Cinema: O Homem do Norte traz vingança, sangue e realismo

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O diretor americano Robert Eggers, responsável por A Bruxa (2015) e O Farol (2019), volta à telona com o seu mais novo filme, O Homem do Norte (EUA, 2022).

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Com estreia nesta quinta-feira, 12, no Brasil, o longa-metragem bebe da mesma fonte, a vingança, que marcam obras como Hamlet (escrito em 1603), de William Shakespeare, ou O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas (publicado em 1844). Ambos com diferentes versões para o cinema.

O tema do ajuste de contas com o passado aparece em diferentes roupagens, como em O Rei Leão (1994), para comover públicos de todas as idades.

Em O Homem do Norte, há mais uma visão original da temática, com a inserção de elementos surrealistas para tratar da obstinação de uma personagem. Eggers é considerado um dos grandes nomes da nova geração de diretores americanos. 

Sob o véu da mitologia nórdica e da cultura viking, a obra é um banho de sangue e teatralidade, fugindo do óbvio e com chances de ser um dos grandes filmes do ano.

Enredo

Amleth (Oscar Novak), um príncipe e herdeiro do trono de um reino nórdico, testemunha o assassinato do pai (Ethan Hawke) pelas mãos do tio Fjölnir (Claes Bang). A mãe (Nicole Kidman) e o reino são tomado pelo assassino.

Sem opções, o jovem foge em um barco, sob o juramento de um dia voltar para vingar o pai, salvar a mãe e matar o tio.

Amleth, esquecido de seu passado, se torna um berserker enfurecido (Créditos: Divulgação)

Anos depois, mais velho e consumido pelo ódio, Amleth (Alexander Skargsård) recebe o chamado espiritual de uma bruxa (Björk), para que retomasse sua promessa esquecida.

Assim, com a crença de que seu destino já está traçado pelos deuses, ele parte em sua jornada de vingança, acompanhado da feiticeira eslava, Olga (Anya Taylor-Joy).

Expectativas

O Homem do Norte é fruto da primeira parceria entre Robert Eggers e um grande estúdio, o Focus Features. Com um orçamento acima de US$ 70 milhões, o longa-metragem tem proporções diferenciadas em comparação aos longas antes produzidos, como A Bruxa e O Farol.  

O filme tem sido anunciado como um blockbuster de ação. No entanto, O Homem do Norte vai muito além do que apenas esse gênero, explorando, especialmente, o surrealismo e a cultura nórdica como um todo.

Esse fato pode acabar pegando algumas pessoas de surpresa, especialmente devido ao trailer do filme ser recheado de cenas de ação, que são menos comuns no longa-metragem do quanto se dá a entender pela prévia.

 

Assista ao trailer oficial de “O Homem do Norte”

Atuações

O longa-metragem reúne grandes nomes da indústria cinematográfica como Alexander Skargsård, Ethan Hawke, Nicole Kidman, Anya Taylor-Joy e Willem Dafoe, com essa sendo a segunda colaboração entre os dois últimos e Robert Eggers. Também temos o retorno de Björk à atuação, 22 anos após sua última participação em um longa-metragem, Dançando no Escuro (2000).

Protagonista do longa “O Homem do Norte”, o sueco Alexander Skargsård (A Lenda de Tarzan e Big Little Lies) dá um show de atuação sempre que está em tela.

Com o auxílio de diálogos intensos, o ator traz à tona o ódio e sede de vingança de Amleth de forma tão crua que se torna quase tangível aos espectadores. 

Durante as cenas de batalha, tamanha é a fúria do personagem que o próprio se assemelha mais a um animal, do que a um homem.

Alexander Skarsgård, interpretando Amleth, é o grande destaque da trama (Créditos: Divulgação)

Outro destaque entre o elenco é o dinamarquês Claes Bang (The Square: A Arte da Discórdia). Ao interpretar Fjölnir, o ator foi capaz de dar profundidade e trazer diferentes nuances a um personagem que poderia ter sido, facilmente, unidimensional e esquecível.

Na segunda metade do filme, Fjölnir é um dos que rouba a cena, com múltiplas facetas sendo apresentadas ao público, podendo, até mesmo, deixar de ser considerado o vilão da trama.

Veracidade

Em sua produção, Eggers realizou uma extensa pesquisa, além de contar com uma equipe de especialistas na cultura viking e mitologia nórdica, para que tudo estivesse o mais realista possível, desde os acessórios utilizados pelos personagens, até a arquitetura das casas e barcos presentes no longa.

Essa escolha mostra-se um dos grandes acertos do filme, dando uma luz de autenticidade a uma cultura e mitologia que sofreram muito com sua popularização em massa e, consequentemente, mal entendimento.

Um dos aspectos realistas da época mais presente no filme é a relação do indivíduo com a religião. Com diversos rituais diferentes da mitologia nórdica ocorrendo ao decorrer do longa, as crenças populares estão sempre presentes, motivando e aprofundando a narrativa e as ações tomadas.

O uso do surrealismo para explorar essas questões, especialmente através de cenas que mostram planos astrais e personagens da mitologia nórdica, é uma das assinaturas próprias do diretor, presente também em suas outras obras.

Cinematografia

Fazendo jus ao orçamento mais alto do que está acostumado a trabalhar, Eggers parece concentrar boa parte disso nas partes da cinematografia e do visual do filme, com bastante CGI sendo utilizado, mas quase imperceptível por sua qualidade.

Os cenários são cheios de detalhes e referências, com visuais que vislumbram por suas belezas e magnitudes, o que causa um contraste aos personagens, que possuem vestimentas simplistas e com poucas cores, de acordo com a realidade da época.

Épico viking e o homem

No geral, “O Homem do Norte” tem tudo para ser um grande sucesso, porém, receber a classificação indicativa de 18 anos no Brasil pode ser um dos dificultadores de seu êxito em território brasileiro, além de, claro, ter que competir por espaço ao lado do blockbuster gigante da Marvel, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Se pegarmos outros grandes épicos como Gladiador (2000) e Conan, o Bárbaro (1982), juntamente de O Cavaleiro Verde (2021), e acrescentarmos, em grande escala, o aspecto místico e tradições da cultura nórdica, somado a visão única de Robert Eggers, O Homem do Norte é o resultado.

O longa-metragem traz uma história direta e simples, com seus pontos altos sendo os aspectos visuais, atuações e o realismo. 

O épico viking de vingança entrega aquilo que promete e ainda vai além, o que pode causar estranheza em alguns, especialmente para aqueles que procuram apenas um banquete de cenas de ação.

O desenvolvimento é feito de forma lenta, e as cenas de luta ocorrem espaçadas entre si, deixando, assim, bastante espaço para que a mitologia nórdica que cerca o conto original de Amleto possa ser explorada com calma pela visionariedade do diretor.

Ficha técnica:

Direção: Robert Eggers;

Roteiro: Sjón e Robert Eggers;

Elenco: Alexander Skargsård, Ethan Hawke, Nicole Kidman, Claes Bang, Anya Taylor-Joy, Willem Dafoe e Björk;

Duração: 137 min;

Gênero: Ação, fantasia, drama;

Classificação indicativa: 18 anos;

Título Original: The Northman;

Origem: Estados Unidos da América;

Distribuição: Universal Pictures;

 

Por Bernardo Guerra*
Trailer e fotos: Divulgação
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

* O repórter assistiu ao filme a convite da Espaço/Z

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