O ”Festival Palhaças do Mundo” traz, de 12 a 15 de outubro, para Brasília o discurso da diversidade e a discussão política através da poesia, da encenação e da comédia. Palhaças do Brasil, México e Portugal refletem a respeito do lugar da mulher no mundo e abrem o mercado para artistas. Segundo a coordenadora do festival, Manuela Castelo branco, é inegável a existência de palhaços em Brasília e o festival propõe uma pesquisa e divulgação da linguagem da “palhaçaria”. Essas apresentações propõe uma discussão no âmbito poético por meio de metáforas como se pode perceber no passeio de bicicleta, “Bicicletalhaças”, que faz alusão às pedaladas fiscais supostamente cometidas pela ex-presidente da república, Dilma Rousseff e à recente legalização do ato após o impeachment ou a “Queimada de Sutiãs das Palhaças”, que bota em pauta o discurso do feminismo. “As pedaladas antes eram proibidas, agora não, então, vamos pedalar! Essa é a nossa resposta poética a esse momento político”, brinca.
Assista ao vídeo da visita das palhaças ao Salão de Palhaçaria Feminina
Manuela, que é a palhaça “Matusquella”, afirma que essa é a profissão que ela escolheu para a vida e já a pratica há cerca de 20 anos. Apesar de o mercado ser difícil para essa arte, o festival acontece desde 2008, com o nome de “Palhaças em Brasília”. Segundo a artista, esse festival tem motivado muito a cena cultural para as artistas de Brasília. Agora, que o festival tomou maior proporção, incrementou- se também a discussão de temas mais polêmicos como o feminismo e a política atual do Brasil representados, por exemplo, nas apresentações coletivas, chamadas também pelo organização do evento de “invasões”.
O festival é um ponto de encontro entre as palhaças de todo o mundo. É por isso que se pode contar com o trabalho da artista mexicana Gabriela Muñoz, de 35 anos. Ela disse que sempre quis ser artista de circo e que tudo caminhava para ela se tornar uma palhaça. Gabriela iniciou seus estudos na área na escola London International School of Performing Arts (Lispa), em Londres, na Inglaterra, onde teve um grande apoio dos professores para seguir na carreira. A artista procurou aprofundar os conhecimentos de teatro em oficinas e também atuou em iniciativas sociais em lugares carentes. A atriz contou à Agência de Notícias UniCEUB que as risadas provocadas por ela geravam um sentimento de esperança e que isso é o motivo dela ser palhaça. “Todo o meu trabalho e tudo o que faço gera um pouco de esperança, gera algo melhor”, afirmou.
A falta de oportunidade para as palhaças atravessa o mar. A portuguesa Maria Simões, de 40 anos, critica que, em Portugal, não há escolas de palhaços. Ela afirma que quase toda a sua formação como palhaça foi construída fora do país em oficinas de teatros e estudos próprios. Ela acrescenta que a arte dos palhaços ainda está muita no início e que por isso não dispõe de muito espaço. Para ela, um dos objetivos do festival é romper fronteiras, sejam físicas ou não. Ter artista de vários lugares é uma grande forma de se fazer isso e até uma prova de que o festival está alcançando o seu objetivo. “Acredito em um mundo sem fronteiras e isso não é algo impossível”, lembra Maria.
Palhaças feministas
O espetáculo é composto apenas por mulheres palhaças, o que traz uma grande reflexão sobre a posição da mulher na sociedade, na arte e como palhaça. Segundo Maria Simões, ainda é muito necessário uma reunião feminina de artistas para protestar e dialogar sobre seus direitos. Em Portugal, ela foi organizadora do Primeiro Festival Internacional de Palhaças, “Bolina”, na Ilha de São Miguel, no Açores e ela afirmou que eventos como esse e como o “Palhaças do mundo” são muito importantes para tornar visível o trabalho e a perspectiva de vida dessas mulheres em um mundo que transborda o machismo para a arte e o teatro. “As palhaças sofrem triplas discriminações. Elas são mulheres, artistas e palhaças. É como se tivéssemos escolhido o caminho mais difícil dos difíceis”, lamenta a palhaça.
A mexicana tem uma visão positiva do evento e lembra que ser uma mulher palhaça é abrir um caminho de discussão diferente do normal. Antigamente, a mulher imitava o homem. Hoje o objetivo é exprimir o lado feminino sem querer fazer referência aos homens. Ela propõe uma ótica igualitária e foca que todos nós somos humanos antes de sermos homens e mulheres e que o mais importante é se conectar independentemente do sexo. “O mais importante é criarmos pontes com as pessoas de todos os sexos e de todas as realidades”, afirma a palhaça.
Confira a programação completa no site.