Interações cênicas, danças, afeto e contato. Da complexidade que é levar arte a um público já acostumado a vários nãos e a xingamentos, a artista pernambucana Ingrid Kaline de Souza descobriu uma missão de vida diante de pessoas com problemas psiquiátricos. O ideal se transformou em prática e pesquisa de mestrado na UnB. Entre a arte e a loucura, o projeto “Doida de Pedra” coloca pessoas esquecidas no centro de suas próprias criatividades e manifestações. Da margem, passam a ocupar o centro da cena mesmo com as dificuldades, obstáculos e burocracias típicos do mundo dos “sãos”.
Ingrid acredita que o trabalho artístico é o melhor processo para integrar os pacientes com a sociedade. “A intenção é desmitificar o ambiente hospitalar, mostrando que a patologia existe, mas que eles são pessoas que tem vida pulsante tanto quanto a gente”, explica.
De acordo com a artista, o objetivo do programa é socializar. “É poder estar junto com o outro com o que a gente tem e saber que o outro é tão louco como nós. O projeto é fazer barulho, gritar para o mundo que a gente tá aqui também”, conta. No Recife, ela coleciona boas histórias de pessoas que passaram a interagir e a se reconhecer como indivíduo. Uma das histórias que ela guarda com mais carinho é de uma senhora que ela identifica como Gê. “Ela dava sacoladas nas pessoas, era agressiva. Muito bom assistir à transformação dessa mulher”. Gê até gravou um vídeo de todas as expressões que ela já foi “xingada”.
Dança –
Uma das oficinas do projeto é “Os ciganos de luz”. Surgiu em Recife com apresentações de ciganos em hospitais, creches, asilos, em ambientes que segundo Ingrid “precisavam de mais vida”. Atualmente o projeto é realizado em Brasília com um grupo de 12 mulheres.
Os métodos utilizados pela atriz são através de expressões corporais e dança cigana. “Não é necessário técnica, rigidez, o intuito é fazer com que elas possam falar do corpo delas por meio da dança, do gesto e da palavra”, diz. A mestranda pretende dar aulas semanais no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Ela já levou as alunas para se apresentarem na Praça do Relógio, em Taguatinga. Quem participa das aulas geralmente são mulheres, mas a intenção é aos poucos conseguir interagir com os homens também.
Prestes a completar um ano, o “Doida de Pedra” existe desde agosto de 2013. Ingrid decidiu iniciar o projeto quando visitou uma mostra artística feita por pacientes psiquiátricos no Rio de Janeiro. “Aquilo me despertou muito sobre a questão de arte e loucura, e voltei pra Recife no intuito de querer trabalhar sobre isso e ver até que ponto isso poderia ir”, ressalta. Começou então uma oficina de arte no hospital Ulysses Pernambucano de Recife. A realização do evento ‘interação, ações performáticas pra doido ver’, é uma mostra mensal que leva artistas aos hospitais para se apresentarem de forma voluntária.
Em Brasília, o ‘Doida de Pedra’ está em exercício há três meses, sendo realizado, segundo Kaline aos poucos por causa da burocracia que é necessária para executar um trabalho como esse dentro de hospitais. Atualmente, a iniciativa está implementada no CAPS de Taguatinga e também do HPAP (Hospital Pronto Atendimento Psiquiátrico) no Hospital São Vicente de Paulo, também em Taguatinga.
Por Karla Pereira e Elisa Whately – Agência de Notícias UniCEUB
