Literatura inspira estilistas a criarem roupas em protesto à violência psicológica

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Personagens da literatura contemporânea brasiliense que vivem traumas psicológicos inspiraram estilistas locais a produzirem roupas que chamassem atenção sobre o tema. Um desfile na semana passada trouxe à passarela a discussão que antes estavam nas páginas de livros. De acordo com os organizadores, os desfiles são como narrativas que podem colaborar para que mais pessoas pessoas denunciem todo tipo de opressão.

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Modelos apresentam desfile temático em Brasília

A estilista Ellen Cristina Moreira, 41 anos, conta que trabalhou com uma imersão na obra Duzinda, de Clotilde Chaparro que lhe serviu de inspiração. “Eu li, resumi e destrinchei todo o livro”. Dessa forma, ela conseguiu extrair os mínimos detalhes da obra e trazê-los para o seu figurino. A estilista usa como inspiração, os looks dos anos 30, com referência em tecidos de algodão, crepe e uso de botão encapado e decotes discretos.

A estilista afirmou que a experiência de trabalhar sob influência direta da literatura fez com que a leitura se tornasse algo mais rotineiro na vida dela e que inclusive influenciou na decoração da loja dela. “Passei a ler mais. Até coloquei livros aqui na loja”. Segundo Ellen, o evento aproxima pessoas da literatura brasiliense e da cultura, de forma geral.

A obra de inspiração, o livro “Duzinda”, traz a história de uma mulher que vive nos anos 30 e sofre violência psicológica, um tipo de agressão mais subjetiva que consiste em uma série de ofensas e atitudes que diminuem a vítima. Segundo a autora da obra, Clotilde Chaparro, o livro mostra uma realidade muito atual também no século 21, o que traz uma grande possibilidade de identificação dos leitores com a protagonista do livro, gerando uma forma de alerta para o combate ao abuso psicológico. “Toda pessoa que deixa o abuso chegar até ela, sucumbe”, afirma a autora.

Violência contra a mulher

Outro livro, “Um soco na alma”, também aborda uma temática de opressão sobre a mulher. A obra, de autoria da Beatriz Schwab conta a história de uma mulher que tem suas expectativas acerca do matrimônio quebradas pelo seu marido opressor que pratica violência psicológica contra ela. A protagonista do livro não possui nome próprio com o intuito de facilitar a catarse (identificação do leitor com o personagem). O objetivo de Beatriz com o livro é fazer com que as mulheres se identifiquem com a história e percebam que é necessário tomar uma atitude a respeito da situação. “É uma mulher que representa muitas outras”, afirma a escritora.

A estilista Lina de Albuquerque, que trabalhou com o livro Soco na Alma, diz ter tido uma experiência cheia de sentimentos pesados e fortes emoções. Sendo assim, a criação partiu de um âmbito mais abstrato para poder ilustrar o caos psicológico que ocorre na vida da protagonista que sofre internamente, sem compartilhar seus sentimentos com as pessoas e fingindo estar tudo bem em sua vida.

Cura pelos livros

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Beatriz Schwab quis denunciar violência psicológica contra mulher

Beatriz Schwab, além de escritora, também foi a produtora executiva do Vestindo Cultura e, além disso, participa de uma ONG chamada Instituto Chamaeleon, que trabalha com jovens e crianças que sofreram violências de todos os tipos. O instituto elaborou o projeto Literatura Cura que propõe uma interação dos leitores com os personagens a fim de amenizar os traumas vividos.

Segundo a Coordenadora de produção do Vestindo Cultura e diretora da agência de moda Scouting, Marina Sakamoto, o objetivo de democratizar a literatura por meio da moda foi alcançado desde a terceira edição do evento que ocorreu na livraria cultura. “Muitas crianças e pais saíram de lá com livros na mão”, afimou Marina Sakamoto. Para ela, a movimentação social que o evento traz é a luta para transformar a mentalidade das pessoas e conscientizá-las quanto aos abusos e violências sofridos.

Por Bruno Santa Rita (texto e fotos)

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