O escritor João Doederlein, de 26 anos, mais conhecido como Akapoeta, disse que o ofício de escrever versos funciona para ele como um grito de manifestação. Ele reconhece também que as redes sociais alteraram os escritos. E isso, na opinião dele, não é ruim.
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“A poesia quebra a estrutura da língua portuguesa que a gente sempre aprendeu e isso pode ser mais atrativo”, diz o escritor. Akapoeta esteve na Bienal do Livro de Brasília.
Ele ressalta que muitos autores contemporâneos têm escrito com linguagens mais comuns nas redes sociais, como Instagram ou Tiktok.
Atraente
Segundo o poeta, isso pode alcançar mais pessoas, que estejam apenas navegando nas redes ou que recebem o compartilhamento. E assim, consequentemente, tomarem um gosto maior por buscar esse tipo de leitura.
Ele dialogou com o público na bienal. O escritor considera que é muito importante trabalhar poesia desde a escola porque ela faz pensar, refletir e sair do texto que é estrutural e global.
Akapoeta escreveu quatro livros e ficou mais conhecido por postar os ressignificados das palavras em seu instagram e, depois, na publicação de seu primeiro livro: O livro dos ressignificados.
“Esse livro surgiu com a ideia de dizer o que as coisas significam para mim, numa tentativa egoísta de transformar todas as palavras do mundo em minhas palavras. Hoje eu vejo de longe o valor da existência desses textos”.
Senso crítico
Essa paixão por ressignificar as palavras é uma forma mais simples e atrativa que pode incentivar até mesmo o público que não é familiarizado com leitura, bem como diz Rosângela Corrêa, formada em letras.
“Existem pessoas, por exemplo, que não gostam de ler, mas elas podem se identificar tanto com a poesia, a ponto de ler apenas poesia. Não só ler, como aprender a desenvolver um senso crítico a partir disso”.
Durante o debate, Doederleine também mostrou que o jovem pode se sentir mais confortável em ler poesias escritas por alguém de faixa etária mais próxima a ele por conseguir sentir uma conexão bem maior com o que é dito.
“Então, existe um espaço comum em que o leitor se sente um pouco mais representado. Porque ele vê essa pessoa que escreve esses textos e pensa: ela é muito mais parecida comigo do que eu consigo imaginar”, afirma ele.
Ainda assim, o poeta pensa ser muito importante a leitura de autores e poetas clássicos, mas é mais fácil criar um gosto pela leitura quando há uma familiarização maior com a obra.
“O universo da poesia é muito amplo. O vocabulário é diferente, as rimas, os versos… e com certeza alguns estudantes vão se identificar com isso e podem se transformar em excelentes escritores lá na frente, em excelentes poetas. Então se não tiver esse incentivo ele não tem como admirar e abordar lá na frente”, diz Rosângela Corrêa, formada em letras.
Outra obra de João Doedeileine é “Coração granada” que é sobre a intensidade de sentimentos, para o bem ou para o mal, da ansiedade e do amor em forma de poesia.
Inclusive, a capa do livro traz a imagem de uma romã sendo esmagada por uma mão humana, o que faz alusão, ao relacionar-se com o título, ao nome da fruta em inglês: pomer granade. Além desses, ele tem o “Invisível aos olhos”, que é baseado em “ O pequeno príncipe” de Antony Saint Exupery e “Para ressignificar um grande amor”, seu último livro publicado. Todos eles são de poesia, e têm feito muito sucesso, principalmente entre os mais jovens.
Decisão
Apesar do sucesso atual, Akapoeta considera que não é fácil tomar a decisão de ser artista. Ainda existe uma visão muito negativa sobre sobreviver pela arte.
“Houve um momento em que me deparei com a possibilidade de que ser artista talvez não fosse uma realidade. E que ser publicitário fosse a opção certa, que fazer o curso fosse a opção correta, que ir atrás de um estágio e de um emprego fosse a coisa certa. E era um misto ali porque aquele garoto de dezoito anos queria fazer publicidade e dar o orgulho para a família, mas ao mesmo tempo ele continuava escrevendo os textos dele”.
Ele relata que isso é o que acontece com muitos jovens talentosos, mas que se perdem por falta de coragem de acreditar que na arte, que ainda não é tão valorizada como deve ser.
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Fotos: Nathália Maciel