Quando o assunto é música, Brasília se torna também referência em nosso país. A capital do Brasil, além de ser o berço de grandes bandas e compositores, se torna um lugar promissor de divulgação da cultura musical, que vai além da criatividade. Promoção essas que inspiram poemas e grandes canções.
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Facebook Plebe Rude/ divulgação
As canções apresentam uma mescla de heranças, lembranças e tradições, como tributo, ora lírico, ora crítico, de diversas gerações dos compositores. A combinação entre as obras a seguir se dá por um vínculo amoroso com a cidade, nem sempre regado a sorrisos e flores, mas com um potencial de transformação em permanente pesquisa e desdobramento.
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Linha do Equador – Djavan
Lançado em março de 1992, o álbum “Coisa de acender” de Djavan tem diversas parcerias. Linha do Equador conta com a letra de Caetano Veloso e melodia de Djavan, o título fala da linha imaginária que traça a Terra. Em um trecho da música, o cantor alagoano fala sobre Brasília, especificamente do céu.
“Esse imenso, desmedido amor
Vai além de seja o que for
Passa mais além do
Céu de Brasília
Traço do arquiteto
Gosto tanto dela assim”
Para o compositor, o amor por Brasília é imensurável. A cidade é a norteadora de sua vida e o céu é comparável a paz e a calmaria do mar. Ainda, há um duplo sentido em “Brasília” e “traço do arquiteto”. Assim como Oscar Niemeyer arquitetou Brasília com sua arquitetura moderna, Deus arquitetou o céu de Brasília para algo “limpo”, sempre azul.
Travessia do Eixão – Legião Urbana
“Uma outra estação” é o último álbum acústico da Legião Urbana e foi lançado em 1997. O disco conta com “Travessia do Eixão”, música inspirada em um poema sem nome de Nicolas Behr, escritor mato-grossense, e está no livro “Te amo 24 horas por segundo”, lançado em 1979.
“Nossa Senhora do Cerrado
Protetora dos pedestres
Que atravessam o eixão
Às seis horas da tarde
Fazei com que eu chegue são e salvo
Na casa de Noélia”
Autor do poema, Nicolas conta qual foi sua inspiração: “Na época, eu andava muito a pé e como morava na 415 Sul, era preciso atravessar o eixão para ver Noélia (ex-namorada de Nicolas), que morava na 109 Sul. O eixão é nossa espinha dorsal e é muito tenso, muitos carros. O poema tem uma leveza e tem uma tensão de atravessar o eixão, rezar para chegar são e salvo na casa da Noélia. É uma oração”
Renato Russo, líder da Legião Urbana, conheceu o poema através de Nonato Veras, integrante da banda Liga Tripa, que compôs e acabou virando a canção “Travessia do Eixão”. A Legião Urbana nunca chegou a cantar a música em shows ou em apresentações, mas os integrantes do grupo usavam para teste de som e afinação de instrumentos e vozes antes de se apresentarem.
Te amo, Brasília – Alceu Valença
“Te amo Brasília” é a segunda faixa do álbum “Andar, andar”, de Alceu Valença, lançado pela gravadora EMI, em 1990. A canção de Alceu fala sobre imigrantes nordestinos que vinham para Brasília em busca de uma vida melhor e acabam se frustrando com a falsa realidade. Apesar disso, o compositor pernambucano cita a simetria da arquitetura da capital e também o lago.
“Agora conheço sua geografia
A pele macia, menina morena
Teu sexo, teu lago, tua simetria
Até qualquer dia, te amo Brasília
Se teu amor foi hipocrisia
Adeus, Brasília, vou morrer de saudade
Se teu amor foi hipocrisia
Adeus, Brasília, vou pra outra cidade”
Saquear Brasília – Capital Inicial
Em 2012, a banda Capital Inicial lançou o álbum ‘Saturno’, a quarta canção do lado A do disco se chama “Saquear Brasília”, letra de Dinho Ouro Preto e Alvin L, que fala sobre a corrupção política em Brasília e faz um convite às pessoas para saquearem de volta a capital que foi roubada, segundo o compositor.
“É uma maravilha ser poderoso em Brasília
Eles mentem e não sentem nada
Eles mentem na sua cara
Tragam os seus amigos
Tragam os seus pais
Tragam os seus filhos
E também as suas filhas
Pra saquear Brasília”
Brasília – Plebe Rude
Uma das principais bandas brasilienses, a Plebe Rude foi formada em 1981 e lançou seu primeiro álbum em 1985. “O concreto já rachou” é um mini LP com sete canções e uma delas é “Brasília”, música que além do título em homenagem a capital, tem a letra sobre as vivências do Planalto Central.
“Capital da esperança (Brasília tem luz, Brasília tem carros)
Asas e eixos do Brasil (Brasília tem mortes, tem até baratas)
Longe do mar, da poluição (Brasília tem prédios, Brasília tem máquinas)
Mais um fim que ninguém previu (Árvores nos eixos a polícia montada)
(Brasília) Brasília
Brasília tem centros comerciais
Muitos porteiros e pessoas normais
E a luz ilumina, os carros só passam”
Philippe Seabra, vocalista e guitarrista da Plebe Rude, contou sobre a música: “ ‘Brasília’ foi a primeira música da Plebe usando duplo vocal. Eu, com a voz aguda, e o Jander ‘Ameba’, com a voz grave”. Seabra conta que ‘O concreto já rachou’ vem de um dia em que ele estava em um grande circular e observou uma parede que estava com o concreto rachado no Eixo Monumental, e que isso aparentava ser um problema estrutural de construção. Assim, relacionou com a corrupção dos políticos responsáveis pela construção da cidade. Afinal, Brasília tinha apenas vinte anos de existência
Por Filipe Fonseca
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira