Raízes e memória: quem é e o que pensa o fotógrafo Walter Firmo

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A exposição que esteve disponível no Centro Cultural de Brasília (CCBB) trouxe para a capital as principais obras do fotojornalista Walter Firmo

legenda: Gaudêncio da Conceição, quilombola da comunidade do Angelim, Ticumbi em Festa de São Benedito/ Créditos: Walter Firmo

A exposição “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito”, que passou por Brasília, faz um compilado das principais obras do renomado fotojornalista carioca Walter Firmo. As 266 fotografias expostas no Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília, tiradas desde o início da sua carreira em 1950 até 2021, refletem a realidade da população e cultura negra de diversas regiões do país, retratada em festas religiosas e populares, cenas cotidianas e ritos.

Com a curadoria de Sergio Burgi e Janaina Damaceno, as obras estão divididas em núcleos temáticos, e também trazem personalidades históricas do Brasil como Cartola, Clementina de Jesus, Dona Yvone Lara, Garrincha, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Djavan e a fotografia memorável de Pixinguinha na cadeira de balanço. 

As fotografias ainda registram brasileiros anônimos, pescadores, vendedores ambulantes, mães de santo, brincantes, casais, noivas, crianças e da própria família de Walter, juntamente com fotos de sua juventude. 

A empresária negra Ivone Rodrigues gostou bastante do que viu no CCBB. Ela reforça a importância de eventos como esse para a valorização da cultura negra. “Brasília precisa de mais eventos desse tipo, para que a gente consiga ver mais pessoas pretas expostas em quadros e em situações de mais visibilidade.”, afirma a empresária.

legenda: Walter Firmo em workshop sobre “criatividade na cor”  / Reprodução: Youtube

Sonhos de ser fotógrafo 

Walter nasceu em 1937 na cidade do Rio de Janeiro e desde criança tinha o sonho de virar fotógrafo. No ano de 1955  ele começou no fotojornalismo como aprendiz no jornal Última Hora e trabalhou em diversos jornais e revistas e construindo uma carreira reconhecida e prestigiada.

Walter Firmo, utiliza de recursos estéticos que reforçam o caráter político de sua produção visual, como a encenação, o uso expressivo das cores, o preto e branco, retrato, nomeação dos sujeitos e a temática: tudo importa. Famílias importam, amores importam, cultura importa, cotidiano importa, identidade importa, e celebrar importa muito.

Assim o artista se destacou ao retratar a população preta brasileira no dia a dia mas também , festas,, religiosidade, a música, carnaval e futebol entre outros. Negritude e encantamentos, narrativas e experimentações, esses são os elementos principais retratados nas obras fotográficas de Walter Firmo.

“ Foram os negros que ajudaram a construir esse país e eu queria escancarar a cultura e a relevância da negritude nesses país, e foi por meio da fotografia que eu consegui isso, por que uma foto diz muito por si só”, comentou Walter Firmo durante uma entrevista que cedeu ao curador da exposição Sérgio Burgi que foi exibida na exposição sobre a intenção de seu trabalho, “e eu acredito que como fotógrafo não a nada mais gratificante do que enaltecer o meu povo. Essa é a raiz do meu trabalho. “ finaliza.

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Réplicas de jornais antigos, do “Jornal do Brasil”, para onde Walter fotografou e estavam dispostos na exposição / Créditos: Lara Oliveira

O legado para a fotojornalismo brasileiro 

As obras fotográficas de Walter Firmo, estão inseridas em um contexto da fotografia que é o chamado fotojornalismo, que traz um retrato da realidade da sociedade brasileira. O fotógrafo e professor de fotojornalismo do Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB), Lourenço Cardoso destaca a obra de Firmo, assim como suas fotografias, como um retrato de valorização a população preta do Brasil sem que os colocar de uma forma marginal caricata.

“Ele traz em suas fotografias, relevância de empoderamento de destaque de importância cultural e não apenas dentro de uma perspectiva que coloque os negros da população negra numa situação de vulnerabilidade miséria e exclusão “, afirma o professor.

O professor ressalta a  importância de uma exposição como a de Walter Firmo na sociedade hoje e que mesmo que suas fotografias em maioria não sejam recentes, impactam o contexto social atual.

“Acredito que pensar as fotografias de Walter Firmo na contemporaneidade é que talvez diferente da época em que elas foram realizadas, hoje as narrativas podem ser compreendidas de forma com mais atenção sobre as raízes do povo preto, e também a valorização de figuras ilustres que fizeram a diferença nos campos das artes, na literatura,na música, na luta contra o racismo, movimentos quilombolas e tudo da cultura dos pretos”, explica o professor e ainda completa sobre considerar o trabalho de Walter Firmo visto hoje como uma retomada ao passado. 

“As obras do fotojornalistas vistas hoje, trazem um resgate do passado e hoje, trazendo para o contexto contemporâneo pensar nas obras de Walter Firmo e o impacto na sociedade é de exatamente trazer essa valorização da figura dos pretos, e de todo o esplendor da raça e assim quem sabe ajudar a reescrever a história e figuras como as das fotos da época hoje tenham uma atenção maior e que isso motive a manter viva a história e relevância da população preta no país”, finaliza.

Inclusão e acessibilidade 

legenda: Painel inclusivo para pessoas cegas com descrição em Braille que estava disposto na exposição/ Créditos: Lara Oliveira

Além da forte valorização das figuras pretas nas fotos,a exposição também chama atenção pelo uso de recursos para  inclusão. Algumas obras dispostas no CCBB  foram esculpidas em painéis táteis para deficientes visuais, como exemplo da fotografia  “Maestro Pixinguinha”, em que a imagem era disposta em um painel branco e plano com os traços em relevo e algum volume da cena reportada e descrições em Braille. 

A exposição é fiel a intenção do fotógrafo.“Estou iluminando uma história que eu sobrevivi, e eu quero passar isso adiante e motivar outros a fazer o que eu fiz, mas acima de tudo quero manter viva as raízes do meu povo o povo que com sangue, luta e força ajudaram a levantar esse país”, afirma Walter Firmo  em entrevista com o curador da exposição. 

Por Lara Oliveira e Marco Feitoza

Supervisão Gilberto Costa

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