Arte com as mãos: brasiliense coloca ideais e lutas nas obras autorais

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Autorretrato. É pela representação de si mesma que uma artista negra brasiliense encontra identificação e sentido no ofício, e que inspira outras pessoas. Ela atua no Distrito Federal, que é um polo artístico para o Brasil. Nos últimos anos, a cena cultural com jovens promissores. Esse é o caso de Victória Reis, de 25 anos, que busca oportunidades para exibir a arte e crescer no meio. 

Victoria Reis, 25 anos, tem diferentes inspirações. Foto: Arquivo pessoal

Filha de mãe solteira, Victoria tem orgulho da mãe.  Mirian Reis teve a filha aos 41 anos de idade na época em que fazia dança de salão, onde conheceu o pai de Victória. Ele morava no Rio, mas trabalhava numa obra do aeroporto e fazia este “bate volta” em Brasília. Eles nunca foram casados nem namorados. Vic tem 3 irmãos, todos por parte de pai. 

Muitas das relações na vida de Victória são delicadas assim como a argila de suas artes. Muitas das vezes a argila está mole demais e foge do controle do artista. Para que se estruture uma cerâmica, é necessário tempo, atenção, carinho e cuidado para que a arte seja reestruturada e consolidada.

Família

“No meio do caminho eu construí uma relação com meus irmãos. Mas, quando eu fiquei adolescente, eu me distanciei do meu pai e também me distanciei deles. Agora, nesse último ano, quando eu voltei a falar com meu pai, em 2021, acho que o meu foco maior foi até reconstruir uma relação com eles”. Ela diz que tem tentado e feito esse movimento de voltar a ter uma amizade com eles. “Fazer coisas com eles e estar em contato com eles o tempo todo independente do meu pai.”

Mas, algumas artes, no primeiro contato com a argila, já se percebe que vai dar certo, o artista sabe. Natalia, irmã de Victória, representa uma linda cerâmica que já passou pela queima (para consolidar a cerâmica) e pelo acabamento.

“Com a minha irmã, desde que se conheceu a gente construiu uma relação 100%, tanto que a comunicação pra me conhecer aconteceu independente dele, a relação dela com a minha mãe foi construída, minha relação com ela, com a mãe dela”

Início da obra

O processo artístico dela começou quando criança, época em que gostava muito de pintar e desenhar, principalmente roupas, que gostava de customizar. Victoria diz que foi incentivada pela mãe. Foi Mirian quem a matriculou em aulas de pintura a óleo e acrílica. Nas duas aulas, os temas eram paisagens. “Até hoje, eu tenho quadros aqui dessa época”.

Durante o ensino médio, por conta da intensidade do estudo, parou com as aulas de pinturas. Mas sempre teve a cabeça na arte. Ela sabia que artes visuais era o curso que queria. Foi pelo Exame Nacional do Ensino Médio que ingressou na UnB, em 2017. O problema foi que não se sentiu pertencente à universidade no primeiro momento.

“Eu não me identificava com o lugar. Achava que não era meu lugar, que não era para eu estar ali, me sentia muito mal. Chegava à UnB e ia embora. Não me envolvi com nada, até que eu resolvi trancar o curso porque eu achava que o problema era o curso.”

Ela decidiu dar uma chance à arte e foi quando voltou para a UnB e teve uma aula de introdução à gravura com a professora Lynn Carone. Foi com a ajuda dessa docente que conseguiu novamente se encontrar. 

“Pelo tratamento que ela tinha com a gente, ela era meio mãe e as atividades eram muito interessantes, muito legais, muito diferentes de tudo que eu já tinha feito de arte. Era uma linguagem que eu não tinha contato ainda e foi na gravura que eu entendi sobre o que eu queria falar que era basicamente sobre mim, sobre o que eu sentia, sobre minha vivência”. Foi nesse momento que ela começou a amar o curso de artes visuais e a amar a ideia de ser artista.

Arte feita por Victoria Reis. Foto: Arquivo pessoal

Como artista, Victória trabalha com autorretrato, apesar de não ter uma linguagem específica. Trabalha ultimamente com performance (com fotos e vídeos) e cerâmica, que envolve desenho e escultura, que são as artes que ela faz com foco comercial.

Por falar de experiências pessoais em sua arte, buscando identificação de quem consome. “Tem o meu trabalho ‘De Todos os Dias Que Meu Cabelo Desenhou’, que é uma fotoperformance, que pessoas que tem o cabelo crespo/cacheado podem se reconhecer e se identificar porque é um autorretrato, mas eu to falando de uma vivência que é coletiva.”

Cerâmicas feitas por Victoria Reis. Foto: Arquivo pessoal

Victória participou de uma seleção, realizada pela produtora do DF chamada A Pilastra, onde ela foi chamada para expor em um projeto chamado “ILHÓ”, para introduzir novos artistas ao mercado. Vic explica que o projeto traz uma oportunidade para os novos artistas não só de expor em uma galeria mas também de entender coisas sobre o meio artístico.

“Tiveram algumas mentorias coletivas sobre precificação de obra, gestão de carreira, acompanhamento crítico sobre portfólio, depoimento de artistas, como você se apresenta para o mundo. Basicamente, e aí a exposição meio que como resultado.”

Ainda sobre oportunidades, ela comentou sobre a sorte de uma exposição na mesma época do projeto “Plano das Artes”. Explicou que a ideia é buscar conhecer e catalogar os centros de artes coletivos ou individuais para apresentar para as pessoas estes espaços com um acompanhamento especializado. “Então tiveram dois finais de semana em que a exposição estava no meio da rota do Plano das Artes, aí as pessoas que estavam escritas para o Plano das Artes passaram por lá”.

Para a artista, foi um momento marcante em sua carreira poder expor em uma galeria pela primeira vez e ainda conseguir mostrar sua arte para pessoas que nunca havia alcançado. “Aí foi muito legal isso, né, porque aí você está em contato com pessoas que não conhecem você, não conhecem a sua obra, vão ver aquilo pela primeira vez, vão entrar em contato pela primeira vez com que você fala, com a sua poética. Aí tem a surpresa de conhecer e se interessar pelo seu trabalho, e aí você poder também conhecer novas pessoas e falar do seu trabalho, então foi bem legal”.

Por Ane Caroline Costa, Manuela Bonorino, Vinícius Joanol

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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