Após período eleitoral, profissionais pesquisadores buscam sanar as dúvidas e reduzir o senso comum sobre pesquisas eleitorais. Especialista desse campo no meio acadêmico e profissional, a pesquisadora Karina Dualibi afirma que, ao invés de investigar os institutos de pesquisa por possíveis erros, é preciso compreendê-los e saber em que nível metodológico chegaram para ter os resultados.
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Por outro lado, ela entende que os institutos precisam reconhecer que existe uma necessidade de melhor comunicação, tanto com a mídia, quanto com outros segmentos da sociedade. “Os institutos estão muito fechados. E, infelizmente, eles só se tornam assunto público quando existe erro nas pesquisas”.
Segundo a especialista, é incontornável a presença das pesquisas de opinião nos países democráticos, sejam elas eleitorais ou não. Também explica que é preciso enxergá-las de forma homogênea, para que não sejam confundidas com a própria democracia.
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Fetiche
Ela entende que os jornalistas têm divulgado pesquisas sem devidos esclarecimentos sobre o que significa essa sondagem. “Há um fetiche em relação às pesquisas nas redações. Trata-se de um retrato momentâneo”.
Ela comenta que é necessário explicar isso ao público. “É preciso aprender a ler os números. É preciso conversar com os institutos antes de publicar para realçar as ressalvas”.
Ela comenta, também, que cabe a todos os institutos sérios fazerem suas ressalvas e apontarem suas limitações. E que cabe ao ceticismo do jornalismo realçar essas limitações e não colocar como principal manchete dados equivocados.
“Não pode haver nenhuma criminalização e censura. É um artefato da democracia, e um dispositivo usado em democracia. É necessário, mas precisa ser apurado com rigor”.
Sistema Eleitoral
Karina Dualibi ainda afirma que o sistema eleitoral hoje é frágil em relação ao acompanhamento de todas as etapas do processo e condução de uma pesquisa. Conforme diz, existe uma fragilidade e pouco conhecimento técnico dentro do judiciário sobre uma pesquisa. E que isso é uma coisa que precisa ser enfrentada.
Explica que os juízes eleitorais precisam responder num período muito curto, sob muita pressão, se uma pesquisa vai ser considerada fraudulenta ou não. E os dados que são inseridos no Sistema de Registro de Pesquisas Eleitorais (PesqEle) não garantem em nada um rigor de campo. “Ele não garante em nada que aquela pesquisa vai ser feita da forma como está ali. E esses institutos só vão ser questionados se uma outra parte, se os partidos, por exemplo, questionarem”.
Como uma campanha é realizada de forma rápida e instantânea, muitas vezes não se é contestado. Logo, Karina acredita, falta assessoramento técnico e entendimento das pesquisas. “Muitas vezes se subestimam os efeitos de uma pesquisa ser publicada. Então ela pode vir a ser investigada e questionada, mas às vezes é pouco para reparar o tipo de dano que uma informação fraudulenta ou equivocada possa gerar”.
Karina Dualibi entende que as campanhas de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tiveram, ambas, muitos acertos. Mas diz que do primeiro para o segundo turno houve um estreitamento da diferença entre os dois candidatos.
Ainda assim, ela acredita que a campanha de Lula teve muita dificuldade, quase que impossibilidade, de agir e de pautar o debate e a relevância dos temas daquilo que importava discutir.
“Eu acho que a campanha do Jair Bolsonaro teve essa dianteira quase que o tempo todo. Pautas de costumes e fake news cegaram”.
“Eu considero emblemático de um bom aproveitamento, e que foi importante para a vitória, por exemplo, o anúncio do Paulo Guedes de que haveria desvinculação do salário mínimo”.
A jornalista explica que naquele momento o PT, a campanha lulista, teve a oportunidade de levar a agenda econômica para o centro do debate, na crítica a essa proposta do Paulo Guedes.
Por Ana Clara Neves
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira