Um Deus humanizado, com dúvidas e interligado às problemáticas da atualidade. Oxalá, Odin e outros deuses também são protagonistas. Mesmo no terreno áspero da religião, o cartunista carioca Carlos Ruas Bon, de 31 anos, consegue na tirinha “Um sábado qualquer” mexer, com dose de sarcasmo, com os leitores de internet. Formado em Desenho Industrial, trabalhou como design gráfico. Após criar artes para os outros, decidiu que era o momento de produzir as próprias. Foi através dessa ideia que surgiu a tirinha. Sucesso na internet e no público, o trabalhoganhou o prêmio HQMix, o Oscar Brasileiro das tirinhas no ano de 2012. Reconhecimento chegou na mesma medida de visibilidade. Está em programas de TV e tem atraído fãs para seu blog e página de Facebook.
Foi dentro de casa que encontrou o maiorincentivador, o pai. Ele achava importante o filho ter algum dom artístico e, por isso, decidiu ensiná-lo a desenhar com cinco anos de idade. Ele vem de uma família religiosamente eclética. O patriarca é ateu e a avó é espírita. Estudou a vida inteira em uma escola católica. A partir deste convívio, despertou o interesse em estudar todas as religiões e também a mitologia.
A maior intenção com os quadrinhos é mostrar a adversidade religiosa e tentar pregar a união delas. “Todos temos pecados, até os deuses”, destacou. Questionado se já sofreu problema de intolerância religiosa, ele destaca que haters já havia o atacado. “Eles falaram que eu iria para o inferno pelas tirinhas que eu escrevia”, contou. Mas Carlos prefere não respondê-los nem se envolve quando os comentários acabam se tornando uma grande discussão entre os fãs. Também afirma que até o momento não foi processado por ninguém por causa das tirinhas.
Quando decidiu escrever as 10 primeiras, Carlos enviou os trabalhos para diversos jornais que recusaram as produções. Foi quando viu na internet a chance de divulgá-la. Para surpresa, no primeiro ano de existência o blog já tinha 10 mil compartilhamentos diários. Após 7 anos, desde que lançou a primeira tirinha, hoje vive exclusivamente da arte e dos produtos licenciados como bichos de pelúcias, camisas, agendas, canecas e outros produtos que podem ser encontrados na loja virtual.
Empreendedorismo da arte
Mas, no início, ser um empreendedor não foi tão fácil como ele imaginava. Cuidar do próprio negócio, administrá-lo e tornar rendável foi tarefa desafiadora. Mesmo sabendo que a internet é um meio de reprodução livre, sem o devido crédito autoral, Carlos não considera que a rede seja prejudicial para o trabalho. Afirma que foi através dela que ele se tornou conhecido. Tanto é que fica feliz quando as tirinhas são utilizadas em provas. Mas cobra quando elas vão parar nos livros didáticos.
Após ter alguns gatos e cachorros na infância, decidiu criar há sete meses a tirinha “Cães e Gatos”. No trabalho, ele mostra além das personalidades dos bichos, mas, também, demonstrar o relacionamento e convívio diário. Mas a realidade é que a verdadeira intenção de Carlos era fazer uma analogia entre os desenhos dos trabalhos com um casal que vive momentos de altos e baixos. Questionado pelos fãs, ele afirma que o livro dos novos personagens em breve será lançado.
De personalidade tranquila, Carlos recebe o público de forma atenciosa. Gosta de conversar e fica feliz quando recebe um elogio de uma das fãs. O público é familiar, já que atende desde crianças de 10 anos até adultos de 60. Muitas vezes famílias inteiras fazem questão de conhecer o cartunista que, cuidadosamente, autografa o livro e desenha um dos personagens preferidos dos fãs. Também atende a pedidos de pessoas que prestigiam o trabalho dele e desenha tirinhas para serem guardadas com carinho.
Por Márcia Torres