Uma mulher deve ser magra, mas não tanto. Precisa estar sempre arrumada e com um sorriso no rosto. Não pode ter celulites, estrias ou rugas. É uma obrigação ser perfeita. Essas são pressões estéticas e sociais que as mulheres sofrem. Muitas vezes, começa na infância, quando brincam com a boneca Barbie: loira, alta e linda.
No filme dirigido por Greta Gerwin (“Adoráveis Mulheres” e “Lady Bird”), há Barbies negras, asiáticas, gordas e até sereias, como as bonecas do mundo real. Elas podem ser médicas, ganhadoras do prêmio nobel, ou até mesmo presidente.
Elas comandam o mundo, enquanto os Kens são apenas Kens, apenas um acessório da Barbie. Como as bonecas podem ser quem quiserem, elas acreditam que as meninas do mundo real também são assim, e por isso, acabaram com o machismo.
“Barbie” abraça o clichê e já começa retratando um ‘mundinho cor-de-rosa’: a Barbie Land. Habitada majoritariamente por Barbies e Kens, essa terra funciona como uma simulação das brincadeiras com a boneca: as meninas não perdem tempo com tarefas comuns, como descer escadas.
Elas simplesmente fazem a Barbie dar um pulo lento até o andar abaixo. Os dias — e noites, são sempre de diversão, com jogos e festas. Tudo é perfeito. Até não ser mais.
A icônica boneca — branca, loira e de olhos azuis —, chamada de Barbie Estereotipada (Margot Robbie) começa a ter pensamentos sobre a morte. Ela não fica mais na ponta do pé. Aparecem celulites na sua perna. Como a Barbie Land não aceita nada menos que a perfeição, a boneca, acompanhada do Ken Estereotipado (Ryan Gosling) deixa sua casa dos sonhos e parte para o mundo real para encontrar a menina que é sua dona.
Assista ao trailer de “Barbie”
Barbie Land x Mundo real
Quando nós crescemos e deixamos de ser meninas, descobrimos que a perfeição é impossível de ser alcançada e que precisamos lidar com uma sociedade patriarcal e machista. É esse mundo que a Barbie também precisa entender.
Saindo da Barbie Land, a boneca encontra uma terra em que homens a odeiam. E as mulheres também. Ela não é um ícone feminista e sim um produto do capitalismo de uma empresa que lucra em cima de meninas, a Mattel. Ironicamente, a empresa é comandada apenas por homens. Após esse choque de realidade, Barbie perde a autoestima, confiança e entra em uma crise existencial.
Roteiro
Greta Gerwig e Noah Baumbach optaram por não fazer mais uma propaganda para vender a boneca Barbie, mas sim fazer críticas à perfeição e patriarcado, trazendo reflexões sobre feminismo e sonoridade. Apesar da “militância”, o filme não fica chato, já que apresenta piadas com o próprio universo cor-de-rosa, arrancando risadas dos espectadores do início ao fim.
Os números musicais também são um dos destaques de “Barbie”, ajudando a equilibrar o tom cômico da narrativa com as críticas ao machismo. Além das autodescobertas da boneca, o filme se aprofunda nos sentimentos de Ken.
Referências
O filme traz diversas referências da história da boneca, em especial a dos anos 90. São citadas roupas e modelos de colecionadores, e até bonecos descontinuados, como a Midge (Emerald Fennell), uma Barbie grávida, e Allan (Michael Cera), o melhor amigo do Ken.
Além disso, os cenários da Barbie Land são iguais às do brinquedo: todas abertas, sem escadas, com objetos muitas vezes maiores que a própria boneca. E é claro, tudo é muito cor-de-rosa!
Ficha técnica
Título original: Barbie
Direção: Greta Gerwig
Roteiro: Greta Gerwig, Noah Baumbach
Gênero: Aventura, Família, Comédia, Fantasia
Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, Kate McKinnon, Simu Liu, America Ferrera, Ariana Greenblatt, Dua Lipa, Emma Mackey
Duração: 1h 54min
Classificação Indicativa: 12 anos
Por Nathália Guimarães*
*A repórter assistiu ao filme a convite da Espaço Z
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira