Fechado há três anos por problemas estruturais, o Teatro Nacional Claudio Santoro vive sob o silêncio. Nem as obras começaram. Quem precisava do teatro teve que buscar alternativas. A Orquestra Sinfônica de Brasília agora ensaia no Cine Brasília e as escolas de ballet e teatro brasilienses também tiveram que procurar outros locais para as apresentações.
A cantora e professora Claudia Sigilião vivenciou a história do teatro. Ela relata que os espetáculos ali apresentados eram grandes produções. “Eram grandes cenários, com grandes coros que cantavam. Eu participei de vários, várias operas e também assisti a muitos espetáculos bons”. Claudia conta que chegou a assistir a espetáculos de Bibi Ferreira como Edith Piaf, e Marília Pera.
Para a professora, ensaiar e se apresentar em lugares diferentes a cada semana causam vários danos. “Você carrega o instrumento e está sujeito a intempéries de tempo, de clima, se tem ar-condicionado na sala e tudo mais”. Isso é ruim para o instrumento e para você. Isso é péssimo para os musicistas e para todo o corpo do teatro.
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Fechamento
A musicista Lucia Valeska, de 50 anos, que compõe a Orquestra Sinfônica de Brasília opina que isso tem afastado o público da arte. “Isso limita sensivelmente o acesso da população a uma gama de referências, empobrecendo e limitando culturalmente o público”, afirma.
A bailarina Amanda Augusta, de 20 anos, que dançava duas vezes ao ano no local conta que sente saudades do teatro. “A sensação de se apresentar na Villa-Lobos era muito boa, o palco era enorme, diferente da maioria dos teatros em Brasília, tinha uma capacidade de público muito grande e boa iluminação”. Amanda relata ainda a necessidade de obras, contou que a fiação estava exposta e os camarins precários. Ela lembra que os espelhos estavam quebrados, por exemplo.
A Secretaria da Cultura informou à reportagem que tem projetos para abrir o Foyer ainda este ano. A reforma está sendo adaptada para diminuir os custos e assim começar a obra. A Secretaria de Cultura não autorizou a entrada da Agência de Notícias no local.
Santoro
O compositor brasileiro Claudio Franco de Sá Santoro, que dá nome ao teatro, foi, sem dúvidas, um menino prodígio. Aos 18 anos, já era professor adjunto da cátedra de violino do Conservatório de Música do Rio de Janeiro. Santoro foi professor fundador de música na Universidade de Brasília e fundou a atual Orquestra Sinfônica de Brasília, por isso o teatro foi batizado com seu nome. Nascido em 1919, o músico morreu aos 69 anos, em 1989, enquanto regia um ensaio da orquestra do teatro nacional da Orquestra do Teatro Nacional de Brasília.
Liliana Gayoso é violinista da Orquestra Sinfônica de Brasília e estava presente no momento em que o maestro Claudio Santoro passou mal. “
“Foi no começo do ensaio. Ele estava bem, estava no pódio. Quando ele levantou a batuta para reger ele caiu para frente, já inconsciente, porque o infarto foi fulminante. Aí alguns músicos que sentavam na frente o acudiram, o colocaram do lado do palco, no carpete, e a gente tem um músico que é médico que tentou reanimá-lo, mas o Dr. Cesar falou que foi fulminante”. Liliane relata ainda que o grupo ainda se apresentou no mesmo dia como forma de homenagem.
Espaço privilegiado
De acordo com informações da Secretaria de Cultura, o Teatro Nacional Claudio Santoro é o maior conjunto arquitetônico em Brasília destinado exclusivamente às artes. Composto por três salas, a maior é a batizada em homenagem ao compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos. Mais duas salas receberam nomes de pessoas importantes para a arte brasileira, a sala Alberto Nepomuceno, e a Martins Pena. O monumento foi batizado em tributo ao maestro brasileiro Claudio Santoro que foi o fundador da atual Orquestra Sinfônica de Brasília.
O teatro foi inaugurado por partes. Em 1966 a sala Martins Pena foi aberta ao público, funcionou por dez anos até ser interditada para obras. Só em 1981 o teatro foi entregue por completo. O projeto da obra é de Oscar Niemeyer e tem o formato de uma pirâmide sem ápice, contou com a colaboração de outros artistas como o italiano Aldo Calvo.
A arte envolve cada canto do projeto. Olhando de fora é possível observar, dos lados norte e sul, cubos brancos espalhados na parede e desenhados por Athos Bulcão, além de de 3.608 vidros nas fachadas leste e oeste. No interior existe um jardim projetado por Burle Max e tratamento acústico encomendado ao especialista russo Igor Sresnewski.
Os palcos do teatro já receberam nomes muito importantes como o famoso ballet russo Bolshoi, o cantor Caetano Veloso e a atriz Fernanda Montenegro. Os brasilienses também aproveitavam. Escolas de ballet e teatro utilizavam o espaço com frequência. A Orquestra Sinfônica de Brasília ensaiava e se apresentava semanalmente nesse espaço.
Por Laura Neiva