Adesão à moda vegana amplia discussão sobre consumo consciente

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Denúncias da relação entre o universo da moda e ações de desrespeito aos direitos humanos e ao meio ambiente têm sido mais difundidas. Isso aumentou, de acordo com fontes ouvidas, a consciência crítica por uma nova tendência: a moda vegana. Essa alternativa coloca uma opção para quem gosta de moda, mas a indústria quer garantir produtos que respeitem a vida dos animais.

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A estudante de biologia Daniele Coelho, 20 anos, aderiu ao estilo de vida vegano aos 16 anos e desde a infância teve muito contato e afeto por animais. Ela destaca os problemas das indústrias de moda em relação ao trabalho escravo e origem dos produtos, “Você vê o produto, compra e usa, mas não reflete sobre o caminho que percorreu até chegar em suas mãos. E com o veganismo é a mesma coisa, a mesma reflexão, porém com vidas de outras espécies”, explica.

Daniele também ressalta que é complicado começar além do consumismo publicitário. “Veganizei por amor e respeito aos animais, ao mundo e à vida”. Ela acredita que o veganismo não é excludente. “Na minha visão, é a consciência de se viver tentando afetar menos possível o outro. É tentar viver em harmonia, sempre. Em relação a produtos de limpezas, roupas, cosméticos, é a mesma coisa, olhar composição e fabricante. É estudar e conhecer aquilo que se consome”.

No noticiário sobre o tema, já existiram denúncias de que produtos usados no cotidiano como cremes, shampoos e sabonetes são provenientes de matérias prima derivadas do desmatamento, agrotóxicos, trabalho semiescravo e teste em animais. Segundo a professora e designer de moda Lucyana Azevedo, os produtos veganos representam um mercado em expansão, “Algumas matérias primas de origem animal são, realmente, desnecessárias e não fazem mais sentido na moda contemporânea, como alguns couros e uso de peles”.

Lucyana ainda conta que é extremamente necessária essa reflexão para o futuro da moda. “É preciso compreender o contexto cultural e de produção de cada caso para analisar. Por exemplo: por que reduzir o consumo de couro bovino se não reduzirmos o consumo de carne e, consequentemente, de área degradada para o pasto?”, destaca.

 

 

Direitos dos animais

 

Conforme a Declaração Universal dos Direitos dos Animais de 1978, que foi proclamada pela UNESCO na Bélgica, no Art. 8º, “A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação”.

Em junho deste ano, a Austrália decidiu colocar em vigor uma lei que pretende banir até o ano que vem a venda de qualquer produto que tenha sido testado em animais. Depois, em setembro, foi à vez da Corte de Justiça da União Europeia decidir que os países membros do bloco europeu podem proibir a comercialização de cosméticos testados em animais dentro de seus territórios, mesmo que os produtos tenham sido fabricados e testados fora do território.

A  fundadora e editora geral do site de moda Modifica, Marina Colerato, explica a preocupação em não utilizar produtos de origem animal. “Os animais existem por suas próprias razões, são seres sencientes e sociais, assim como os animais humanos. Eles não estão no mundo para serem transformados em matéria prima. Eles estão aqui para viver a vida deles assim como nós estamos aqui para viver a nossa”, explica.

 

Crueltyfree e Veganfriendly

 

O termo “Crueltyfree” significa livre de crueldade e é usado para produtos que não foram testados em animais. Organizações como PETA e PEA, que divulgam listas de empresas comprometidas com a causa ecológica e garantem produtos livres de testes em animais. Os produtos crueltyfree são identificados por selos, como: Leaping BunnyPeta Approved e Choose Cruelty-Free. Utilizar produtos que certificados, ajuda na participação ativa da luta que visa banir os testes em animais para todos os cosméticos, produtos de higiene e limpeza.

Já o termo “Vegan-Friendly” significa vegano amigável, representado por empresas, marcas ou lugares que são abertos. Marina diz que o público alvo é todo o público de moda. “Um produto de moda vegan-friendly pode ser consumido por quem tem a preocupação com os direitos dos animais e quem não tem. Com relação a consumidores veganos em específico, o veganismo está se dissipando no mundo todo, inclusive no Brasil, então é um público consumidor exponencial”.

 

Moda consciente

Outra preocupação é o impacto causado pela indústria de moda no meio ambiente. Na linha da moda vegan, destaca-se a moda que busca conscientizar as pessoas dos impactos e repensem seus modos de consumo. Assim, surge a moda consciente, com roupas de segunda mão, customização de peças guardadas no armário, feiras de trocas, incentivam o consumo consciente e iniciativas que ganham destaque.

A moda consciente pode ser um termo que ganha várias definições, mas para Marina é uma moda que tenta ser responsável em todo o ciclo de produção e pós-consumo. “Marcas que buscam cada vez mais entender e reduzir todos os impactos ambientais e sociais relativos à produção e descarte dos produtos que colocam no mundo, ou que seja uma ferramenta de transformação social. Produtos de segunda-mão, usados ou vintage também são opções de moda e consumo consciente”.

Para Lucyana, não é possível haver um sistema produtor de mercadorias, baseadas na efemeridade, que seja sustentável. “O que temos hoje são experiência e que contrapõe o sistema fast-fashion, sistema hegemônico na produção de moda atual, que produz em grande quantidade, alta velocidade e baixos custos”. As produções slow-fashion, por exemplo, buscam seguir na contramão desses processos, trabalham com materiais de baixo impacto, produtos atemporais e duráveis. “Não estamos falando de um ciclo sustentável, mas trata-se de uma proposta consciente, inclusive de reavaliar quais são os reais valores dados à moda”.

Diferente da moda ‘convencional’, a moda consciente visualiza o lucro como uma ferramenta para fazer as coisas acontecerem nesse nicho de mercado. “Não há como produzir a tão baixos custos contabilizando danos sociais e ambientais. Por trás de peças tão baratas e de uma produção tão rápida, sempre há um processo danoso de uso e descarte de recursos, assim como péssimas condições de trabalho e baixa remuneração”, diz Lucyana.

 

Ana Luísa Amaral Paiva

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