O filme de animação “Como treinar o seu dragão 3” (How to Train Your Dragon 3), é dirigido por Dean DeBlois
As pessoas esperam uma ordem em meio a uma crise. O chefe pede um tempo para pensar. Enquanto isso, burburinho e agitação. “Será que ele sabe o que fazer?”, perguntam-se. O filme de animação “Como treinar o seu dragão 3” (How to Train Your Dragon 3), dirigido por Dean DeBlois e que estreia nos cinemas brasileiros, é vasto em dúvidas e não entrega todas as respostas, o que é fundamental em uma obra cinematográfica. No encerramento da trilogia das aventuras da amizade entre o rei Soluço e o dragão Banguela, em uma comunidade viking na ilha Berk, reflexões sobre lealdade, coragem e amor estão nítidos em uma narrativa que pode ser interessante para toda a família. De novo, a figura mítica do dragão pode ser reconhecida como uma metáfora para os dramas e demônios que todos nós carregamos ao longo da vida.
Os temas de alguma forma já estavam contemplados principalmente no primeiro, quando o então príncipe Soluço tinha que honrar a tradição familiar e ser um matador de dragões. Ocasionalmente, ele descobre que o bicho não é tão feio quanto pintam. Nem ele é tão medroso quando se estima. O animal mais perigoso, um “fúria da noite”, que ganharia o nome de Banguela, é machucado e precisa enfrentar uma deficiência.
No segundo filme, os dragões já são aceitos na comunidade. Soluço também traz marcas no corpo e na alma, ao encontrar a mãe pela primeira vez. E assim precisam proteger os seus dragões.
No terceiro, finalmente, o visual continua encantador, com planos aéreos incríveis, que somente a imaginação, o capricho técnico podem dar conta de cenas entre as nuvens. A diferença é que as cenas de floresta fazem com que a neblina baixe e a animação fique mais soturna e, ao mesmo tempo, íntima.
No filme, Soluço, um jovem rei, passa a entender aos poucos diferentes significados do amor (inclusive com a namorada corajosa Astrid), enquanto vê a comunidade que lidera profundamente ameaçada pelo vilão Grimmel. Ele entende que é impossível seres humanos conviverem com os “perigosos” dragões. Por isso, é necessário matá-los. Humanos formam a raça mais importante, argumenta o personagem. O tema ambiental, inclusive, poderia ser ainda mais tratado.
O vilão é poderoso e experiente, e Soluço se vê desafiado dentro de sua comunidade. Nos momentos de dúvida, ele é questionado e seu reinado está longe de ser uma unanimidade. Há quem torça por sua derrota para pegar o trono. Entre os dragões, Banguela está apaixonado pela Fúria da luz, um dragão-fêmea branco. Isso deve acarretar também complicações para o rei. “Você não é nada sem seu dragão”, vaticina o vilão.
Ao longo da narrativa, as nuvens ficam menos espessas, mas não as dúvidas ficam mais claras. Há de se destacar algumas soluções muito rápidas que resvalam em clichês, mas que não tiram as emoções ou as reflexões do trabalho. Na ilha gelada de Berk, “maravilhosa em que o inverno dura o ano inteiro”, segundo o Soluço, discussões universais sobre amizade e legado deixam as cenas mais claras e menos áridas. Outros temas importantes trazidos são as questões de territorialidade (Berk se expande para outras ilhas) e propriedade (minha ilha, meus dragões… Será?). Para crianças, fica mais que o espírito de aventura. Para adultos, talvez, a identificação dos dragões nossos de cada dia.
Por Luiz Claudio Ferreira*
- A convite da Espaço/Z