilizados.
Hostilização e ameaças
A jornalista Yasmim Siamesa, correspondente do Correio Braziliense, trabalhava na cobertura política de 2022, durante a manifestação dos caminhoneiros no quartel a favor do ex-presidente Bolsonaro. A profissional recorda que, ao abordar um grupo de quatro pessoas para fazer uma entrevista, o grupo a ridicularizou e hostilizou.
“Uma das pessoas começou a apontar o dedo pra mim e dizer que se eu não saísse, já que ‘o caldo iria entornar'”, lamenta a profissional. Ela conseguiu sair do local com apoio de um colega, o repórter-fotográfico da equipe dela. Mesmo assim, sob gritos dos manifestantes
Violência no Planalto Central
O Centro Oeste foi campeão de relatos de violência contra jornalistas no ano de 2022, segundo o Relatório de Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil do mesmo ano, realizado pela FENAJ.
A região contabilizou 98 casos, que representam cerca de 34,03% de todas as ocorrências do País. No ano de 2012, a ocorrência de agressões contra profissionais da imprensa foi sete vezes menor que no ano de 2022, segundo dados da FENAJ.
2022
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Perspectiva para o futuro
As entidades apontam que há motivos de melhores perspectivas, mas que não garantem necessariamente uma contenção total da violência. “Eu tenho o otimismo da vontade e o pessimismo da razão. Eu acho que o jornalismo sempre vai ser uma necessidade social”, considerou Samira de Castro.
Katia Brembatti enfatiza a necessidade social da profissão na denúncia das mazelas sociais e na manutenção da justiça. “As pessoas precisam perceber como o jornalismo faz parte da vida de todos”.
Por Juliana Sousa e Maria Beatriz Giusti
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/Creative Commons
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira