Oppenheimer: vencedor do Oscar de “Melhor Filme” traz conflito entre genialidade e ética 

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O filme levou ao todo 7 estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Diretor. A premiação aconteceu no último domingo (10).

Imagem: divulgação

Dirigido por Christopher Nolan (Batman: O Cavaleiro das Trevas, 2008), Oppenheimer baseia-se no livro “Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer”, acompanhando a vida do físico teórico durante o Projeto Manhattan, marcado pelo desenvolvimento das primeiras bombas atômicas.

Assista ao trailer:

OPPENHEIMER – Novo Trailer (Universal Studios) – HD

Uma trama entre tempos

A trama se desenvolve em um ritmo de vai e vem temporal, acompanhando Robert Oppenheimer (Cillian Murphy) e outros cientistas durante o projeto de desenvolvimento da primeira arma nuclear, responsável pelas tragédias em massa nas cidades japonesas Hiroshima e Nagasaki, no fim da segunda guerra mundial. 

O elenco é composto por grandes nomes de Hollywood, além do próprio Murphy, como Emily Blunt, Robert Downey Jr, Gary Oldman e Florence Pugh.

O filme aborda um dos momentos mais trágicos da história da humanidade e, nas palavras do próprio diretor. “É uma história sobre consequências”. Nesta obra, acompanhamos o físico que ficou conhecido como “o pai da bomba atômica”, explorando tanto a contribuição de Oppenheimer para a ciência quanto às repercussões morais de suas ações e, historicamente falando, já sabemos como termina.

Esse fator, comum em filmes de gênero biográfico, acaba fazendo com que os detalhes da narrativa se tornem o elemento mais importante. No caso de Oppenheimer, os fatores éticos e morais ganham grande destaque no roteiro. O filme traz uma crítica que se faz presente na sociedade até hoje, não existe genialidade que supere interesses políticos

Cillian Murphy e Emily Blunt em Oppenheimer/ Imagem: Divulgação

A discussão a respeito da criação de algo capaz de destruir o mundo permeia toda a narrativa. Em suas três horas de duração, a história traz uma reinteração de elementos que já estão claros para o espectador. 

Ao invés de deixar os fatos falarem por si só, a direção coloca as falas de diversos personagens em repetição apenas reforçando o que já está sendo visto, deixando a sensação de que o filme acaba sendo maior do que o necessário.

No entanto, é evidente que o roteiro não deixa margem para incertezas. Nolan se propõe nesta obra esclarecer todas as dúvidas relacionadas ao passado do cientista. Entretanto, ele faz isso sob uma perspectiva de culpa, um universo que só esse brilhante cientista percebia em uma dimensão cósmica, não como um elemento fundamental de um caminho irreversível.

Desde o início do longa, Oppenheimer é retratado como um homem genial e falho e como a criação da bomba atômica em sua visão colocaria fim à guerra. Porém ele não é responsabilizado pelo estrago que sua criação causou, como se sua genialidade abrisse portas apenas para outros homens seguirem seu caminho.

Narrativa e ritmo

Uma polêmica dessa narrativa é o tempo de tela dedicado aos relacionamentos românticos e sexuais de Oppenheimer, que é retratado como “mulherengo”. 

As mulheres em sua vida são construídas como irracionais, histéricas e incapazes de entender a pressão do universo em que ele vivia.

Mesmo as personagens femininas que não são interesse romântico do artista tem pouco, ou até mesmo nada a dizer. Deixando a sensação de essa ser apenas uma história escrita por homens para homens.

Estética visual de Nolan

Paralelamente a história do físico e a construção da bomba, acompanhamos outra linha do tempo, alguns anos depois, com foco no oficial Lewis Strauss (Robert Downey Jr.), presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos.

Essa ideia de uma narrativa não linear é um elemento comum nas obras de Nolan, entretanto desta vez temos alguns fatores de destaque. O filme se divide entre cenas coloridas e momentos em preto em branco.

Robert Downey Jr. como Lewis Strauss

Robert Downey Jr. como Lewis Strauss/ Imagem: Divulgação

As cores surgem nas cenas em que temos a perspectiva do protagonista em sua própria história, enquanto os momentos em preto e branco parecem mais a documentação dos eventos, uma história sendo contada por um telespectador. O uso dessas abordagens diferentes é bem utilizado para distinguir as épocas e para transmitir o sentimento daqueles tempos particulares.

Personagens 

Essa é uma obra repleta de nomes de peso dentro da indústria do cinema, porém eles parecem não ser desenvolvidos na narrativa.

Contudo, o filme permanece repleto de boas interpretações. Cillian Murphy, vencedor do Oscar de Melhor Ator por sua performance, passou por um processo de imersão no personagem, resultando em uma de suas melhores atuações até os dias de hoje.

Considerando seus méritos e falhas, o legado de Oppenheimer, como um dos filmes mais premiados do ano, segue como uma figura histórica complexa, retratada sob a visão particular de Christopher Nolan.

Ficha Técnica 

Direção: Christopher Nolan

Roteiro: Christopher Nolan

Elenco: Cillian Murphy; Matt Damon; Emily Blunt

Duração: 3h

Por Maria Paula Meira

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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