Resumir a imagem grafitada como expressão estética pode não ser o significado mais completo, segundo a artista gráfica que se identifica como Malaka, que é da região administrativa do Gama.
Mas a artista defende que é constituída por “expressão, vivência e política”, como ela mesma identifica.
Adolescência
No grafite e na rima, ela encontrou formas de expressão que falam de onde vem e do que acredita.
Malaka, como prefere ser chamada pela marca de anonimato, hoje com 18 anos, presenteia a capital com seu grafite desde que ela tem 13 anos.
Independência
Ela faz parte de um movimento independente do Gama, o “ Independência da comunidade dos moradores”.
Os artistas do Gama têm o objetivo de unir lazer, arte e reforma das praças públicas com grafite e até com batalhas de rima, sem nenhuma ajuda de custo.
“A Praça dos Artistas (no Setor Leste do Gama) , depois da pandemia ficou abandonada (antes era um ponto conservado da cidade) e ela estava toda pichada. E a gente foi lá, mesmo sem apoio do Fundo de Apoio à Cultura, nem verba governamental. Então o nosso corre sempre foi muito independente”, explica.
Renovação da “praça dos artistas” ou “praça das 4 faces” no Setor Central do Gama.
Desafios
Apesar da paixão, ela explica que nem sempre é fácil fazer parte da intervenção urbana.
“Às vezes, a gente bate na porta de uma casa para fazer uma intervenção, e a resposta é negativa. Nem todo mundo quer entender o que a gente está tentando fazer ou a mensagem que a gente quer passar”.
Malaka conta que, no grafite, as telas são paredes, muros, casas, mas nem sempre a arte é bem-vinda.
“Às vezes a gente bate na casa para fazer o trampo e a pessoa já fecha a porta”.
No Gama, ela e o grupo conseguiram permissão dos órgãos responsáveis para a expressão em algumas partes da cidade, mas não é suficiente.
“Mesmo com autorização da administração, nós não somos bem-vindos. Nos olham feio, e dizem que isso não é arte, não é trabalho”.
“Minha contribuição no mutirão realizado no Setor Central do Gama”.
A artista considera que o grafite do Plano Piloto é totalmente diferente do grafite da periferia.
“ Na periferia você vai ver todo tipo de letra, de categoria, de modalidade. E no Plano já é uma área pensando naquela estética visual, de negócio colorido, sem muitas letras, o mesmo traço”.
“As realidades diferentes moldam a criação dessas artes e eu, como grafiteira de periferia, digo isso: (no Plano Piloto) são artes pensadas para ter uma estética de ser visualmente confortável e o grafite nem sempre é sobre isso”.
Mulher grafiteira
Para Makala, é preciso sempre romper essas barreiras do preconceito com as artista mulheres, que não se diferem em nada do público masculino.
“Eu fui tão capaz quanto eles. A gente é minoria, mas a gente não pode ter esse pensamento de ‘eu só vou me fortalecer porque eu sou mulher’. Não, eu vou me fortalecer porque meu trampo é forte, independente de eu ser mulher ou não”.
Segundo ela, às vezes acontece de o trabalho de uma mulher ser muito melhor que de um homem (no grafite e na rima), mas ainda assim as pessoas prestigiarem mais a arte de um homem, simplesmente por vir de um homem.
1º parte da intervenção urbana na Skate Park do Gama
No entanto, Malaka diz que o movimento feminino tem aparecido mais nas intervenções urbanas por Brasília e isso faz com que elas se fortaleçam mais enquanto mulheres e artistas e podem vir a se tornar as maiorias.
Rima
Foi através do grafite que conheceu a cena das batalhas de rima.
“Fui convidada para grafitar nas batalhas, e a gente usava poesias para preencher o movimento. A arte visual e a poesia falada se encontram ali, e foi assim que me aproximei das batalhas também”.
Além do grafite, ela também se expressa através da poesia, da música e do hip hop.
“É tudo muito conectado. A gente vai se encontrando nesses caminhos, e uma arte puxa a outra”.
Em um galpão no Gama, por exemplo, ela também já chegou a participar da “quebrada”, que, segundo ela, é um estilo de samba.
Assim, ela e outros grafiteiros acabam sendo convidados a grafitar nos locais dos eventos e se envolvem com vários outros tipos de intervenção urbana.
Presente de aniversário
“Eu não deixaria uma marca com meu nome, mas deixaria um questionamento. As pessoas tratam as outras hoje em dia sem olhar sob o olhar do outro. é muito fácil você julgar o outro, mas não sabe porque ele está lá ou o que o impede de estar em outro lugar. As pessoas não têm mais visão de empatia e não se preocupam em viver em sociedade”.
Por Ayumi Watanabe e Milena Dias
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira