Júlio César Almeida, 48 anos, é dono da banca Risadinha, em Taguatinga (DF) há 15 anos. É pai de duas meninas, a mais velha de 12 anos, e a mais nova de 8 anos. Ele conta que abriu a banca em um bom momento para o mercado do jornal impresso, no início de 2008.
“Os produtos que eu mais vendia nos primeiros anos, sem dúvidas, eram jornais. Toda hora aparecia alguém comprando, vendia de 300 a 500 jornais por semana, hoje, se eu vendo 250 no mês, é muito.
Na época os jornais onlines não tinham tanta força como hoje”, diz o dono da banca Risadinha.
Por conta do avanço do jornalismo online, César exalta que o mercado dele mudou nos últimos 10 anos.
“Antes o jornal impresso era meu carro chefe, atualmente, os produtos que eu mais vendo são materiais escolares, e, de quatro em quatro anos, a procura por figurinhas para o álbum da Copa do Mundo também é grande”.
Ele afirma que seus principais clientes do jornal impresso são cuidadores de cachorro e gato.
“Acho que em algum momento vai acabar, hoje, a maioria dos jornais vendo para donos de gato e cachorro, eles servem como penico para os animais”, relata.

Segundo ele, os compradores de jornal impresso de hoje em dia e que realmente leem os produtos são idosos “mais conservadores”, que não deram a oportunidade para a tecnologia.
De acordo com César, o futuro do impresso é incerto. Para ele, a tendência é que o número de pessoas que prefere ler notícias em papel diminua à medida que a tecnologia avança
O dono da tradicional banca conta também como os jornais chegam até sua banca.
“Os distribuidores deixam toda manhã na minha caixa de correios na lateral da banca, eles têm a chave. Quando chego cedo, os jornais já estão lá, assim eu só tenho o trabalho de organizar e esperar os clientes passarem aqui e levar um jornal”.
O olhar positivo do Jornal Impresso
Francisco de Sousa, mais conhecido pelos colegas de profissão como “Chiquin”, tem 60 anos e trabalha no Centro de Documentação dos impressos no Correio Braziliense há 36 anos.
O Correio foi o primeiro grande veículo de imprensa a fornecer jornais impressos no Distrito Federal e começou a circular no mesmo ano em que a capital foi fundada, em 1960.
O jornalista não enxerga com olhar negativo o futuro do impresso. “Durante esses anos, sempre escutamos falar sobre o fim de redes sociais como o Facebook, mas não acabaram, se reinventaram. Assim funciona com o jornal impresso”, falou Chiquin.
Na visão dele, é natural a diminuição de leitores ao passar dos anos. No entanto, ele afirma que o público segue sendo grande e a distribuição de jornais continua intensa, deixando o impresso “mais vivo”.
Francisco exaltou a importância do jornal impresso na vida dele. “Eu nunca me adaptei com o jornal online, sempre me informei com o impresso. Os veículos onlines tiram minha paciência, quando vou ler alguma notícia, aparecem vários anúncios no meio do texto, acabo me perdendo”, relatou o jornalista.
Chiquin falou também da relevância do impresso no mundo. Ele diz não ver o fim desse tipo de jornalismo, relembrando grandes veículos, como o próprio Correio e o estadunidense New York Times.
O Jornal do Guará é um exemplo de veículo que ainda trabalha como jornal impresso. Fundado em 1983, tem 40 anos de existência e foi o primeiro impresso do Distrito Federal.
Alcir que houve a queda na distribuição do produto. “Atualmente a gente distribui 6.500 jornais semanais, a distribuição acontece sexta e sábado, houve uma diminuição nos últimos anos, mas continuamos trabalhando”.
Na grande maioria dos casos, os jornais se adaptaram para cobrir notícias locais, que é uma área em que muitos impressos têm uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes online.
Alves conta que além do impresso, o Jornal do Guará também atua nas redes sociais. “Nossa conta no Instagram chegou a 10 mil seguidores. Vejo como uma forma de se adaptar à realidade e informar o leitor que não tem o costume de ler jornais impressos”, exalta.
A renda do jornal mais antigo do DF vem da vendas de publicidades, que ajudam também na distribuição gratuita para os leitores.
Outro exemplo de veículo local que trabalha com o papel é o Capital do Entorno. Valter Santana, fundador do jornal, relatou como se apaixonou pelo jornalismo .
“Comecei trabalhando de motoboy no Correio Braziliense, passei para o departamento comercial, e depois fui trabalhar juntamente com o departamento de diagramação, lá no Correio aprendi a diagramar”.

Valter exalta o alto valor financeiro que o papel gera nos dias atuais. “Hoje o nosso faturamento chega a 40 mil reais, esse valor apenas com o impresso. Vejo que o mercado tem espaço para todos, por isso, o papel segue sendo valorizado mesmo com o avanço da tecnologia”.
Valter conta como funciona a logística do veículo para a distribuição. “Distribuímos cerca de 25 mil jornais, nossa atividade é quinzenal. Nós montamos o diagrama do jornal e quando é dia dez a gente sai pra rua, temos 16 distribuidores, eles se dividem para distribuir o jornal para todo DF e entorno”.
A mudança do impresso para o digital em números
O mundo digital vai continuar impactando a indústria jornalística. A circulação dos jornais impressos despencou 16,1% no último ano.
Durante a pandemia, em 2020, o impresso teve a pior retração dos últimos 10 anos, chegando a 25,6%. Isso se deve ao número de pessoas em casa, diminuindo a circulação de leitores tradicionais que compravam os jornais em bancas e impedindo que as pessoas que trabalham distribuindo jornais realizem o seu trabalho.
Pesquisadores de jornal impresso
Com a chegada da era digital, os jornais impressos tiveram que se adaptar para sobreviver. Muitos jornais migraram para o online, oferecendo conteúdo digital e cobrando assinaturas. O IVC, mostra, também, que entre os 15 principais jornais do Brasil, 13 trabalham no impresso e no digital.
Por: João Victor Rodrigues