Exibido no último dia do 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o filme experimental “Não me fale sobre recomeços”, de Arthur Tuoto, é muito mais uma experiência visual do que uma narrativa. O longa é um compilado de imagens vindas de diversas fontes, misturadas com discursos em diferentes línguas e trilha sonora. “Se o filme tem uma reflexão, é sobre essa imagem contemporânea e sobre a heterogeneidade dela”, disse o cineasta.
Assista trecho do filme
Não Me Fale Sobre Recomeços (2016) | trecho from Arthur Tuoto on Vimeo.
Para Tuoto, o ponto é a experiência do espectador. O experimental tenta recriar o que acontece nos espaços midiáticos atuais. “É como a televisão, de ver várias imagens e coisas surgindo ao mesmo tempo, vários discursos e apelos”, conta o diretor. Além disso, Tuoto compara seu filme também ao que acontece no Youtube e no Facebook. “Quando você vai ver um vídeo no Youtube, você é obrigado a ver uma propaganda e ela acaba indiretamente dialogando com o que você quer ver”.
A experiência visual criada em “Não me fale sobre recomeços” é uma representação do bombardeamento de imagens presentes no cotidiano. “É uma coisa muito ambígua. O filme não critica, mas ele também não é uma celebração contemporânea imparcial”, afirma o cineasta. Além da imersão do espectador, o longa quer ter um conteúdo acessível e subjetivo. “O filme não foca em um assunto específico, ele quer ser mais esses deslumbres, acho que espelha uma experiência mais universal”, afirma o diretor.
Apesar de ter feito outros filmes antes, para Tuoto esse é diferente. “Tem uma proposta bem mais radical de criar um discurso comum através de áudio, imagens e de propostas diferentes e opostas, mas que reiteram essa experiência de espectador”.
O filme é um derivado, ou seja, as imagens não foram feitas pelo cineasta paranaense, e conta com um banco de imagens e pesquisa extensa de Tuoto. “Tem muita imagem de celular e de vines. Tem imagem de baixa e de alta resolução, então as imagens de diferentes naturezas dialogam”, comenta.
Justamente pelas imagens não serem autorais, o diretor acredita que a distribuição do filme seria difícil. O Brasil prevê a legalidade das obras derivadas, desde que o criado seja uma obra nova, “mas como é uma definição muito ambígua, dificilmente uma distribuidora vai aceitar isso e querer distribuir no cinema”. Tuoto pretende mandar “Não me fale sobre recomeços” para festivais pelos próximos dois anos e depois disponibilizá-lo na internet.
Por Isabella Cavalcante e Gabriel Lima