O historiador de arte Gaudêncio Fidelis, curador da polêmica mostra “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, ainda não se conformou com a decisão do patrocinador da exposição (o banco Santander), que suspendeu a exposição. Ele esteve em Brasília nesta semana para conversar com universitários sobre a decisão. Para ele, foi uma ação autoritária que fere os direitos básicos da democracia. “A medida que a exposição foi autoritariamente encerrada, a partir de informações difamatórias, o diálogo foi interrompido (…) a população reabriu essa discussão após o fechamento da exposição”.

Confira entrevista com Gaudêncio Fidelis:
Ele explica que a liberdade de expressão foi interrompida não só no âmbito da arte, mas também em outros aspectos políticos e sociais. Porém, mesmo com o fechamento da exposição, a discussão não cessou. “Essa exposição tem uma grandiosidade artística que, junta ao conjunto das temáticas que a exposição trata, ela ganha uma importância enorme. Tanto que, após o fechamento, ela ainda é discutida”, explica.

“Guerra Santa”
“Eu chamei de uma guerra santa”, disse. Para Gaudêncio Fidelis, as ações do Movimento Brasil Livre (MBL) foram “uma cruzada moralista para criar um processo de criminalização da arte”. Segundo ele, isso pode significar um ataque à academia do país. “Foi roubado da sociedade brasileira de assistir a exposição. Isso é um ataque ao universo acadêmico”, conclui.
“Precisamos defender a democracia com coragem”

A respeito das eleições de 2018, Gaudêncio sugere que a população esteja “100% vigilante” e consciente das movimentações políticas do país. Ele exemplifica que o MBL (Movimento Brasil Livre) não é um partido político, porém é um movimento que “presta serviços para a direita brasileira”. Para o curador, é necessário que a população tenha consciência das causas e das articulações dessas ações.
O Santander Cultural, na ocasião, publicou duas notas sobre o tema. Em uma delas, pediu desculpas a todos os que sentiram ofendidos. “Ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana”. Para a mostra, o Santander Cultural conseguiu captar R$ 800 mil via Lei Rouanet.
O MBL foi procurado para comentar as declarações do curador, mas não se pronunciou a respeito.
Por Bruno Santa Rita e Giovanna Pereira
*Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira