A comunicação está no cerne das relações humanas e, em momentos de vulnerabilidade emocional, expressar o que sentimos torna-se essencial. “Quando me sinto sobrecarregada, deito e começo a ler. Isso me ajuda a distrair a mente e a reduzir a ansiedade”, conta Juliana Aschidamini, 21 anos, que mora em Santa Catarina.
“Quando me sinto ansiosa, pego um livro e mergulho no universo do personagem. Isso ajuda a aliviar o peso emocional”, acrescenta Maria Clara Santos, 20 anos, que, a mais de 3 mil km, em Pernambuco, compartilha de uma experiência semelhante.
Em tempos de crescente estresse e desafios emocionais, muitas pessoas encontram na escrita e na leitura um refúgio capaz de proporcionar alívio. Essas práticas não apenas servem como válvulas de escape, mas também funcionam como potentes ferramentas de autoconhecimento e resiliência.
Ao criar ou se conectar com palavras, seja por meio de um diário, de cartas não enviadas ou ao mergulhar em um livro, esse ato pode oferecer um suporte emocional significativo, ajudando na compreensão das próprias emoções e no enfrentamento das dificuldades da vida. Para muitos, esse processo tem sido uma chave fundamental na busca por cura e equilíbrio mental.
A psicóloga Laís Rosa e Silva Oliveira Santos, especialista em saúde mental, diz que as práticas de escrita e leitura contribuem para o processo terapêutico. Segundo ela, a busca humana pela comunicação sempre existiu, desde os primeiros registros pictóricos até a escrita moderna. “A comunicação está no cerne das relações humanas, e em momentos de vulnerabilidade emocional, expressar o que sentimos torna-se essencial para nossa sobrevivência psicológica. A escrita e a leitura são portas abertas para esse processo”, afirma.
Laís enfatiza que o ato de escrever é profundamente introspectivo, permitindo que uma pessoa organize seus pensamentos e sentimentos. “Quando escrevemos, temos a oportunidade de materializar aquilo que está difuso em nossa mente. Esse processo traz alívio emocional, proporcionando clareza e autocompreensão”, explica.
Para ela, a leitura também desempenha um papel essencial, pois oferece novas perspectivas, a possibilidade de se conectar com personagens que enfrentam desafios semelhantes aos nossos e, principalmente, a chance de identificar e nomear emoções antes difíceis de compreender. Ela também destaca o impacto positivo da ficção nesse processo. Histórias que retratam personagens em momentos de dor e transformação permitem que os leitores se sintam compreendidos, criando uma sensação de empatia e pertencimento. “A literatura nos ensina a lidar com emoções que, muitas vezes, nem sabemos que estamos vivendo”, afirma Laís.
Livro: Enquanto houver limoeiros, foto por Maria Luiza Pinheiro
Leitura oferece novas formas de ver a realidade
Para os leitores, a escrita e a leitura oferecem uma fuga terapêutica do cotidiano. Juliana destaca que, em muitos momentos, encontrar consolo e clareza nos livros foi essencial para lidar com suas emoções. Personagens de livros como os de Paula Pimenta, por exemplo, proporcionam conforto e identificação. “Às vezes, o que um personagem faz me ajuda a lidar com o que estou sentindo, mesmo sem saber o nome exato da emoção”, afirma Juliana.
Maria Clara diz que ao ler, consegue escapar da realidade de suas preocupações e do estresse diário. Ela também acredita que a leitura de ficção é uma forma de encontrar consolo, especialmente em momentos de solidão emocional. Porém, a leitura não serve apenas como uma fuga. Muitas vezes, ela oferece novas formas de ver a realidade e lidar com sentimentos difíceis.
Allyce Silva, 17 anos, do Amazonas, relata que o livro Leitura de Verão, de Emily Henry, foi um grande auxílio durante um período de luto. “A protagonista estava enfrentando o luto e, lendo sobre como ela lidava com isso, consegui encontrar algumas respostas para minhas próprias emoções”, revela Allyce.
A escrita também tem um papel importante nesse processo. Thauany Dos Santos de Ataide Silva, 19 anos, de Mato Grosso do Sul, destaca que escrever pode ser uma maneira de explorar e processar sentimentos profundos. “Quando estou passando por uma fase difícil, escrever me ajuda a entender o que estou sentindo”, explica.
O poder transformador dos livros
A literatura não só oferece uma maneira de escapar da realidade, mas também pode atuar como uma terapia. Sandra Linda Batista de Souza, 20 anos, do Rio de Janeiro, vê os livros como uma forma de suporte emocional em momentos de crise. “A leitura me acalma, me ajuda a relaxar e a refletir sobre minhas emoções. Por isso, considero os livros uma verdadeira terapia”, afirma. O livro A Vida Invisível de Addie LaRue, por exemplo, teve um impacto profundo em Sandra, ajudando-a a entender melhor suas próprias questões emocionais e trazendo-lhe conforto em momentos difíceis.
Sandra Linda Batista de Souza / Arquivo pessoal
Esse fenômeno de identificação com personagens e histórias é algo que ressoa com muitos leitores. Como Laís aponta, ao nos conectarmos com um personagem, podemos ser confrontados com nossas próprias emoções e até encontrar novas formas de lidar com elas. “A literatura cria um espaço seguro onde é possível explorar sentimentos e experiências que, talvez, não conseguiríamos enfrentar de outra forma”, diz.
Fuga e a conexão com a realidade
Além do conforto e da clareza proporcionados pelos livros, a leitura também permite que os leitores experimentem uma sensação de fuga. Para muitos, esse processo de imersão em mundos fictícios ajuda a aliviar o estresse e a ansiedade. Quando a realidade se torna muito difícil de lidar, a leitura oferece uma pausa emocional. “A leitura me ajuda a esquecer os problemas e a me concentrar no mundo do livro. É como se estivesse em um outro lugar, longe das minhas preocupações”, diz Allyce.
Thauany também concorda que a leitura proporciona uma sensação de desconexão do mundo real. “Ler é como entrar em outro mundo. Quando estou muito sobrecarregada, me isolo em uma história e sinto que estou vivendo outras vidas, o que traz um certo alívio emocional”, explica Thauany.
É claro que a escrita e a leitura oferecem um refúgio emocional único e eficaz para aqueles que buscam compreender seus sentimentos, processar sua dor e encontrar consolo. Para muitos, essas práticas se tornam uma forma de terapia, ajudando-os a construir resiliência, aliviar o estresse e promover o bem-estar. Como apontam tanto especialistas quanto leitores, a literatura não é apenas um escape, mas uma oportunidade de autoconhecimento, cura e conexão. Ao dar voz a nossas emoções e ao nos conectar com histórias de superação, encontramos não apenas uma maneira de lidar com a dor, mas também a força para seguir em frente.
Saúde mental
A psicóloga Carolina Almeida, de 38 anos, também compartilha uma visão enriquecedora sobre o papel terapêutico da leitura e da escrita. “A leitura pode ser uma ferramenta terapêutica valiosa. Ela oferece uma forma de escapismo saudável, permitindo que a pessoa se distancie temporariamente dos seus problemas e se concentre em algo externo”, explica. Segundo Carolina, livros podem proporcionar um espaço para reflexão, autoconhecimento e até mesmo normalizar experiências, mostrando ao paciente que ele não está sozinho. “Livros sobre autoconhecimento e mindfulness podem oferecer estratégias para lidar com a ansiedade e a depressão.”
Ela também destaca o poder da escrita: “A escrita tem um poder terapêutico imenso. Ela pode ajudar o paciente a organizar seus pensamentos e emoções, facilitando a compreensão do que está sentindo. Escrever sobre suas experiências pode ser uma forma de externalizar sentimentos difíceis, como raiva, tristeza ou frustração.” Carolina sugere que, para aqueles que enfrentam dificuldades emocionais, a escrita pode ajudar a ressignificar traumas e dar uma nova perspectiva, criando uma narrativa mais empoderadora e positiva.
Carolina recomenda o hábito de manter um diário emocional, onde a pessoa escreve sobre como está se sentindo. “Isso ajuda a liberar emoções reprimidas e pode promover uma sensação de alívio. Outra prática interessante é a escrita de cartas para si mesmo, tratando-se com mais compaixão e cuidado”, sugere. Ela também enfatiza a importância de começar com passos pequenos e sem pressões. “Não precisa ser uma leitura longa ou uma escrita perfeita. O importante é começar de algum lugar e ser gentil consigo mesmo”, aconselha.
Em resumo, a leitura e a escrita são práticas que, quando utilizadas com intenção, podem ser poderosas ferramentas de cura, autoconhecimento e fortalecimento emocional. Com o tempo, esses hábitos podem contribuir para o aumento da autoestima, maior resiliência emocional e, consequentemente, uma melhora significativa na saúde mental.
Por Maria Luiza Pinheiro
Supervisão de Vivaldo de Sousa