
Maria do Socorro Nunes Leite, 66 anos, mora hoje na comunidade de Alagado da Suzana, uma comunidade que fica entre o Gama e Santa Maria. Até o local, o percurso é de estrada “de chão”, mas feito mesmo de lama e persistência. Este caminho era percorrido por Socorro diariamente. Ela leva uma hora de ida e uma hora de volta, a pé, até chegar ao trabalho. Em momentos de chuva, o percurso piora, para chegar ou sair do local, é necessário ir bem devagar com o risco do carro ou mesmo do ônibus atolar. À noite, a única luz que se pode ver são a dos raios, anunciando que mais água está por vir. Clarice Lispector diria: “Ela me acusa e o meio de me defender é escrever sobre ela”. Aos 27, ela saiu de Alto Parnaíba, município no interior do Maranhão com população de quase 11 mil pessoas. Dez vezes menor do que o Gama, região administrativa no Distrito Federal. Socorro lembra a personagem Macabéa, do livro A hora da estrela, de Clarice Lispector, publicado no ano de 1977.
A história de A Hora da Estrela
“História lacrimogênica de cordel”
Sem nada nas mãos, mas com o desejo de encontrar uma vida melhor, ela saiu do interior para a capital do estado do Maranhão. Foi tamanha a coragem que não sabia nem onde iria ficar ao chegar em São Luís. Porém, depois de ter tomado a decisão, não voltaria mais atrás. Por isso, viveu debaixo de uma árvore durante três dias até achar local para se estabelecer, já que ainda não tinha recebido nada do emprego que conseguiu na prefeitura local. Se você pensa que Socorro reclamou de frio ou calor, vai se surpreender. Para ela, foi um “aprendizado”, “Esse momento que passei debaixo da árvore foi e é muito bom, eu aprendi a viver né. Dar valor a vida”, falou. As semelhanças começam aqui. A vida pode seguir as palavras de Clarice.