Coletivo indígena faz vaquinha on-line para comprar equipamentos para filme

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O coletivo Kuikuro, de indígenas da aldeia Ipatse do Alto Xingu, que tem premiações em pelo menos cinco filmes, está sem recursos para outras produções. Por isso, os coordenadores do grupo resolveram apelar para uma “vaquinha” on-line a fim de arrecadar R$ 15 mil para comprar uma nova câmera e um microfone.    Hoje, a vaquinha já atingiu 72,58% do seu objetivo, ou seja, R$ 10,8 mil. O cineasta indígena Takumã Kuikuro, de 32 anos, disse que a história dele no cinema começou no ano de 2010, com o projeto ONG “Vídeo Nas Aldeias”. Indígenas, o antropólogo Carlos Fausto e o diretor Vincent Carelli percorrem povos no norte do país para ensinar as pessoas a valorizarem os próprios costumes por intermédio de produtos cinematográficos.

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Ele explica que o  intuito dessa aproximação do Vídeo Nas Aldeias com a Assossiação Kuikuro do Alto Xingu era trazer para os indígenas conhecimento técnico de audiovisual a pedido do cacique que via a necessidade de que os membros da aldeia registrassem o cotidiano de suas vidas e a cultura própria do povo Kuikuro. “A gente estava querendo registrar essa cultura dentro da nossa aldeia”, afirma Takumã. Segundo ele, o audiovisual é um recurso importante para registrar a vida das aldeias exatamente como ela acontece, e registram as peculiaridades de certos rituais e costumes.

Por demanda

A dificuldade de distribuição dos filmes indígenas produzidos por Takumã é combatida com a ajuda do projeto “Vídeo Nas Aldeias”, que se responsabiliza por distribuir os filmes do diretor em festivais de cinema, mostras de conteúdo indígena. Além disso, Takumã afirma que tem trabalhos disponíveis na Netflix. Um deles é o filme “As Híper Mulheres”. Outros filmes circulam em mostras cinematográficas, como o filme “Londres como uma Aldeia”.

Sendo assim, o trabalho cinematográfico da aldeia formou o Coletivo Kuikuro, cujo principal objetivo é divulgar o modo de vida da comunidade para todo o mundo e receber o respeito necessário da sociedade “ocidental”. “Nosso objetivo não é dinheiro, é divulgar nossa cultura para ser respeitado pelo homem branco”, reclamou.

Falta de espaço nas TVs públicas

14394027_686165431552154_569839604_oSegundo o historiador Frederico Tomé, a produção de conteúdo cultural indígena partindo dos próprios indígenas é fundamental  uma vez que, para o professor, a política muitas vezes adotada pela antropologia, em geral, de tutelar e “dar voz” aos indivíduos marginalizados e afastados da sociedade enfraquece a autonomia desses povos, considerando-os como incapaz de se exprimir. Ainda é possível notar, segundo o professor, uma lógica de dominação em relação ao índio quando se pensa em “falar por ele”, nesses casos. “’Dar a voz’ significa falar por alguém, e falar por alguém te coloca como intermediário no discurso. Sendo assim, invariavelmente, a sua concepção particular do mundo interfere no discurso”, afirmou o professor.

Tomé também aponta como um problema sintomático para a situação de difícil divulgação de material cinematográfico indígena, o enfraquecimento das Tvs públicas como EBC e TV Brasil, bem como as Tvs estaduais como a TV cultura de São Paulo faz com que esses veículos não alcancem o grau de autonomia desejável. Segundo Frederico, esse enfraquecimento faz com que grupo políticos capturem a autonomia desses veículos, o que gera assim uma relação de interesse político na programação dessas Tvs. Isso tomaria o espaço que deveria ser entregue a produções como as de Takumã .

Segundo o professor, a falta de visibilidade desses materiais é como negar a existência dos povos indígenas e criar uma relação de dominação do “homem ocidental” em relação aos índios.  São deficientes os equipamentos, a capacidade técnica dos cineastas e a divulgação por parte das Tvs públicas que deveriam ter como objetivo divulgar esses produtos culturais. Essa deficiência das Tvs  públicas gera deficiências gravíssimas, segundo o professor, como por exemplo, uma série de atitudes preconceituosas cometidas todos os dias contra essas comunidades assim como uma percepção lateral da existência desses povos e desses produtos cinematográficos produzidos por eles.  “ Há uma concepção do mundo dos indígenas que não é certa nem errada. Ela deve ser respeitada na sua diferença e com alteridade”, afirmou.

O professor ainda argumenta que as Tvs comerciais, que são um forte meio de comunicação em massa, tem seus interesses pensados em uma lógica econômica onde se criam relações dependentes com setores agropecuários, mobiliários e políticos, o que gera um afastamento do conteúdo indígena que vem com forte denúncia a esses setores econômicos e até com uma causa de consciência ecológica. Sendo assim, há uma intenção por parte desse meios de inviabilizar uma discussão mais ampla desses assuntos. Frederico ainda faz uma consideração a respeito de algumas ONGs que direcionam seus interesses e acabam não ajudando devidamente o povo indígena, porém lembra que isso não é geral e que o papel das ONGs é fundamental para a divulgação desse conteúdo.

Em entrevista para a Agência de Notícias UniCEUB, o diretor Vincent Carelli, afirmou que os conteúdos cinematográficos indígenas, embora sofram dificuldade para serem divulgados, recebem muitos elogios e prêmios como os recebidos no festival de Gramado pelo diretor e lembra que esse tipo de filme não são filmes de entretenimento, mas filmes de guerrilha.

Por Bruno Santa Rita

Fotos: Divulgação

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