Um momento de pensar. De pensar em nossas vidas, de pensar na Terra. “Nos nossos governantes e o que [isso] está fazendo com a gente.” Hugo Rodas, diretor consagrado do teatro brasiliense, nascido no Uruguai, estabeleceu sua carreira em Brasília. Não mede palavras em uma reflexão descontraída mas série. “Me sinto com a energia de 18 anos, não aos 80.”
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O diretor, que também lecionava teatro antes das quarentenas, está passando o período de isolamento com dois colegas, também artistas. Ele afirma que os confinamentos são importantes para que os artistas pensem, reflitam sobre o atual momento, muito além da pandemia. “Se não fosse o corona, estaria com uma bandeira no meio da rua gritando”.
Rodas acrescenta que é um momento difícil, apesar de aflorar a criatividade. Especialmente para as classes mais baixas. “É realmente muito cruel de alguma maneira, por quê está protegendo uma classe, mais alta, favorecida.” Ele ainda diz que muitos almejam chegar nas classes mais altas. Mas não o professor. A ele, interessa apenas conseguir fazer seu trabalho, e de forma honesta. “Não estar pensando em mim, e sim em quem tem menos.”
Teatro para todos
Ele sente que poderia alcançar mais com suas peças. “Tanto com “Saltimbancos” tanto com “O rinoceronte” […]. Uma aceitação, mas tudo termina sendo festejado por uma classe, e para outra não chegamos”. O professor reflete que é necessário fazer com que educação chegue a todos, ou como chegar à todos. “A forma seria fazer nas satélites, nas ruas”.
Mesmo não chegando para todos que gostaria, o diretor de teatro afirma que quase 20 mil pessoas estiveram presentes em suas últimas peças. Ele não nega a importância desse público e discorda que as pessoas têm ido menos ao teatro, nos períodos que antecederam a pandemia. “Isso é um reconhecimento”, afirma.
E depois?
O diretor diz estar pensando, também, no que virá após as pandemias. “Se a pandemia é terrível, o que vem, com certeza, será muito pior.” Ele afirma que as pessoas terão de pensar, será um momento em que “as pessoas vão abrir os olhos, realmente […] e perceber o que está sendo feito politicamente” O professor reafirma que isso têm servido de inspiração para ele. Mas que o planejamento está difícil, por quê “não vai ser normal a volta” Quando voltar, que “voltar voando”.
Dentro de casa
O ator e diretor do Coletivo Truvação de Teatro, João Riecken, também conta como sua rotina e seus projetos foram afetados. Além de um cancelamento de uma temporada de apresentações, um evento em São Paulo, na Universidade de São Paulo (USP) foi cancelado e outro em Campinas adiado, sem data prevista. “Estávamos montando nosso cenário e iluminação […] quando a paralisação começou” afirma.
Apesar dos eventos cancelados, o ator diz que os artistas ainda foram pagos pela temporada. “Por enquanto não temos nenhuma outra perspectiva de renda através dos nossos trabalhos” conta. Cada um do coletivo precisou encontrar outras formas de manter uma renda nesse período. O membro do Coletivo Truvação de Teatro também afirma que existem editais que visam auxiliar os artistas, mas “Sabemos que somos só alguns dos diversos artistas afetados pelo momento e nem todos serão contemplados.”
Por João Pedro Rinehart
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira