A Baleia: desempenho de Brendan Fraser é destaque em obra sobre obesidade mórbida e autoestima

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Imagem: Divulgação

Estreou no último dia 23 o longa A Baleia, disponível nos cinemas de todo o Brasil. Dirigido por Darren Aronofsky (“Réquiem para um Sonho” e “Cisne Negro”) e estrelado por Brendan Fraser, a história é uma adaptação de uma peça teatral escrita por Samuel D. Hunter e gira ao redor de Charlie (Fraser), um professor que dá aulas online e sofre de obesidade mórbida.

Com seus 270 quilos, o estado de saúde de Charlie, cada vez mais delicado, causa insegurança e preocupação em sua amiga e enfermeira Liz (Hong Chau), com quem possui uma forte ligação. Sabendo que seu tempo é curto, o professor decide tentar reatar laços com sua filha Ellie (Sadie Sink), com quem não mantém contato há anos desde de que abandonou sua família para viver com outro homem.

A narrativa também traz um jovem missionário chamado Thomas (Ty Simpkins), que acredita existir uma razão divina para ter cruzado o caminho do protagonista. O elenco se completa com a presença de Mary (Samantha Morton), ex-esposa de Charlie e mãe de Ellie.

O filme concorre ao Oscar 2023 em 3 categorias, sendo elas: melhor ator (Brendan Fraser), melhor atriz coadjuvante (Hong Chau) e melhor maquiagem.

Desempenho de Fraser

Durante toda a produção, Fraser entrega tudo o que tem para Charlie, ele consegue expressar com clareza todas as tragédias e triunfos de seu personagem e sua crença quase inabalável na bondade humana. 

Não é uma tarefa fácil dar vida a um personagem com tantas camadas. Mesmo passando todo o tempo trancado em seu apartamento, podemos notar cada detalhe da personalidade do protagonista ao longo da trama. É a partir da entrega do ator a este papel que o telespectador se sente mais atraído a entender como as coisas chegaram a esse ponto.

Imagem: Divulgação

Charlie é um personagem que ao mesmo tempo que desistiu de si próprio, é capaz de observar o que há de melhor nas pessoas. Um homem que desistiu da vida, abalado pelos horrores de seu passado, e que mesmo assim consegue ver o mundo sob uma ótica otimista, acima de sua dor.

Para além de um protagonista com questões complexas, Fraser se torna o centro desse filme em uma performance excepcional repleta de traços apelativos e recortes teatrais, aspecto que pode ser evidenciado na emoção repleta de lágrimas trazida pelos personagens coadjuvantes em grande parte dos diálogos.

Destaque de atrizes coadjuvantes 

Outro destaque em atuação no filme vem da performance de Sadie Sink (Stranger Things). Sua personagem, Ellie, é descrita em toda a narrativa como uma jovem manipuladora e raivosa, que não poupa palavras cruéis para seu pai durante a maior parte de seu tempo de tela. Deixando claro o desprezo que sente por ele, tanto por sua condição física quanto por tê-la abandonado na infância, ou até mesmo pelo fato de ele ser homossexual. Mesmo sendo essa pessoa que todos consideram horrível, Charlie se dedica mais do que nunca para tentar salvá-la.

Imagem: Divulgação

Hong Chau (O Menu) é mais um nome que se destacou no seu papel, como melhor amiga de Charlie. Ela conduz com cuidado e precisão a difícil tarefa de entregar uma personagem cética e firme, que ao mesmo tempo se sente vulnerável e desestabilizada com a condição de seu amigo.

Elementos técnicos

Aronofsky possui um histórico de filmes feitos para despertar sentimentos no público e com A Baleia isso não é diferente. Seu enredo é repleto de cenas impactantes, com o auxílio de uma direção de fotografia que produz uma história claustrofóbica, focando toda a produção dentro do apartamento do protagonista (elemento trazido das características teatrais da obra original).

Os momentos de emoção são o ápice da trama, trazidos de forma extraordinária pelo elenco. Contudo, a história segue repleta de cenas que exploram o peso de seu protagonista e sua compulsão alimentar, acompanhadas por uma trilha sonora quase apocalíptica.

Já a dificuldade de locomoção de Charlie fica ainda mais nítida com a chegada de Ellie. Podemos observar esse detalhe em cada plano do protagonista, de costas, olhando por cima dos ombros, tentando acompanhar a jovem andando por todo o apartamento. A câmera capta cada movimento sempre ao redor de Charlie e sua limitação de visão e postura.

Contudo, mais do que limitar toda a ação do filme a este apartamento escuro (ressaltando o descaso de Charlie com si mesmo), a direção da obra traz cada personagem em seu próprio tom sombrio.

A chuva presente durante a grande maioria do filme, a falta de luz e de cor são elementos que compõem um longa que, apesar de possuir uma mensagem com um brilho pela visão de seu protagonista, é estruturado para que tudo em torno dele deixe o espectador com um certo desconforto.

Entre acertos e falhas, o objetivo do filme é falar sobre a humanidade de cada personagem, trazendo discussões sobre obesidade, homofobia, religião, depressão e suicídio.

Com um aspecto recorrente em suas produções, o diretor encerra A Baleia em um tom bíblico com um paraíso idealizado no único momento em que podemos observar a mudança de luz, trazendo uma cena final simbólica e comovente.

Ostracismo

Lembrado por sucessos dos anos 90 como A Múmia (1999), Brendan Fraser foi um nome muito cotado em Hollywood, sendo muitas vezes colocado em estereótipos de homens bonitos e tolos ou astros de ação.

Fraser em “A Múmia” (1999)

Após passar por problemas com abusos, Fraser passou alguns anos longe das telas, retornando em outras produções antes de A Baleia. Contudo, sua performance como Charlie marca algo que nunca havia sido visto durante toda sua carreira.

A humanidade que o ator dá ao seu personagem durante todo o filme é o que conduz a trama. Uma história repleta de drama, exigindo emoção extrema, mostra que o talento de Fraser vai além da questão estética.

A Baleia rendeu a Brendan Fraser sua primeira indicação ao Oscar e marca seu retorno como um nome forte em Hollywood após anos de ostracismo.

Ficha técnica

Título original: The Whale

País de origem: Estados Unidos

Duração: 1h 57min

Direção: Darren Aronofsky

Roteiro: Samuel D. Hunter

Elenco: Brendan Fraser, Sadie Sink, Hong Chau, Samantha Morton, Ty Simpkins 

Por Maria Paula Meira

Trailer e fotos: Divulgação

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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