Audible: Vidas em Jogo traz o sonoro impacto do silêncio

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Indicado como Melhor Documentário de Curta-Metragem, Audible: Vidas em Jogo é um filme de 39 minutos dirigido por Matt Ogens. Depois de perderem um amigo próximo de forma trágica, alunos de uma escola especial para surdos dos Estados Unidos se deparam com as dificuldades da vida mundana e como esses obstáculos se apresentam para eles, por serem deficientes auditivos.

Assista ao trailer do documentário:

O filme traz a surdez dos personagens como algo que os define enquanto indivíduos e comunidade, mas não os limita de nenhuma forma. Conflitos que poderiam ser vivenciados por ouvintes são mostrados aqui sob uma perspectiva de análise do impacto da deficiência auditiva na magnitude destes. O “personagem principal”, Amaree, faz uma série de reflexões a respeito da sua vida enquanto surdo, como sobre o abandono do pai quando ele tinha apenas dois anos e se a doença que ele teve, a qual resultou na perda de sua audição, tiveram algum impacto nessa decisão.

Dificuldades

Em apenas trinta e oito minutos de duração, Audible nos convida a presenciar uma realidade diferente da dos ouvintes e que está muito mais próxima do que se imagina. O curta propõe uma análise sobre a formação de bolhas em que a sociedade insere esses indivíduos ao constatar que, apesar de se formar uma comunidade em torno de uma característica que os une e que os faz sentir pertencentes, esse isolamento traz complicações e dificuldade de socialização com membros auditivos da sociedade, até mesmo dentro de suas próprias casas.

Pôster oficial do curta (Imagem: Divulgação/Netflix)

Quando aborda a morte trágica do colega, Teddy, o documentário mostra que a tentativa “tardia” de socialização de jovens surdos com não surdos pode gerar consequências negativas como exclusão, bullying e a dificuldade de não se poder utilizar o som como forma de acalento.

Realidade

Considerando que o documentário trata de jovens no seu último ano de ensino médio e dos desafios que serão encontrados por eles ao se depararem com uma sociedade não centrada em pessoas surdas, o filme perde a oportunidade de mostrar de fato como teria sido essa inserção e como os “personagens” teriam utilizado de suas vivências anteriores para reagir a essas dificuldades. Porém, Audible termina em um tom otimista, com cenas que exaltam que essas pessoas não se diferenciam dos ouvintes por quase nada que as impeça de triunfar.

Som e imagem

Apesar de ser um filme que aborda uma comunidade surda, Audible é um filme extremamente sensorial. Com uma engenharia de som aguçada e trilha sonora presentes, tanto o áudio quanto os visuais são um primor à parte e engrandecem a trama do filme.

Amaree reflexivo enquanto treina (Imagem: Divulgação/Netflix)

As batidas de tambor, os gritos, palmas e todos os sons que se fazem presentes de forma rítmica e em sincronia com os visuais assumem de forma sensível e artística o papel de “vibrações”, designado pelos próprios personagens em sua descrição, que guiam e ditam o ritmo da história.

Impressão

No fim, Audible é um exercício de empatia extremamente carismático que consegue, numa curta duração, fazer o espectador se apaixonar por seus personagens. Desta forma, o público quer vê-los vencer, felizes e amados, e, justamente por isso, o filme peca em não acompanhar a transição da escola especial de surdos para a sociedade comum, onde outros desafios os aguardam. Audible consegue, ainda, mostrar que a surdez não limita ninguém e faz o público se identificar com a sensibilidade daqueles personagens até para o que eles entendem como “som”. Assim, o curta faz com que quem assiste se identifique com aqueles que ele está assistindo.

Ficha Técnica:

Direção: Matt Ogens

Gênero: Curta-metragem e documentário

Duração: 38 minutos

Classificação Indicativa: 13 anos

Origem: Estados Unidos

Distribuição: Netflix

Por Henrique Fregonasse
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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