Filme traz história sensível de reação feminina contra violência sexual e abusos

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Imagem: Divulgação

Baseado no Livro homônimo da autora Miriam Toews, lançado em 2018, o filme Entre Mulheres, que estreia em todo o país, é dirigido por Sarah Polley. O longa é inspirado em eventos reais, ocorridos na colônia de Manitoba, na Bolívia.

No ano de 2010, mulheres que vivem em uma comunidade religiosa isolada descobrem que os homens desta colônia passaram anos utilizando anestésicos para drogar e estuprar mulheres e meninas durante a noite, algumas vezes resultando em gravidez.

Quando uma delas consegue ver seu agressor durante a noite, o homem, preso em uma cidade vizinha, acaba por delatar os outros.

Enquanto estes homens estão sob prisão preventiva, mulheres de dentro da comunidade se reúnem em um galpão onde discutem o que deve ser feito para que possam se proteger, guardando seus traumas e dores já vividas.

Assista ao trailer

É tradição dentro desta comunidade, que segue a religião menonita, manter as mulheres em um estado sem escolaridade, a fim de torná-las totalmente submissas aos homens e suas necessidades.

Como não são ensinadas a ler ou escrever, elas convidam August (Ben Whishaw) para tomar nota de suas reuniões. Sendo ele também um membro dessa comunidade, aparenta sempre ser diferente dos outros que vivem lá.

Simbologia da obra

Para alguns, essa conversa pode não parecer interessante, fazendo com que o filme seja de fato apenas uma sequência de diálogos entre mulheres. Já para aqueles que estão dispostos a ouvir, esse é um filme sobre esperança.

O enredo apresenta a essas mulheres três alternativas: ficar e não fazer nada, enfrentar os homens ou partir.

Cansadas de suportar as condições de vida que lhes foram impostas, a narrativa do longa se constrói sobre o conflito entre lutar por justiça dentro de sua comunidade ou abandoná-la rumo ao desconhecido.

É dentro deste conflito que vivem os argumentos, as dúvidas e as esperanças das personagens dessa trama.

Imagem: Divulgação

As personagens se diferenciam em suas opiniões. Claire Foy (Salome), por exemplo, busca vingança. Já a personagem de Jessie Buckley (Mariche), que vive um relacionamento violento, tem medo de perder sua segurança familiar. Rooney Mara (Ona) faz uma mulher que está grávida de um dos estupradores e mesmo assim permanece entusiasmada pela ideia de ser mãe e recomeçar a vida.

Polley consegue unir todos esses sentimentos em suas personagens, existe a que quer vingança, as que pregam o perdão, as que culpam o sistema e as que querem apenas deixar essa situação no passado.

O público é confrontado sobre qual destino as aguarda enquanto elas dialogam sobre permanecer na comunidade, em meio aos seus abusos, ou a incerteza de fugir em direção ao desconhecido.

Esse filme se torna o espelho da realidade de milhares de mulheres, esquecidas pelas circunstâncias e pelo tempo. Entre mulheres é uma daquelas experiências únicas que raramente temos a sorte de ter.

Imagem: Divulgação

O roteiro tem a capacidade de transformar palavras em sentimentos que vão além da tela e consomem o espectador. A trama é como um poema de libertação, passando por toda a dor e lamento que ela exige, enfrentando todas as dificuldades que surgem nesse processo de ser livre.

A direção do longa consegue abordar discussões sobre a falta de diálogo em relação às mudanças do corpo feminino, o papel da mulher na sociedade, sexualidade e transexualidade, tudo conduzido com cuidado e sensibilidade.

A violência durante a produção não é apresentada em cenas explícitas, suas discussões não são dadas em debates frios ou prolixos. Ao invés disso, eles são trazidos a fim de conduzir cada mulher a pensar sobre tudo, discutir sobre tudo e considerar cada hipótese.

Roteiro

Essa pode ser considerada uma produção atípica, distanciando-se da estrutura padrão de três atos. Trata-se de um filme linear, sem um clímax muito específico. O roteiro é um convite a uma reflexão necessária sobre a vida e as escolhas de mulheres que não querem mais ser silenciadas.

Embora esse tom sombrio conduza a trama do começo ao fim, o cuidado de Polley com a narrativa e todas as questões presentes nela consegue dar um ar de sutileza a essa atmosfera densa.

Com um espírito esperançoso em meio a tantos diálogos dolorosos, Polley tem a habilidade de se esquivar de uma perspectiva completamente depressiva, que por vezes pode beirar a exaustão

Direção de arte

O uso de cores se dá em tons frios e aspectos “envelhecidos”, com a ideia de uma fotografia antiga, cuja cor se desfez com o tempo. Tal técnica traz mais um elemento vital que torna o filme uma experiência completa.

A fotografia da obra se dá quase como um novo personagem, seu tom em cores sóbrias dão a produção um aspecto sem vida, como uma comunidade esquecida no tempo, descolorida e sem brilho.

Imagem: Divulgação

Dentro dessa estética, Entre Mulheres torna-se um filme que retrata a construção da dignidade de um grupo de mulheres em uma discussão que dita o ritmo da produção, intercalada por curtos flashes do passado.

Por fim, Sarah Polley entrega algo além do esperado. Uma obra delicada, sensível, instigante e bonita de se ver, com uma direção de arte admirável, atuações fortes e surpreendentes e diálogos bem estruturados.

Ficha técnica

Título original: Women Talking

Direção: Sarah Polley

Roteiro: Miriam Toews e Sarah Polley

Gênero: Drama

Duração: 1h e 44min

Elenco: Claire Foy, Jessie Buckley, Rooney Mara, Frances McDormand, Ben Whishaw

Por Maria Paula Meira
A repórter assistiu à pré-estreia a convite da Espaço/Z
Trailer e fotos: DIvulgação
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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